Trabalhadores da matemática ganham mais, mas pesam pouco no PIB

Participação na renda do país foi de 4,6% entre 2012 e 2023, contra 18% na França em 2019, mostra estudo

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São Paulo

Quanto vale a matemática? Para fazer pergunta mais precisa, qual o peso dos rendimentos de quem usa matemática no trabalho no tamanho da renda total da economia, no PIB do Brasil? Menos que em países avançados da Europa, como era previsível.

Mas os salários desses trabalhadores no país são em média maiores que os de seus pares, não importa o nível de escolaridade. Eles têm nível mais alto de formação e seus empregos são mais formalizados.

Monitor com mapas de engenharia
Profissionais que usam matemática têm, em geral, melhores rendimentos e mais estabilidade profissional no Brasil - Unsplash

Essas são algumas das conclusões de estudo realizado pela Fundação Itaú a respeito da importância econômica e das características dos trabalhadores brasileiros ocupados em empregos que, em alguma medida, utilizam os princípios da matemática: Contribuição dos Trabalhos Intensivos e Matemática para a Economia Brasileira. As autoras basearam-se em um estudo do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França.

A fim de tornar possíveis comparações internacionais, procuraram replicar a metodologia francesa. Em particular, adaptaram a classificação das atividades intensivas em matemática e o peso da disciplina nesses empregos.

Para tanto, utilizaram a classificação brasileira das ocupações e os dados de rendimentos da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE. Assim, contaram os "trabalhadores da matemática". Ponderados e somados os ganhos, chegaram a um valor total e seu peso no PIB, se considerado pela perspectiva da renda.

Cerca de 7% do total estão em ocupações intensivas em matemática. Na França, são 12%. No Reino Unido e Países Baixos, 10%. Na Espanha, 6%. Quanto à participação na renda total, porém, o índice ficou em torno de 4,6% entre 2012 e 2023, ante 10% do verificado na Espanha, em 2016, 13% nos Países Baixos (2011) e 18% na França (2019), segundo dados do estudo do CNRS.

As disparidades podem ser atribuídas a diferenças de estrutura produtiva, ao nível da produtividade e à composição da mão de obra em cada país. Na França, por exemplo, engenheiros são 39% dos empregos da disciplina; no Brasil, 12%.

Aqui, as maiores categorias são a de técnicos (41%) e ocupados em serviços financeiros (40%). Entre aqueles com mais de 30 anos, o número maior é de contadores; entre jovens, a fatia de técnicos em tecnologias da informação e comunicação é a maior.

"As ocupações da matemática no Brasil estão muito mais concentradas nas áreas de serviços administrativos e de TI do que em áreas mais tradicionalmente ligadas à inovação e desenvolvimento tecnológico, como engenharia e pesquisa, como ocorre nos países europeus", diz o relatório.

No Brasil, o rendimento dos "trabalhadores da matemática" é maior não apenas que o da média dos demais ocupados, mas também em cada nível de escolaridade. No primeiro trimestre de 2023, segundo a Pnad e pelos critérios de classificação do estudo, os intensivos em matemática com ensino fundamental tinham renda equivalente a 2,7 vezes a dos demais com a mesma escolaridade. Aqueles com ensino médio, 1,7 vez; com ensino superior, 1,4 vez.

São também mais escolarizados, mais formalizados (84% têm vínculos formais, ante 67% da média) e resistem mais nos empregos em tempos de crise econômica do que na média geral.

Em 2023, 62% tinham ensino superior, ante 41% em 2012. "Aumentos na proporção dos trabalhadores em ocupações intensivas em matemática acompanharam o aumento dos anos de estudo médio da população", dizem as autoras.

As disparidades de cor e gênero também ficam evidentes nesse universo: 69,2% são homens; 62% são brancos. Tanto no total dos empregados como entre os trabalhadores da matemática, o rendimento médio dos homens era de 1,3 vez o das mulheres. Essas desigualdades ficam evidentes desde os testes padronizados de proficiência em matemática nos níveis fundamental e médio de ensino.

"A participação feminina nos rendimentos da área da matemática é menor do que nos rendimentos totais. Nos últimos anos, as mulheres representaram em média 36% dos rendimentos totais, enquanto na área da matemática essa porcentagem atingiu no máximo 26% a partir de 2019", lê-se no relatório.

O estudo está disponível na página fundacaoitau.org.br/observatorio.

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