Matemática deve ser tratada como bem da humanidade

É preciso dar espaço ao conhecimento no cotidiano, afirmam especialistas

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São Paulo

Matemática não é coisa de outro mundo. Ela é inerente ao ser humano e está presente desde os primeiros meses de vida, defende Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta, voltado a políticas públicas educacionais.

"Existe um estudo que mostra que bebês com oito meses têm noção de probabilidade estatística [e podem intuir a probabilidade de um evento futuro acontecer]. Quantos de nós, adultos, diriam que têm essas noções? Mesmo não sabendo, somos todos matemáticos", disse no segundo painel do seminário Contribuição da Matemática para a Economia.

A mesa foi mediada por Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social.


Da esq. p/dir., Alex Sandro Gomes, Karla Esquerre, Jorge Lira, Ya Jen Chang e Patricia Mota Guedes (mediadora)
Da esq. p/dir., Alex Sandro Gomes, Karla Esquerre, Jorge Lira, Ya Jen Chang e Patricia Mota Guedes (mediadora) - Lucas Seixas/Folhapress

Para Alex Sandro Gomes, líder do grupo de pesquisa Ciências Cognitivas e Tecnologia Educacional na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o afastamento da matemática começa quando passam a enxergá-la apenas como parte do currículo da escola.

"O raciocínio matemático é um bem cultural da humanidade. Vem em evolução há milênios. As pessoas têm o direito de receber essa herança cultural", afirmou. Nesse sentido, os números, proporções, desafios lógicos e padrões se mostram em diferentes lugares, épocas e formas.

Na Grécia Antiga (período que vai de aproximadamente 2000 a.C. até 1200 a.C.), disse, pequenos dados já eram usados para auxiliar o raciocínio matemático. Hoje, o uso de brinquedos e sucatas na infância, além das brincadeiras com formas geométricas e encaixes, são outros exemplos.

Sendo essa área parte da vida, por que o desempenho dos estudantes brasileiros não é suficiente? O resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) 2022 mostra que apenas 1% dos alunos tiveram nota 5 ou 6 na disciplina, consideradas ideais. A média da OCDE, entidade que reúne os países ricos e organiza a prova, é 9%.

Para Jorge Lira, professor do Departamento de Matemática da UFC (Universidade Federal do Ceará) e coordenador do Centro de Excelência em Políticas Educacionais da instituição, as bases desse resultado são lançadas na formação inicial dos professores.

Ele defendeu que o erro faz parte da aprendizagem. Como os docentes têm uma visão estereotipada do que ensinam, focada no acerto e em fórmulas, não sabem identificar as falhas conceituais que deveriam ser trabalhadas.

"A gente precisa de uma movimentação social que inclua mudanças na formação desse professor. Sem detectar as causas e sem entender o que o Pisa e o Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica] avaliam, a gente não consegue pensar o diagnóstico."

Um ponto a desenvolver na formação de docentes é a aproximação da universidade com a comunidade do entorno, por meio de projetos de extensão, de acordo com Alex Sandro. Por meio de ações práticas, os conceitos se tornariam menos assustadores e, assim, seriam desenvolvidas estratégias de ensino.

Para Karla Esquerre, professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e líder de pesquisas voltadas a ferramentas educacionais, ampliar discussões saindo de processos matemáticos para o ambiente social, por meio de clubes de ciência nas escolas, pode facilitar o ensino.

É o caso do projeto Meninas na Ciência de Dados realizado por professores e estudantes dos cursos de engenharia da Escola Politécnica da UFBA. A iniciativa reuniu alunas do sexto ao nono anos de escolas públicas de Salvador para participarem de atividades com o objetivo de desenvolver o pensamento computacional, analítico e estatístico.

Por outro lado, a relação com outras disciplinas é um desafio, pois muitos docentes de outras áreas não têm afinidade com a matemática. Assim, acrescentou Esquerre, o acesso a materiais didáticos e tecnologias torna-se importante, para que professores os utilizem para propor essa interdisciplinaridade.


Seminário discutiu importância da matemática para a economia; assista

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