Descrição de chapéu Vida Cultural - 3ª edição

Público mantém hábitos culturais online no pós-pandemia, mostra pesquisa

Levantamento do Datafolha mostra queda na frequência de atividades culturais presenciais

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Exposição sobre os 50 anos do movimento armorial, no CCBB, em São Paulo

Exposição sobre os 50 anos do movimento armorial, no CCBB, em São Paulo Eduardo Knapp/Folhapress

São Paulo

Quase dois de cada três brasileiros fizeram menos atividades de cultura e lazer entre meados de 2021 e meados de 2022 do que o faziam antes da epidemia. No caso de algumas ditas "presenciais", como cinema, teatro, dança e música, a baixa parece notável em relação aos anos pré-Covid. O pós-epidemia, ou quase isso, o período de reabertura depois das restrições, mudou mais hábitos culturais presenciais do que online.

É o que indicam os dados da terceira pesquisa Hábitos Culturais na pandemia, realizada entre o começo de junho e o começo de julho pelo Itaú Cultural e pelo Datafolha. Foram entrevistadas, por telefone, 2.240 pessoas de 16 a 65 anos em todo o Brasil.

Cerca de 62% dos entrevistados disseram que realizaram menos atividades de lazer e cultura nos 12 meses anteriores à data do levantamento (26% mantiveram a frequência, 12% diminuíram). Mais mulheres disseram ter diminuído a frequência nessas atividades (67%) do que homens (57%). No caso dos mais ricos, com renda familiar mensal maior do que R$ 6.061, a baixa foi menos pronunciada (53%).

Em outra questão, o Datafolha perguntou se o entrevistado havia realizado certas atividades específicas nos últimos 12 meses. Na comparação com o período anterior à epidemia (antes do primeiro trimestre de 2020), as maiores baixas são as relativas às atividades ditas presenciais.

Cerca de 26% dos entrevistados disseram ter ido ao cinema nos 12 meses anteriores (meados de 2021 a meados de 2022). Em algum momento anterior à epidemia, 59% haviam ido ao cinema. No caso de assistir a filmes e séries online, houve uma ligeira baixa: de 75% para 70%.

Houve redução também do número de pessoas que declaram ir a apresentações de teatro, música e dança (39% para 18%), a exposições e museus (27% para 8%), a centros culturais (36% para 11%) e aulas de arte (27% para 10%).

É preciso chamar a atenção para o fato de que se trata da comparação do comportamento de um ano específico (meados de 2021 a meados de 2022) com a frequência, em algum momento dos anos anteriores, a essas atividades. A discrepância mais relevante é em relação a atividades online, nas quais em geral houve pequena ou nenhuma mudança entre o hábito pré e no quase pós-epidemia.

Apesar dessas diferenças, as atividades presenciais foram aquelas das quais os entrevistados mais sentiram falta na epidemia. Cerca de 38% colocaram "cinema" no topo da lista (ante 47% do ano passado, porém) e 58% entre as três mais sentidas. Apresentações como teatro, dança e música foram a ausência mais lamentada para 14%, em primeiro lugar, e 28%, entre as três mais. Bibliotecas, 8% e 28%, respectivamente.

É possível especular que a diferença relativa de realização de atividades online e presenciais, antes e depois, se deva a problemas econômicos ou de mudança de hábitos na epidemia (ou de algum receio restante de aproximação social). Esta pesquisa Datafolha não permite dizê-lo.

De objetivo, pode-se observar que em 2021 houve grande queda do valor do rendimento médio do trabalho ("salários"), pelos dados do IBGE. Ao final de 2021, o rendimento médio real (já descontada a inflação) era cerca de 8% inferior ao de dezembro de 2019. O salário médio está próximo dos piores níveis em uma década, desde quando há dados comparáveis (2012).

Certas atividades perderam também o apelo que tinham, online, durante a epidemia. Cerca de 40% viam apresentações de teatro, dança e música, ante 4% que o fizeram nos últimos 12 meses, por exemplo. No total, nos últimos 12 meses, 18% viram esse tipo de espetáculo, somadas as atividades online e presencial. Em exposições e museus, houve queda de de 11% para 1%.

Quanto aos motivos para escolher o presencial, o "contato pessoal" foi apontado por 30% dos entrevistados (ante 37% na pesquisa de 2021). O "presencial passa mais credibilidade" é o motivo de 16%. Entre as razões do online, "comodidade/flexibilidade de horário" é apontado por 27%.

O celular é o meio mais utilizado para atividades online, sendo apontado por 95% dos entrevistados. A seguir, entre os mais utilizados, vêm o laptop, com 38%, o computador de mesa, 32%, o tablet, 17%.

Em um "dia típico", 26% dos entrevistados passam menos de uma hora em atividades culturais e de lazer na internet; 24%, de 1 a 2 horas. Cerca de 37% passam mais de duas horas, e os demais não sabem. O tempo médio é de duas horas e 56 minutos; entre os entrevistados de 16 e 24 anos, média de quatro horas e meia.

O Datafolha perguntou ainda quanto o entrevistado gasta, "aproximadamente", por mês, com atividades culturais online, pedindo que fossem citadas as despesas "com compras de filmes, séries, shows, assinatura das plataformas de vídeos e música etc". Cerca de 35% dizem não gastar nada e 8% não sabem.

O gasto médio declarado foi de pouco mais de R$ 128 por mês. Cerca de 36% dos entrevistados gastam até R$ 100 mensais; 7%, mais de R$ 200. Cerca de 50% das pessoas com ensino fundamental e 52% das classes D/E não gastam nada, ante 16% daqueles com ensino superior e 14% da classe A/B.

No entanto, a pesquisa não permite afirmar que tipo de despesas foram incluídas na conta cultural online —há despesas realizadas por meio indireto (assinaturas de pacotes de internet), por exemplo, de computação mais difícil. Além do mais, como ocorre em outras pesquisas de renda e despesa declaradas, pode haver subestimação ou superestimação, que variam de resto por faixa de rendimento.

No caso das despesas culturais "presenciais", o gasto é maior do que com as "online", em média de R$ 178 por mês, embora 50% dos entrevistados declarem não gastar nada e 8% não sabem dizê-lo.

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