Capítulo 3

Onde estão os protagonistas de junho de 2013

Naief Haddad  |  Alguns líderes das manifestações contra a ditadura militar em 1968 se notabilizaram na política brasileira nas décadas seguintes. Um exemplo é o então presidente da União Metropolitana dos Estudantes (UME), Vladimir Palmeira, que teve dois mandatos como deputado federal a partir da redemocratização.  Em 1992, quando os caras pintadas saíram às ruas para pedir o impeachment de Fernando Collor, Lindbergh Farias se destacou como presidente da União Brasileira dos Estudantes (UNE). Nos anos posteriores, foi deputado por dois mandatos, prefeito de Nova Iguaçu (RJ) e senador, sempre pelo PT. Hoje, é mais uma vez deputado. Nenhum dos expoentes das Jornadas de Junho, que surpreenderam o país dez anos atrás, tem papel de relevo na política nacional hoje. Nesse aspecto, junho não se afasta só de outras grandes mobilizações da história recente do país. Essa característica também diferencia o Brasil de 2013 de manifestações expressivas no mesmo período em países como o Chile –o presidente Gabriel Boric ganhou projeção nos atos de 2011. Afinal, por que isso acontece? No mais, quem foram os protagonistas de 2013 e o que eles fazem hoje?

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 09-10-1968: O estudante Vladimir Palmeira no Crusp, em São Paulo (SP). (Foto: Cícero/Acervo UH/Folhapress)

Vladimir Palmeira em São Paulo em outubro de 1968, quando era presidente da União Metropolitana dos Estudantes (UME); três meses antes, ele havia liderado a Passeata dos 100 Mil, no Rio - Cícero - 9.out.1968/Acervo UH/Folhapress

ORG XMIT: 161901_0.tif SÃO PAULO, SP, BRASIL, 25-08-1992, 14h07: A cantora Fafá de Belém com Luiz Lindbergh Farias Filho, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), durante manifestação pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. (Foto: Ormuzd Alves/Folhapress - Negativo: SP 10159-1992)

Lindbergh Farias, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), com a cantora Fafá de Belém durante manifestação pelo impeachment de Collor - Ormuzd Alves - 25.ago.1992/Folhapress

  • Batucada sim, carro de som não

    Até a eclosão de 2013, os atos que tomavam as ruas do país tinham, em geral, uma hierarquia clara, uma série de ações planejadas, bandeiras e faixas partidárias, e carros de som. Em junho daquele ano, o Brasil tomou contato com uma outra forma de protesto, bem diferente.

    Na avaliação da socióloga Maria da Glória Gohn em entrevista ao repórter Joelmir Tavares, “junho legou a ascensão do ativismo —mais autônomo, com atuação em rede e valorização da vivência corporal na defesa de causas—, em contraposição ao modelo da militância —feita por movimentos e sindicatos, com estruturas mais verticais e agendas previsíveis”.

    Não que manifestações como essas que a  professora aposentada da Unicamp descreve não existissem antes de 2013, mas não tinham até então a projeção que conquistaram naquele momento.

Junho de 2013 ajudou a popularizar formas de mobilização mais horizontais, em que a batucada tem papel fundamental, em que o jogral é essencial

Sarah de Roure, da Marcha Mundial das Mulheres
Sarah de Roure Da Marcha Mundial das Mulheres, em entrevista para a série documental “Junho 2013, o Começo do Avesso"
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 11-06-2013, 19H00: - Manifestantes na descida da Av. Consolação. - Estudantes e integrantes do Movimento Passe Livre promoveram protesto na Avenida Paulista e passeata por ruas da Região. É a terceira manifestação depois que a prefeitura aumentou de R$3,00 para R$3,20 a tarifa dos ônibus municipais. No primeiro protesto, também na Avenida paulista, ocorreram fortes confrontos com a polícia e atos de vandalismo.  - (Foto: Juca Varella/Folhapress, COTIDIANO)

Depois de passar pela av. Paulista, estudantes e integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) descem a rua da Consolação em direção ao centro de São Paulo - Juca Varella - 11.jun.2013/Folhapress

Grupos autonomistas, puxados pelo MPL, deram a ignição, com protestos performáticos (catracas queimadas), horizontalismo (negação da hierarquia de gênero e de liderança política), estética anarquista e símbolos das manifestações por justiça global, com defesa de práticas autossustentáveis, comunitárias e libertárias

Sao Paulo - 04.05.2017 - RETRATO COLUNISTAS -  Colunista Angela Alonso. Foto: KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS *** colunista up *** ORG XMIT: AGEN1705052325533020
Angela Alonso Em coluna na Folha em 2018, quando as Jornadas de Junho completaram cinco anos

OPINIÃO

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A política das ruas, por Angela Alonso

  • Longe da política partidária

    Como escreveu o sociólogo Celso Rocha de Barros, “autonomistas e anarquistas, como seria de se esperar, não investiram em construir partidos ou grandes organizações. Os pequenos partidos de esquerda que ajudaram a organizar os protestos de 2013, como o PSOL e o PSTU, não ganharam muitos votos por isso”.

    Siglas como essas citadas pelo colunista não tiveram papel preponderante no movimento como um todo.

    Vale a pena lembrar ainda o comentário da cientista política e colunista da Folha Camila Rocha, que destacamos no primeiro capítulo desta série. “No caso dos movimentos autonomistas, como o MPL, é difícil haver uma continuidade porque a ideologia deles impede uma aproximação do sistema político.”

    Em suma, muitos desses jovens que fizeram com que aquele sentimento de insatisfação se irradiasse pelo país se opunham à política institucional.

    Eles tinham maior identificação com doutrinas de esquerda, mas não ambicionavam assumir postos de liderança em partidos como PT ou PSOL, o que, em grande parte, explica não termos figuras como Nina Capello ou Sininho no Congresso Nacional.  

Celso Rocha de Barros

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  • Nina Cappello

    A catraca simbolizava o lucro dos empresários de transporte, segundo Nina Cappello, uma das integrantes do MPL que se tornou conhecida naquela época. Daí a praxe de queimar objetos que simulavam uma catraca de ônibus nas mobilizações organizadas pelo movimento.

    A então estudante de direito chegou a participar do Roda Viva, da TV Cultura, para falar em nome dos manifestantes. Hoje, é defensora pública em Goiás, como publicado em reportagem assinada pelos repórteres Angela Pinho, Artur Rodrigues, Angela Boldrini, Italo Nogueira e Joelmir Tavares.

Lucas Monteiro e Nina Cappello participam de entrevista no programa Roda Viva em 2013 - (Foto: Reprodução/TV Cultura)

Nina Cappello e Lucas Monteiro, o Legume, participam do programa Roda Viva, em 2013 - Reprodução/TV Cultura

  • Em 2022, o nome de Nina aparecia ao lado do de outros defensores em um requerimento justamente em defesa do passe livre —desta vez, para facilitar a chegada dos eleitores às urnas.

Sao Paulo - SP -  Manifestantes  que participaram de passeata e ato publico pedindo Fora Alckmin e melhoria nos transportes, incendeiam catraca, nas ruas do centro.  14.08.2013.  (Foto Marlene Bergamo/Folhapress)

Manifestantes colocam fogo em catraca nas ruas do centro de São Paulo em agosto de 2013 - Marlene Bergamo - 14.ago.2013/Folhapress

  • Lucas Monteiro, o Legume

    Lucas Monteiro, mais conhecido pelo apelido de Legume, estava ao lado de Nina no programa da TV Cultura. 

    Ele e seus colegas do MPL, afirma, “tinham uma clareza bem grande de que a perspectiva de transformação que a gente defendia da sociedade não era uma transformação vinda de cima para baixo, dos meios institucionais ou do Parlamento". 

    A volta à vida "normal" após a sequência de protestos só foi possível porque o MPL de São Paulo organizou uma rede jurídica de proteção aos militantes, conta Legume à TV Folha. "Foi isso que permitiu que a gente não fosse perseguido ou perdesse os empregos, por exemplo. Não foi o que aconteceu no Rio de Janeiro, onde os militantes foram duramente perseguidos, tiveram uma exposição devastadora."

    Legume deixou o MPL e hoje é professor de história no ensino fundamental de uma escola particular em São Paulo.

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Dissidente 'decretou' fim do MPL e gerou crise interna

Veja trecho de entrevista de Legume à TV Folha há 10 anos

Veja trecho de entrevista de Legume à TV Folha em 2023

  • Mayara Vivian e Marcelo Hotimsky

    Depois de participar de encontro com a então presidente Dilma Rousseff, Marcelo Hotimsky, outro integrante do MPL, afirmou que a Presidência era "despreparada" no tema do transporte público. Ele se formou em filosofia pela USP e passou a trabalhar em defesa dos povos indígenas.

    Mayara Vivian também estava nessa reunião no Palácio do Planalto. De acordo com ela, uma questão importante no movimento era não personalizá-lo, para evitar o risco de despolitização.

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Para o MPL, não havia clima para torcer para a seleção

SÃO PAULO, SP, 18.06.2013: TARIFA/REUNIÃO ? Reunião extraordinária entre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, com o Conselho da Cidade para discutir o transporte público na capital paulista. O Movimento Passe Livre (MPL) foi convidado para fazer uma apresentação. (Foto: Diogo Moreira/Frame/Folhapress)  *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***

Mayara Vivian participa de reunião com o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o conselho da cidade para discutir o transporte público - Diogo Moreira - 18.jun.2013/Frame/Folhapress

  • Mayara hoje é coordenadora de programas sociais da Casa do Povo, no Bom Retiro, em São Paulo.

Veja trecho de entrevista de Mayara à TV Folha em 2023

  • Sininho

    Elisa Quadros, a Sininho, se tornou a figura mais conhecida entre os manifestantes do Rio de Janeiro naquela época. No segundo semestre de 2013, ela participou do Ocupa Câmara, formado por dezenas de ativistas que montaram barracas aos pés da escadaria da Câmara Municipal do Rio.  

    A pauta inicial do grupo estava associada ao transporte público, mas acabou se diversificando, como ocorreu nas demais grandes cidades do país, assunto explorado no primeiro capítulo desta série.

    Reportagem da Folha da época chamava a atenção para a variedade de cartazes pendurados na fachada do prédio: "fora Cabral, vá com Paes e Dilma (de uma) vez", "cadê o Amarildo?", "petróleo 100% estatal" e "saúde pede socorro". Eles também se opunham à demolição da Aldeia Maracanã.

    No Rio, a jornada de protestos se estendeu de junho de 2013 a julho de 2014, mês da final da Copa do Mundo. Ao longo desse período, 23 ativistas, entre eles, Sininho, foram condenados sob acusação de preparar atos violentos. Todos recorreram da decisão.

    Nos anos seguintes, Sininho se manteve na militância em movimentos sociais e passou a trabalhar com marcenaria em Nova Friburgo, na região serrana do Rio.

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Contra tudo, grupo acampava há 52 dias no Rio

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Presa no RS, ativista Sininho foi levada para o Rio

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Índios retomaram Aldeia Maracanã, estopim de protestos

RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 09-02-2014: A ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, na delegacia onde o tatuador Fábio Raposo Barbosa está preso, no Rio de Janeiro (RJ).  Fábio é acusado de passar um rojão para outro manifestante que acabou atingido o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade.  (Foto: Simone Marinho/Agência O Globo_ ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

A militante Sininho em delegacia do Rio em fevereiro de 2014 - Simone Marinho - 9.fev.2014/Agência O Globo

  • Guilherme Boulos

    Entre os ativistas mais ligados à esquerda com presença constante na onda de protestos de 2013, Guilherme Boulos não teve tanta visibilidade quanto os nomes que acabamos de citar. Talvez seja exagero tratar o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) como protagonista naquele contexto.

    Foi, no entanto, um coadjuvante de expressão em meio a tantas alterações nos cenários político e social.

    Conforme reportagem da Folha, “a ascensão de Boulos como voz do campo progressista é creditada por aliados a portas que 2013 abriu, tanto pela emergência de pautas populares, como a questão habitacional, quanto pela necessidade de forjar líderes aptos a enfrentarem medidas de governos de direita eleitos nos últimos anos”.

    Nos anos seguintes, o coadjuvante ocupou o centro da cena enquanto os protagonistas, aos poucos, deixaram o palco. Ao contrário de ativistas como Nina Cappello e Sininho, Boulos aderiu à política partidária, filiando-se ao PSOL, e foi bem-sucedido. 

    Chegou ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2020, perdendo para o candidato à reeleição, Bruno Covas. Dois anos depois, Boulos foi eleito deputado federal, com a maior votação entre os políticos de São Paulo que buscavam uma cadeira no Congresso Nacional.

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TV Folha acompanhou ocupação do MTST

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 16-11-2013: Guilherme Boulos (centro), 31, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e da Frente de Resistência Urbana, conversa com integrantes do movimento no despejo dos 350 moradores que estao na Ocupação Estaiadinha, na Marginal Tietê, em São Paulo (SP). (Foto: Tercio Teixeira/Folhapress, NAS RUAS)

Em novembro de 2013, Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST, conversa com integrantes do movimento em meio ao despejo de 350 moradores que estavam na Ocupação Estaiadinha, na marginal Tietê, em São Paulo - Tercio Teixeira - 16.nov.2013/Folhapress

  • Black blocs

    "Black bloc é uma forma de protesto, não um grupo organizado", explica a socióloga Esther Solano em texto assinado por Arthur Rodrigues e Angela Pinho. Feita a ponderação, não há como excluir os adeptos da tática desse capítulo dedicado às figuras centrais das Jornadas de Junho.

    Como dizia a reportagem, “o surgimento de jovens mascarados que depredavam lojas, bancos e veículos durante protestos contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo surpreendeu a polícia e dividiu manifestantes em junho de 2013”.

    Muitos usavam máscaras pretas; outros optavam pela do V de Vingança.

    Os black blocs voltaram a deixar suas marcas em outros protestos no Brasil nos anos seguintes, como os atos contra a Copa do Mundo, em 2014, e as manifestações que pediam o impeachment de Michel Temer, entre 2016 e 2017. Houve confrontos com a Polícia Militar em muitos desses episódios.  

    Ainda segundo o texto da Folha, “os grupos foram alvos de inquéritos e processos em vários estados do país, mas, na maioria dos casos, acabaram sem punição ou com penas brandas. Isolada por setores de esquerda, esse tipo de prática acabou perdendo a força nos últimos anos”.

Sobre

João Montanaro - 3.ago.2013

Em 2013, eles eram jovens de diferentes perfis, locais diferentes da cidade, que não tinham uma organização coesa, centralizada, mas que se juntavam nas manifestações com o objetivo de fazer o protesto com depredação do patrimônio com a estética da máscara, que tem a ver com a ideia do anonimato

SÃO PAULO, SP, 27.03.2023 - A socióloga Esther Solano no salão de festas de seu apartamento em Moema, na zona oeste de São Paulo. Esther é socióloga, com mestrado e doutorado pela Universidade Complutense de Madri, é professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). É autora, entre outros livros, de ?The Bolsonaro Paradox ? The Public Sphereand Right-Wing Counterpublicity in Contemporary Brazil ORG XMIT: AGEN2303272103049499
Esther Solano socióloga e coautora do livro "Mascarados: A Verdadeira História dos Adeptos da Tática Black Bloc", com Bruno Paes Manso e Willian Novaes
SAO PAULO - SP - 11.10.2013 - Portesto de Black Blocs pela educacao se juntou no Teatro Municipal e seguiu ate a Paulista. Nao houve confronto com a policia.  (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO)

Com máscaras pretas, uma das suas marcas, adeptos da tática black bloc participam de protesto em São Paulo - Danilo Verpa - 11.out.2013/Folhapress

  • Marcello Reis

    Era natural que ativistas de perfil conservador também se destacassem à medida que as manifestações ganhavam configurações múltiplas e se voltavam “contra tudo”. Em São Paulo, é provável que nenhum nome à direita –embora não se reconhecesse como tal naquela época– tenha conseguido tanta visibilidade quanto Marcello Reis, líder do Revoltados On Line. 

    Fundada em 2006, com o objetivo de denunciar a pedofilia, a organização só conseguiu obter maior projeção em meio aos protestos de 2013, quando o seu foco era outro, a corrupção. Reis levava às manifestações uma faixa de 5 m (“Lula, o câncer do Brasil – investiguem o chefe da quadrilha”) e, não raro, irritava militantes da esquerda.

    O Revoltados On Line teve seu ápice durante os protestos pelo impeachment de Dilma. Em agosto de 2016, o Facebook apagou a página do grupo, que tinha 2 milhões de seguidores. Dois anos depois, Reis se candidatou a deputado estadual pelo PSL (mesmo partido de Bolsonaro naquela época), mas não foi eleito.

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As vertentes dos movimentos contra Dilma

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O ostracismo do maior revoltado online

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 29-11-2014, 14h51: Marcello Reis, do grupo Revoltados Online, mosta cartaz em apoio a Polícia Federal, durante ato contra a presidente Dilma e o PT, em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo), na av Paulista, em São Paulo (SP). (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, Cotidiano)

Marcello Reis, do grupo Revoltados On Line, com cartaz de apoio à Polícia Federal, durante ato contra a presidente Dilma Rousseff na av. Paulista - Eduardo Knapp - 29.nov.2014/Folhapress

  • Carla Zambelli

    Uma das criadoras do Nas Ruas, fundado em 2011, Carla Zambelli esteve nos protestos de 2013, mas não causou tanto alarde quanto Marcello Reis.

    Ao repórter Joelmir Tavares, ela diz que o Nas Ruas contribuiu para ampliar o coro de queixas nas manifestações, avançando além da crítica ao aumento das tarifas de transporte.

    Nos anos seguintes, o grupo de Zambelli teve papel decisivo na organização das mobilizações contra Dilma. “O movimento de 2013 foi o estopim para o impeachment”, afirmou ela na série documental “Junho 2013, o Começo do Avesso”.

    Curiosamente, a ascensão de Zambelli se deu em paralelo ao declínio de Reis. Bolsonarista de carteirinha, foi eleita deputada federal em 2018 e reeleita quatro anos depois.

SAO PAULO - SP- 13.12.2015 -  Carla Zambelli. Bastidores do Pixuleko e Bandilma para o próximo protesto deste domingo contra o PT e a presidente Dilma.. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER) Trax ID: 10049053A Caption Writer: 1547 ORG XMIT: Pixuleko e Bandilma

Carla Zambelli, à frente do movimento Nas Ruas, durante protesto contra Dilma em dezembro de 2015 - Danilo Verpa - 13.dez.2015/Folhapress

  • Wanderlei Vignoli

    Eventos de peso histórico deixam registros visuais para a posteridade. No caso de 2013, uma foto muito lembrada mostra o soldado da Polícia Militar Wanderlei Vignoli. Victor Dragonetti, conhecido como Drago, é o autor da imagem.   

    Como conta o repórter Arthur Rodrigues, “em um dos primeiros atos contra o aumento da tarifa do transporte, no dia 11 de junho, ele tentou evitar uma pichação e acabou agredido por manifestantes. A imagem do policial ferido é tida como um dos possíveis combustíveis dos agentes de segurança nos atos seguintes”.

    Dez anos depois, Vignoli ressalta a herança positiva dos protestos de 2013. “Retirando as coisas negativas, as pessoas que foram prejudicadas, se machucaram, retirando a depredação de prédios públicos, ônibus, pensando nas coisas positivas, eu entendo que o país cresceu. [...] Então, hoje, muitas vezes está sendo votada a modificação de uma lei ambiental, o governo tem maior cuidado com a repercussão. Vamos supor, tem um aumento da passagem, o prefeito ou o governador vão fazer um estudo maior para saber se realmente é necessário”.

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 11-06-2013: País em Protesto: policial Militar aponta arma de fogo para se defender de agressores, durante manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus, próximo a praça da Sé, em São Paulo (SP).  Testemunhas relatam que o policial quase foi linchado pelos participantes do protesto. A imagem ?PM ferido afasta agressores?, publicada na ?Primeira Página?, venceu o Prêmio Esso de Fotografia. O autor é Victor Dragonetti Tavares, o Drago, do grupo SelvaSP. A foto foi veiculada com exclusividade pela Folha. O trabalho ?Atratividade (Foto: Drago/selvaSP) *** DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM ***

O policial Wanderlei Vignoli em junho de 2013; hoje é aposentado da PM, atuando como advogado - Drago/selvaSP

  • Silvio Mota

    Outra imagem famosa da época, que chegou à primeira página de jornais como o New York Times, mostra o juiz aposentado Silvio Mota encarando policiais da Tropa de Choque, em Fortaleza.

    "Aquela camisa verde e amarela não era da seleção, não. Era do Ministério Público", contou Mota ao repórter Italo Nogueira. Uma das pautas daquela série de protestos se opunha à PEC 37, proposta que tirava poder de investigação do órgão. A ideia, em discussão no Congresso Nacional naquele momento, acabou sendo arquivada sob a pressão das manifestações.

País em Protesto: manifestante encara a tropa da polícia nos arredores do estádio do Castelão, antes da partida entre a Seleção da Espanha contra Seleção da Itália, em jogo válido pela semifinal da Copa das Confederações, em Fortaleza (CE). Os manifestantes marcharam até uma barreira policial que impedia o acesso ao estádio e, por volta das 14h, parte deles começou a atirar bombas caseiras, coquetéis molotov, pedras e paus nos policiais militares. A PM revidou com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.*** A man stands facing riot police holding shields before the Confederations Cup semi-final soccer match between Spain and Italy at the Estadio Castelao in Fortaleza June 27, 2013. REUTERS/Paulo Whitaker (BRAZIL  - Tags: SPORT SOCCER CIVIL UNREST)

O juiz aposentado Silvio Mota durante protesto antes do jogo entre Espanha e Itália, pela Copa das Confederações, no estádio do Castelão, em Fortaleza - Paulo Whitaker - 27.jun.2013/Reuters

  • O governador e o prefeito

    Até aqui, falamos de quem participou ativamente dos protestos. E os alvos? Três lideranças políticas foram especialmente criticadas em palavras de ordem e cartazes: a presidente Dilma Rousseff (PT); o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (no PSDB na época; hoje no PSB); e o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT).

    Em 11 de junho de 2013, quando aconteceu o mais violento protesto em São Paulo até então, Alckmin e Haddad estavam em Paris com o objetivo de defender a candidatura da cidade para sediar a Expo 2020.

    “Alckmin e Haddad foram surpreendidos pela evolução das marchas, que começaram em 6 de junho. Decidiram então montar um gabinete de crise em uma sala da embaixada do Brasil na França para receber informes e tentar gerenciar a situação à distância”, contam as repórteres Julia Chaib e Victoria Azevedo

    Houve dissonâncias entre eles naquele período de tensão. Haddad chegou a pedir a Alckmin que trocasse o comandante-geral da PM após manifestantes terem tentado invadir a sede da prefeitura, mas não foi atendido.

    Prevaleceu, no entanto, a boa relação entre eles, que persiste até hoje. No dia 19 de junho, anunciaram juntos a revogação do aumento de tarifa. Baixou de R$ 3,20 para R$ 3.

Sobre o governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando HAddad, que foram à cidade Paris, para defender a candidatura da cidade de São Paulo como sede da Exposição Mundial de 2020

João Montanaro - 15.jun.2013

  • Fernando Haddad

    A aprovação do prefeito de São Paulo caiu 16 pontos no intervalo de três semanas, segundo o Datafolha. Na pesquisa realizada em 6 e 7 de junho, ele tinha 34% de ótimo/bom; caiu para 18% no levantamento dos dias 27 e 28.

    As Jornadas de Junho contribuíram para que Haddad chegasse desgastado à tentativa de reeleição à prefeitura, em 2016. Mas outros fatores pesaram, como o impeachment de Dilma naquele mesmo ano. João Doria consagrou-se ainda no 1º turno. 

    Com Lula na prisão, o PT escolheu Haddad como cabeça de chapa na corrida presidencial de 2018. Ele foi derrotado por Bolsonaro no 2º turno, mas teve desempenho expressivo, com 45% dos votos válidos, e saiu fortalecido, segundo analistas.

    No final de 2022, depois de perder a disputa pelo governo de SP para Tarcísio de Freitas (Republicanos), Haddad foi escolhido por Lula para ocupar o ministério da Fazenda.

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 13-06-2013: País em Protesto: O prefeito Fernando Haddad, em seu gabinete, durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, em São Paulo (SP). (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, COTIDIANO)

Fernando Haddad, em seu gabinete na prefeitura, durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, em São Paulo - Moacyr Lopes Junior - 13.jun.2013/Folhapress

Pesquisa realizada nos dias 27 e 28 de junho de 2013 com 1.106 entrevistas no município. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Fonte: Datafolha

  • Geraldo Alckmin

    A popularidade do governador de SP também despencou no Datafolha. Registrava 52% no levantamento realizado em 6 e 7 de junho e caiu para 38% na pesquisa de três semanas depois.

    O então tucano sentiu o baque, mas conseguiu se recuperar e se reelegeu no ano seguinte, em 2014, para o Palácio dos Bandeirantes. O grande revés veio quatro anos depois, quando ficou em quarto lugar na disputa presidencial, com menos de 5% dos votos.

    Deixou o PSDB no final de 2021 para se filiar ao PSB meses depois. Numa reviravolta impensável em outros tempos, aliou-se a Lula e foi candidato a vice na chapa do petista. Com a vitória deles sobre Bolsonaro, acumula a vice-presidência e o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. 

MEMÓRIA

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Alckmin proibiu o uso bala de borracha em protestos em SP

SAO PAULO - SP - 17.12.2013 - O governador Geraldo Alckmin inaugurou a ponte Bayer, que fará a transposição do canal Guarapiranga e a ciclovia da margem oeste do rio Pinheiros, que ligará a ponte do Socorro à ponte João Dias. A ponte custou R$ 5 milhões e foi bancada pela empresa Bayer. Ela vai ligar a ciclovia ao bairro do Socorro, e terá estrutural móvel, que irá se abrir quando for necessário passar algum barco pelo rio. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER)    SEQUENCIA 05

O governador Geraldo Alckmin durante inauguração da ponte Bayer, sobre o rio Pinheiros, em dezembro de 2013 - Danilo Verpa - 17.dez.2013/Folhapress

Pesquisa realizada nos dias 27 e 28 de junho de 2013 com 1.723 entrevistas em 44 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Fonte: Datafolha

  • Dilma Rousseff

    “Aprovação a Dilma despenca de 57% a 30% em 3 semanas” era a manchete da Folha de 29 de junho de 2013. O declínio de 27 pontos era a maior de um ocupante  do Planalto aferida pelo Datafolha desde Fernando Collor em 1990.

    “A queda de popularidade da Dilma foi muito ruim porque ela entrou fraca na campanha para a reeleição em 2014. Bateu muito na Marina e, quando saiu vencedora, fez uma virada total [na política econômica]. A partir daí, ninguém esteve à altura da crise”, diz o sociólogo Celso Rocha de Barros, autor de “PT, uma História”.

    Depois do impeachment, em agosto de 2016, candidatou-se ao Senado por Minas Gerais em 2018, mas ficou apenas em quarto lugar. Com a vitória de Lula, Dilma foi escolhida para presidir o Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics, com mandato até julho de 2025.

MEMÓRIA

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Aprovação a Dilma despencou de 57% a 30% em 3 semanas

As forças mais conservadoras, contando com meios muito superiores de comunicação, além de recursos financeiros e conexões internacionais, puderam assumir uma relativa dianteira e explorar as mobilizações para arremetê-las contra o governo, trocando as aspirações originais por um difuso e fabricado discurso contra a corrupção

Foto da ex-presidente Dilma Rousseff
Dilma Rousseff Em trecho do prólogo do livro “Junho de 2013 - A Rebelião Fantasma” (ed. Boitempo)
BRASILIA,DF ? 21/6/2013 ? A presidenta Dilma Houssef faz pronunciamento a nação em rede nacional de rádio e televisão em resposta aos protestos e manifestações ocorridos no país nas últimas semanas. (Foto: Reprodução) *** AGO *** ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

Dilma durante pronunciamento sobre as manifestações em 21 de junho - Reprodução

Pesquisa realizada nos dias 27 e 28 de junho de 2013 com 4.717 entrevistas. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Fonte: Datafolha

  • Tropa de choque

    Quais os efeitos das manifestações de dez anos atrás sobre instituições que estiveram no centro da arena, como a Polícia Militar? E órgãos como o Ministério Público?

    São temas do próximo (e último capítulo) da série.

ARQUIVO - São Paulo, SP - 13-06-13. ATO CONTRA A TARIFA. Manifestante impedido pela PM de ter acesso à Av. Paulista. Esquina da rua Augusta com a Av. Paulista. Foto: Ian Maenfeld/Folhapress ***PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS***

Na rua Augusta, em São Paulo, policiais impedem manifestante de ter acesso à av. Paulista - Ian Maenfeld - 13.jun.2013/Folhapress

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