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Alta no comércio virtual faz disparar a busca por analistas em logística

Formação na área não acompanha aumento na demanda e leva empresas a disputar especialistas disponíveis

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São Paulo

O crescimento das vendas online durante a pandemia tem impulsionado o setor de logística no Brasil, fazendo crescer a demanda por profissionais da área.

Entre os mais buscados estão os especialistas em análise de dados, que são essenciais para a estratégia de negócio e andam em falta no mercado.

O comércio eletrônico brasileiro cresceu 40,7% em 2020, segundo pesquisa de agosto do Big Data Corp. e do PayPal. De portas fechadas, empresas viram nos pedidos online uma forma de amortecer os prejuízos, impulsionando um mercado ainda incipiente em comparação com gigantes como China e EUA.

Grandes varejistas também expandiram suas operações. É o caso do Magazine Luiza, que viu as vendas online saltarem 182% no segundo trimestre de 2020.

"Contratamos 1.500 novos colaboradores e ampliamos a malha de distribuição. Hoje, 35% das entregas do Magalu são feitas em até 24h", conta o diretor de logística da empresa, Luís Fernando Kfouri.

Desde março, a Let's —plataforma de gestão de logística das Lojas Americanas e B2W— contratou mais de 4.000 funcionários e prevê contratar outros mil até outubro.

"Crescemos muito em todas as funções da cadeia logística", afirma José Barros, diretor de gente e gestão da B2W.

Para Kfouri, a logística passou de custo necessário a setor estratégico, no qual a análise de dados é uma habilidade fundamental.

O profissional qualificado para atuar como analista, porém, está em falta no Brasil, diz o coordenador do mestrado em logística empresarial da USP, Hugo Yoshizaki.

Segundo o docente, embora haja muitos analistas no mercado, poucos têm conhecimento de logística para traduzir as informações.

"Conheço empresas que estão levando meses para desenvolver projetos por falta de profissionais com formação na área", diz Yoshizaki.

Essa demanda não se refletiu em um aumento da busca por cursos em logística, afirma o coordenador.

Com a falta de especialistas, as grandes empresas estariam envolvidas num cabo de guerra pelos poucos disponíveis no mercado.

Na Loggi, a saída foi oferecer vagas para quem atua em outras áreas dentro da empresa. Muitos funcionários de setores operacionais já migraram para funções ligadas a dados e tecnologia, depois de passar por um processo interno de capacitação e treinamento, diz o diretor de operações da companhia, Grégoire Orélio.

Quando entrou no curso de engenharia civil na Unicamp, em 2016, Matheus Quirino, 23, focava a área de transporte urbano. Foi sua participação como pesquisador no Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes (Lalt) da instituição que o aproximou do universo da logística.

Segundo ele, que foi efetivado há um mês como analista de dados na empresa de energia Raízen, o processo de transformação digital no setor tem atraído a atenção para a atividade de análise.

De acordo com o professor de logística e transporte da Unicamp Orlando Lima, a maioria dos cursos de graduação não teve tempo para se atualizar com a nova realidade do mercado.

"Estamos trocando o motor com o carro andando. Na Unicamp, começaremos em 2021 uma turma num novo modelo, investindo em educação a distância", afirma.

Para Lima, quem quer aproveitar o momento de efervescência desse mercado deve procurar cursos de curta duração, com formação técnica e aplicação rápida desse conhecimento.

Já as graduações e pós em logística seriam reservadas para os interessados em assumir cargos mais altos no futuro.

O professor também aposta que o segmento continuará aquecido e contratando em 2021. A longo prazo, no entanto, o crescimento depende da recuperação da economia após a crise econômica.

Kfouri afirma que a pandemia veio para acelerar uma alta iminente do comércio eletrônico no Brasil.

"Milhões de pessoas compraram pela primeira vez por ecommerce. Talvez elas não deixem de ir à loja física, mas já sabem usar a tecnologia e devem continuar a fazer compras online", diz.

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Analista de dados de logística

Formação Curso técnico, graduação ou pós em áreas como logística, engenharia e ciência da computação

Salário inicial R$ 4.500

Onde estudar Senac-SP (técnico em logística), UFMG (graduação em engenharia de produção), Unicamp (especialização em gestão da cadeia de suprimentos e logística), Poli-USP (mestrado em engenharia de sistemas logísticos)

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