Capítulo 4

Como a sociedade e as instituições mudaram nesses 10 anos

Naief Haddad  |  Até aqui, falamos principalmente sobre aspectos políticos ligados a junho de 2013. Neste último capítulo, vamos abordar a relação de instituições, como a Polícia Militar de São Paulo e o Ministério Público, com as manifestações de uma década atrás. Essa parte final da série também apresenta alguns dados econômicos e sociais, que mostram que, de modo geral, o Brasil andou de lado nesses dez anos.

SAO PAULO, SP, BRASIL, 13-06-2013 20h34:Conflito entre Manifestantes (pela reducao da tarifa de onibus) e Policia esvazia  regiao da Av Paulista . Cavalaria da PM ocupa av da Consolacao ao lado do cemiterio  (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.COTIDIANO) cavalaria polícia militar pm policial

Cavalaria da PM ocupa rua da Consolação, em SP, em meio aos protestos de junho de 2013 - Eduardo Knapp - 13.jun.2013/Folhapress

  • Polícia Militar de São Paulo

    Avenidas da capital paulista se tornaram um campo de batalha na noite de 13 de junho de 2013 –e um dos lados ostentava nítida vantagem. Aquele momento tem sido lembrado pela violência desmedida dos policiais, que usavam bombas de gás e balas de borracha contra o público.

    “O quarto dia de protestos contra a alta da tarifa de transporte em São Paulo foi marcado pela repressão violenta da Polícia Militar, que deixou feridos manifestantes, jornalistas –sete deles da Folha– e pessoas que não tinham qualquer relação com os atos”, publicou o jornal dez anos atrás.

    De acordo com reportagem de Artur Rodrigues por conta dos dez anos das manifestações, “a violência da PM, avaliam os estudiosos, acabou incendiando os atos e contribuiu para reverter a elevação da tarifa de transporte menos de uma semana depois, além de deixar o establishment político nas cordas”.

MEMÓRIA

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Quarto dia de protestos teve reação violenta da PM

Naquele momento, o que a gente percebeu? Quem estava decidindo quem podia estar na rua e quem não podia, quando podia, quando não podia. A margem de discricionariedade das polícias foi muito grande

SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -06 /10/17 - :00h -  Lançamento de dois índices inéditos elaborados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo instituto de pesquisa Datafolha nesta sexta-feira (06.10): o Índice de Propensão ao apoio a Posições Autoritárias e o Índice de Propensão ao apoio à Agenda de Direitos Civis, Humanos e Sociais.  Diretor Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, . ( Foto: Karime Xavier / Folhapress) . ***EXCLUSIVO***PODER ORG XMIT: AGEN1710061840700984
Renato Sérgio de Lima Diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre o excesso de autonomia da PM durante as manifestações
SAO PAULO, SP, BRASIL, 07-06-2013: Policiais negociam junto aos estudantes a entrada na Av. Paulista. Protesto de estudantes contra o aumento no preço do transporte publico, o Protesto inicio no largo da Batata em Pinheiros e terminou na Av. Paulista. (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO)  ***EXCLUSIVO FOLHA***

#1

Em 7 de junho, policiais negociam com manifestantes a entrada do protesto na av. Paulista - Avener Prado/Folhapress

SAO PAULO, SP, BRASIL, 11-06-2013: Policiais da Forca Tatica enfrentam Manifestantes no Centro. Manifestacao contra o aumento da tarifa de onibus. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, COTIDIANO).

#2

Policiais da Força Tática enfrentam manifestantes no centro de SP no dia 11 de junho - Fabio Braga/Folhapress

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 11-06-2013, 22H00: -- Manifestantes e Tropa de Choque entram em confronto na Avenida Paulista.   --   Estudantes e integrantes do Movimento Passe Livre promoveram protesto na Avenida Paulista e passeata por ruas da Região. É a terceira manifestação depois que a prefeitura aumentou de R$3,00 para R$3,20 a tarifa dos ônibus municipais. No primeiro protesto, também na Avenida paulista, ocorreram fortes confrontos com a polícia e atos de vandalismo.  - (Foto: Juca Varella/Folhapress, COTIDIANO)

#3

Também em 11 de junho, a Tropa de Choque enfrenta os manifestantes na av. Paulista - Juca Varella/Folhapress

SAO PAULO, SP, BRASIL, 13-06-2013: Protesto contra o aumento nas passagens do transporte público. O protesto teve inicio em frente ao teatro municipal e terminou na av. paulista com confronto com a policia militar.  (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO)  ***EXCLUSIVO FOLHA***

#4

Na fatídica noite de 13 de junho, soldados disparam no centro de São Paulo - Avener Prado/Folhapress

SAO PAULO, SP, BRASIL, 13-06-2013: Protesto contra o aumento nas passagens do transporte público. O protesto teve inicio em frente ao teatro municipal e terminou na av. paulista com confronto com a policia militar.  (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO)  ***EXCLUSIVO FOLHA***

#5

Também em 13 de junho, policial com a arma apontada na direção de manifestantes e jornalistas - Avener Prado/Folhapress

RIIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 30-06-2013: Policiais e Manifestantes entram em confronto no cruzamento das avenidas Francisco Xavier e Av. Maracana. Movimentos sociais de se reunem no centro da capital fluminense para seguirem em marcha para o estadio do Maracana onde ha a final da Copa das confederacoes entre Brasil e Espanha. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, FOTO).

#6

Em 30 de junho, confronto entre policiais e manifestantes no cruzamento das avenidas Francisco Xavier e Maracanã, no Rio de Janeiro - Fabio Braga/Folhapress

  • O caso Sérgio Silva

    Em meio ao caos nas ruas de São Paulo naquele dia 13, a repórter da Folha Giuliana Vallone foi atingida no olho por uma bala de borracha, como lembramos no primeiro capítulo dessa série.

    Na mesma noite, o fotojornalista Sérgio Silva sofreu o mesmo tipo de agressão, com uma consequência mais grave: perdeu a visão do olho esquerdo. 

    Silva entrou com uma ação contra o Estado, mas teve um recurso negado neste ano pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, sob alegação de que não existem provas de que ele tenha sido mesmo atingido por uma bala de borracha. "Meu sentimento é de revolta, indignação. Eu não admito ter que ouvir uma decisão dessa sabendo da origem da violência que sofri", afirma.

    Em meados de junho de 2013, o então governador Geraldo Alckmin proibiu o uso de balas de borracha em protestos em São Paulo.

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Alckmin proibiu bala de borracha em protestos em SP

Nem a Polícia Militar nem a Secretaria de Segurança Pública nem o governo do Estado me procuraram. Nem quando eu estava no hospital

SAO PAULO , SP , 29.03.2023 , BRASIL , O novo julgamento do caso do fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu a visão ao ser alvejado por bala de borracha num protesto em 2013, é adiado no Tribunal de Justiça de São Paulo. Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil ORG XMIT: AGEN2303301409251637
Sérgio Silva Fotojornalista que perdeu a visão do olho esquerdo, em entrevista à Folha 3 meses depois da manifestação em que foi atingido

MEMÓRIA

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Minha história: A realidade após perder olho em protesto

OPINIÃO

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Sérgio Silva: Palavras que valem um tiro

O fotógrafo Sérgio Silva, 33, que ficou cego após ser atingido por bala de borracha durante os protestos de junho de 2013. O fotógrafo pede ao secretário de segurança do estado de São Paulo Fernando Grella Vieira que acabe com a bala de borracha. (Foto: Arquivo Pessoal) *** DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM ***

O fotógrafo Sérgio Silva, que ficou cego após ser atingido por bala de borracha durante os protestos de 2013 - Arquivo pessoal

Nós tivemos algum manifestante morto? Nenhum. Tivemos policial morto? Nenhum. Diferente do que acontece em outros países [...] Eu entendo como um saldo positivo, apesar dos danos que ocorreram para várias pessoas

*8mnt3* O comandante-geral da PM de São Paulo, coronel Benedito Meira. Credito Amanda Claudino / Divulgaçao SSP ORG XMIT: AGEN2305291755513692
Benedito Meira Comandante-geral da PM na época

[A PM] agiu [em 2013] para conter pessoas que cometeram atos de vandalismo e danos ao patrimônio público e privado

Trecho de nota da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sâo Paulo enviada à Folha em 202
  • Armas e munição química

    De acordo com dados obtidos pela Folha via Lei de Acesso à Informação, os gastos da PM de São Paulo “com munição química passaram de R$ 15,5 milhões, em 2013, para R$ 26 milhões no ano seguinte, sem contar R$ 2,5 milhões em armas não letais”.

    As despesas desse tipo permanecem altas, e gastos apenas com armas não letais alcançam R$ 20 milhões neste ano.

Sobre policiais militares que com balas de borracha e bombas de efeito moral, agiram com violência para reprimir a quarta manifestação contra a alta da tarifa de transporte em São Paulo

Angeli - 17.jun.2013

Veja trecho de documentário “Junho+10”, da TV Folha

  • Ministério Público

    Diferentemente da Polícia Militar, a Procuradoria teve seus dias de glória durante as Jornadas de Junho. Entre as pautas mais recorrentes de manifestações em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e outras cidades, havia o pedido para que o Congresso Nacional rejeitasse a PEC-37, que tirava o poder de investigação das Promotorias, restringindo-os às polícias.

    No dia 25 de junho, os deputados federais derrotaram a proposta pelo placar de 430 a 9. As ruas demonstravam sua força.

A nossa leitura da época era de um clima muito positivo para a aprovação da PEC [antes das manifestações]. Houve naquela época um crescimento significativo da bancada de policiais, ao mesmo tempo em que membros da magistratura e do Ministério Público não podiam mais concorrer. Bateu o desespero em muita gente [contrária à PEC]

BRASILIA, DF,  BRASIL,  14-05-2021, 12h00: O novo presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), Ubiratan Cazetta, posa para fotos na sede da associação, na PGR. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO*** ***ESPECIAL*** ORG XMIT: AGEN2105141614433482
Ubiratan Cazetta Presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República)

MEMÓRIA

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Para 'ouvir as ruas', Câmara rejeitou a PEC 37

SAO PAULO - SP - 21.06.2013 - Protesto contra a PEC-37 na catedral da Se. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO)

Protesto contra a PEC-37 na praça da Sé, em São Paulo - Danilo Verpa - 21.jun.2013/Folhapress

  • Impulso para a Lava Jato

    Como escreveu o repórter Italo Nogueira, “a agenda positiva do Congresso se estendeu nos meses seguintes, com a aprovação das leis anticorrupção e sobre organizações criminosas. A primeira criou os marcos dos acordos de leniência e a segunda, da colaboração premiada, principais instrumentos da Operação Lava Jato, iniciada um ano depois”.

    Como falamos no primeiro capítulo desta série, essas decisões foram tomadas pela presidente Dilma poucas semanas depois da eclosão dos protestos. Ela estava sob pressão para endurecer a legislação anticrime.

    Essas leis foram essenciais para o desenrolar das investigações da Lava Jato, segundo Deltan Dallagnol (Podemos), ex-coordenador-chefe da força-tarefa no Paraná e deputado cassado.

ENTENDA

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Folha explica: A Operação Lava jato

SÃO PAULO, SP, 24.10.2017: FÓRUM-SP - O juiz federal Sérgio Moro e o procurador federal e coordenador da Lava Jato no MPF, Deltan Dallagnol, no Fórum Mãos Limpas & Lava Jato, promovido pelo jornal Estado de São Paulo em São Paulo. (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)

O então procurador federal Deltan Dallagnol e o juiz Sergio Moro no fórum Mãos Limpas & Lava Jato, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, em outubro de 2017 - Jorge Araújo - 24.out.2017/Folhapress

Não teria ocorrido a Lava Jato sem 2013 porque, como resposta aos protestos, houve uma modificação legislativa que permitiu a operação: o instituto da delação premiada, definido com maior clareza. Só que a Lava Jato, a rigor, não produziu mudança institucional duradoura. Ela produziu um enorme chacoalhão e depois degenerou o processo

S‹o Paulo 11/12/2017-O cientista politico Sergio Fausto no lancamento do livro
Sérgio Fausto Cientista político, em entrevista ao Valor
  • Breque

    O Judiciário, o Legislativo e o Executivo decidiram, no entanto, brecar os avanços da Lava Jato, que havia se tornado a grande vitrine do Ministério Público. 

    Conforme reportagem da Folha, “o STF (Supremo Tribunal Federal), que no início da operação referendou boa parte dos atos de investigação de Curitiba, passou a impor derrotas aos procuradores. Vetou o uso da condução coercitiva, alterou o entendimento sobre prisão após condenação em segunda instância, e passou a rejeitar a atribuição de Moro nas ações penais”.

    O Congresso, por sua vez, aprovou a lei de abuso de autoridade, em 2019. No mesmo ano, o pacote anticrime alterou as regras para a assinatura de acordos de colaboração.

    O governo Bolsonaro também contribuiu para dar fim à operação, como escreveu Celso Rocha de Barros, colunista da Folha, em outubro do ano passado: “Finalmente, pergunte para os procuradores da Lava Jato que não viraram políticos quem matou a operação: foi Jair Bolsonaro. Os procuradores discordam bastante da tese de que Jair fez isso porque a corrupção acabou. Os principais aliados de Bolsonaro em 2022 são direitistas que foram denunciados junto com o PT, e hoje vivem uma era de ouro”. 

    Vale lembrar que Sergio Moro foi o primeiro ministro da Justiça de Bolsonaro. Para alguns analistas, essa foi uma das armas do governo para enterrar a operação de uma vez por todas.

OPINIÃO

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C. Rocha de Barros: Antipetistas devem votar em Bolsonaro?

MEMÓRIA

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Moro e Bolsonaro: encontros e desencontros

Charge publicada na página A2 do jornal Folha de S.Paulo em 11 de junho de 2019 sobre as mensagens que o ministro da Justiça, Sergio Moro, trocou com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba (PR), que mostra que os dois trocavam colaborações quando integravam a força tarefa da Operação Lava Jato. (Laerte/Folhapress)

Laerte - 10.jun.2019

Não podemos generalizar, mas em algumas situações houve uso deturpado desses instrumentos, em especial da colaboração premiada. A lei estabelecia que não podia condenar ninguém com base na delação. Mas se começou a decretar prisão preventiva, busca e apreensão e oferecimento de denúncias apenas com base na delação. O que é um erro. Foi uma interpretação abusiva da lei

SAO PAULOS/ SP, BRASIL, 11-08-2022:  Pierpaolo Bottini, advogado,na cerimônia para a leitura de manifesto pela Democracia, na Faculdade de Direito da USP.   (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress, MONICA BERGAMO)***EXCLUSIVO**** ORG XMIT: AGEN2208111719817508
Pierpaolo Bottini Advogado
  • Evangélicos

    Além de instituições como essas que citamos, junho de 2013 envolveu setores expressivos da sociedade, como os evangélicos. É a repórter Anna Virginia Balloussier quem lembra: “Era 5 de junho, duas semanas antes dos protestos mais volumosos que tomaram as ruas do país. Dezenas de milhares de fiéis se reuniram numa quarta à tarde, em frente ao Congresso, em ato orquestrado por um personagem fulcral para o enlace entre bolsonarismo e evangélicos”.

    O nome a que a jornalista se refere é o pastor Silas Malafaia, à frente daquela mobilização que reuniu milhares de pessoas contra o projeto de lei 122, que criminalizava a homofobia.

    Além de Malafaia, estavam no palco Jair Bolsonaro, então deputado federal, e outros parlamentares ligados ao universo evangélico, como Marco Feliciano e Magno Malta.

MEMÓRIA

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Silas Malafaia: homossexuais querem superproteção das leis

BRASILIA,DF, BRASIL,  05-06-2013, 17h00:  Pastor Silas Malafaia e outras lideranças evangélicas promovem manifestação contra a liberação do casamento gay e em favor da liberdade de expressão religiosa, na Espanada dos Ministerios .  (Foto: Sergio Lima/Folhapress, PODER)

Pastor Silas Malafaia e outras lideranças evangélicas promovem manifestação contra projeto que criminalizava a homofobia, na Esplanada dos Ministérios - Sérgio Lima - 5.jun.2013/Folhapress

  • Igreja e política

    Idealizador da Marcha para Jesus, cuja primeira edição aconteceu em 1993, o apóstolo Estevam Hernandes afirma que "a igreja adquiriu maior consciência política" nesses dez anos. Para ele, junho de 2013 influenciou a eleição de Bolsonaro cinco anos depois. "Havia um clamor por mudanças, e tinha essa expectativa por um nome conservador."

    De acordo com a antropóloga Jacqueline Moraes Teixeira, professora da UnB com pesquisas em religião, 2013 foi "um ano muito central e estratégico quando pensamos em como algumas pautas começaram a circular de maneira mais capilar no segmento [evangélico]".

    Teve início nesta época a difusão de versões como a que dizia que as igrejas eram perseguidas pelo PT, partido então no poder.

BRASÍLIA, DF, BRASIL, 04-06-2013: Marcha contra o aborto no eixo monumental, em Brasília (DF). A marcha reuniu 6 mil pessoas (de acordo com a PM), ato foi capitaneado por católicos, mas teve participação de evangélicos e espíritas.  (Foto: Sergio Lima/Folhapress, PODER)

Marcha contra o aborto no eixo monumental, em Brasília, que aconteceu um dia antes do ato liderado por Silas Malafaia - Sergio Lima - 4.jun.2013/Folhapress

Fui matéria do Jornal Nacional por meses seguidos. Fui capa da revista IstoÉ, entrevistado da Veja e da extinta Playboy. [Muitos] programas de TV [...] Sacudiram minha vida. Protestos com beijos gay dentro das igrejas. A igreja se levantou, e nesse dia [5 de junho de 2013] mostramos nossa força

25.05.2023 - Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) criada para investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro realiza reunião para instalação, eleição do presidente, vice e indicação do relator. 

A CPMI é formada por 16 senadores e 16 deputados federais titulares, com igual número de suplentes de cada Casa e vai investigar a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília. 
 
À bancada, em pronunciamento, deputado pastor Marco Feliciano (Podemos-SP).

Foto: Pedro França/Agência Senado ORG XMIT: AGEN2305251638996077
Marco Feliciano Deputado federal
  • Índices da economia

    Em meio aos debates sobre junho de 2013 e seus possíveis desdobramentos, uma das perguntas recorrentes é: o país melhorou do ponto de vista econômico e social desde então?

    Dados da economia mostram que mudou muito pouco de lá para cá, o que certamente não é um bom sinal. A renda média do brasileiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), era de R$ 2.783 no trimestre que vai de fevereiro a abril de 2013; foi de R$ 2.946 no mesmo intervalo neste ano. 

    A taxa de desemprego do primeiro trimestre de uma década atrás era de 8,1%; o mesmo período neste ano registrou 8,8%.

    Ao menos, a inflação está mais baixa considerando o IPCA acumulado de 12 meses em maio de cada ano. Alcançava 6,5% em 2013 e agora não chega a 4%.

Sobre com derrocada dos investimentos e desânimo no consumo, os brasileiros ficaram mais pobres no ano de 2014, o que pôs fim à política econômica iniciada em 2009

Jean Galvão - 29.mar.2015

  • Recortes sociais

    Entre os dados socioeconômicos, há uma alteração positiva em relação à mortalidade infantil. Em 2013, foram 14,4 óbitos por 1.000 nascimentos; em 2021 (ano dos dados mais recentes), o país teve 11,2 óbitos.

    Por outro lado, a fome aumentou. Segundo pesquisa global Gallup realizada desde 2006 em cerca de 160 países, a taxa de insegurança alimentar na população brasileira dobrou a partir de 2014. Nesse ano, atingiu 17% da população; em 2021 (ano dos dados mais recentes), alcançou 36%.

    No IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), calculado pela PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil anda de lado. O índice oscilou de 0,750 em 2013 para 0,754 em 2021.

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Especial: Desigualdade global ameaça democracia

Sv£o Paulo, BRASIL. 23/06/2019. Pertences de moradores de rua ocupam uma calvßada embaixo do Minhocv£o em Sv£o Paulo. Ao fundo um grafite ironizando a relavßv£o entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente norte-americano Donald Trump. ( Foto: Lalo de Almeida/ Folhapress ) MUNDO  *** EXCLUSIVO FOLHA*** ORG XMIT: AGEN1907250755921133

Pertences de moradores de rua sob o Minhocão, em São Paulo; ao fundo, um grafite ironiza a relação entre o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o mandatário norte-americano Donald Trump - Lalo de Almeida - 23.jun.2019/Folhapress

É preciso aproveitar os dez anos de junho de 2013 para refletir sobre a força da sociedade organizada em favor dos direitos e da redução das desigualdades e não repetir o erro de acreditar que basta a presença nas instituições para tornar nosso país mais igualitário e solidário

Josué Medeiros e Natália Szermeta Cientista político e professor da UFRJ e advogada e militante do MTST, em artigo publicado no blog Desigualdades
  • Passe livre

    Em relação ao transporte público, um dos temas centrais de junho de 2013, a bandeira do passe livre “saiu do status de utópica e entrou no vocabulário de políticos de diversas matizes ideológicas”, escreve o repórter Artur Rodrigues.

    “O transporte público gratuito, realidade em apenas dez cidades antes de junho de 2013, chegou a 74. Na esteira da corrida eleitoral do ano que vem, capitais também estudam adotar a medida.”

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 07-06-2013: País em Protesto: Manifestantes picham ônibus durante manifestacao contra o aumento da tarifa do transporte, em São Paulo (SP). (Foto: Fabio Braga/Folhapress, COTIDIANO)

Manifestantes picham ônibus durante manifestação contra o aumento da tarifa do transporte, em São Paulo - Fabio Braga - 7.jun.2013/Folhapress

  • Na espera

    Havia nas manifestações de 2013 um barulho antipolítica, que impulsionou, de certa forma, a extrema direita nos anos seguintes. Mas também eram fortes os gritos por uma nova agenda social, que abarcava o transporte público, claro, e ainda educação e saúde. 

    Em artigo na Folha, Julio Lopes, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, escreve que o “legado político [da onda de protestos] foi destacar os serviços básicos de mobilidade urbana, cuidado da vida e formação humana como funções sociais da cidade —cujo destaque, desde antes de junho de 2013 em pesquisas de opinião, continua aguardando se tornarem agenda política de governos no Brasil”.

    Nesse sentido, prevalece a frustração.

BRASILIA - DF, 20/06/2013  ? PROTESTO/BRASILIA ? Manifestantes de vários seguimentos protestam na Esplanada dos ministérios e em frente ao Congresso Nacional.Foto: Roberto Jayme/UOL*******EMBARGADO PARA USO EM INTERNET******* ATENCAO: PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZACAO DO UOL

Manifestantes em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, em 2013 - Roberto Jayme - 20.jun.2013/UOL

  • Lições de junho de 2013

    No documentário “Junho+10”, recém-lançado pela TV Folha, a socióloga e colunista da Folha Angela Alonso e o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) indicam as lições que junho de 2013 deixa para o Brasil de 2023.

    “O perigo de sair à rua com uma insatisfação geral, sem pauta, é involuntariamente sair à rua contra a democracia. É preciso saber o que se quer e é preciso também que o pedido seja politicamente possível de ser atendido. Se não for assim, você está pedindo a troca de regime”, afirma Kataguiri.

    Para Alonso, “toda vez que a esquerda se divide, a direita ganha. Essa lição não foi aprendida. A gente vê agora movimentos à esquerda pressionando o governo federal em diferentes frentes quando o governo tem que enfrentar um inimigo muito mais forte do outro lado”.

Veja documentário completo da TV Folha

  • Junho de 2013 não deve ser esquecido, tampouco visto como um fenômeno que, sendo tão complexo, torna-se indecifrável. Aquela ebulição de insatisfações deixou lições, é hora de o país fazer o dever de casa.

    Obrigado pela leitura.

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 17-06-2013: País em Protesto: Manifestantes atravessam a ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira, sobre o rio Pinheiros, durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, em São Paulo (SP). (Foto: Lalo de Almeida/Folhapress)

Manifestantes passam por ponte estaiada sobre o rio Pinheiros em protesto em junho de 2013 - Lalo de Almeida - 17.jun.2013/Folhapress

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