Aos 82, prefeito eleito de Goiânia volta ao cargo 51 anos depois

"Encerro, portanto, minha trajetória como homem público com a consciência tranquila e o coração em paz. Procurei retribuir como político e ser humano a tudo o que essa cidade e esse Estado me proporcionaram."

Há quatro meses, Iris Rezende (PMDB), 82, parecia resignado. Em carta à população de Goiânia, anunciou o fim da sua carreira política, 58 anos depois de ter começado como vereador na capital de Goiás.

A aposentadoria não durou um mês. Pressionado por aliados e bem posicionado nas pesquisas, recuou: "Enquanto Deus me der vida e saúde, me sinto obrigado a lutar por essa cidade".

No domingo (30), Iris teve 57,7% dos votos contra 42,3% de Vanderlan Cardoso (PSB) e foi eleito para assumir a Prefeitura de Goiânia 51 anos depois de ter sido prefeito da cidade pela primeira vez.

O município completou 83 anos de fundação em outubro, mesma idade que o prefeito eleito fará no fim deste mês.

Mas, ao contrário da Goiânia pacata e predominantemente rural da sua juventude, Iris vai administrar uma metrópole de 1,4 milhão que enfrenta problemas decorrentes do crescimento desenfreado, com carências na saúde e educação e avanço da violência.

Ele vai assumir num cenário de instabilidade política e crise econômica que guarda semelhanças com que ele encontrou há meio século, quando foi eleito prefeito pouco tempo depois do golpe militar de 1964.

Eleito pelo à época oposicionista MDB, Iris encontrou o caixa da cidade no vermelho, e como medida de urgência, aumentou impostos e iniciou mutirões que se tornaram a principal marca de seu governo. "Convidamos, de casa em casa, o marido para levar enxada, a mulher para ajudar na cozinha, os meninos para distribuir água. Mutirão típico da roça", lembra o peemedebista.

Em outro mutirão, levou professores e alunos de odontologia para atender à população: "Foi mais de 1,5 kg de dente extraído", conta.

Mais velho entre os prefeitos eleitos das capitais, Iris promete manter o seu perfil centralizador e rígido, como ele mesmo admite. "Centralizo tudo. Tenho de estar na prefeitura para autorizar. Sempre fui criticado por isso, mas por que deu certo? Porque não dou margem a erro."

Mas ele terá que conviver com aliados que podem dar trabalho, caso do vice-prefeito eleito de Goiânia, Major Araújo (PRP), 50.

Polêmico e com perfil pouco conciliador, Araújo chegou a propor a criação de uma "bolsa-arma" de R$ 1.000 para as pessoas que quisessem comprar armas de fogo, desde que atendesse aos critérios da legislação.

	Arquivo Pessoal
	Iris Rezende em 1966, como prefeito de Goiânia

TRAJETÓRIA

Iris Rezende nasceu e cresceu na roça, na cidade de Cristianópolis, a cerca de 90 km de Goiânia, para onde se mudou em 1949, aos 16 anos.

Aos 25 anos, em 1958, foi o vereador mais votado da capital e se tornou o presidente da Câmara Municipal.

Eleito prefeito em 1965, não chegou a concluir o mandato. Em outubro de 1969, foi cassado pela ditadura militar e teve seus direitos políticos suspensos por dez anos.

O retorno à política ocorreu em 1982, eleito governador. Quatro anos depois, foi ministro da Agricultura no governo José Sarney. Em 1990, voltaria ao governo de Goiás.

A partir de 1998, começou a perder espaço para um novo líder político em ascensão: Marconi Perillo (PSDB). Derrotado para o governo em 1998, voltaria a vencer em 2004, quando voltou à prefeitura. Tentou o governo em 2010 e 2014, sendo derrotado nas duas vezes pelo tucano.

"Não descanso. Nunca passei uma noite como governador ou prefeito sem ter pesadelo na cama", afirma.

Na campanha, chegou a caminhar até 10 km por dia. Agora, nos bastidores, Iris já projeta 2018 para tentar derrotar o grupo de Perillo. Ninguém em Goiás duvida que o próprio Iris possa vir a ser candidato a governador. Com mais uma vitória em seu plantel, está longe de sair de cena.