IA, home office em xeque, saúde mental: o que foi assunto no trabalho em 2023

Newsletter FolhaCarreiras aborda tópicos que movimentaram as discussões no ano e as lições extraídas deles

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São Paulo

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O ano foi para lá de agitado: novo governo, Copa do Mundo Feminina, submarino desaparecido, ondas de calor e tantos outros assuntos que não cabem em uma newsletter só.

Mas… e em termos de mundo do trabalho? Conversei com especialistas que ajudaram a listar os cinco principais tópicos que rondaram o universo de carreiras em 2023 –e as lições que tiramos deles.

Vamos lá?

"Essas tendências já nos rodeavam nos últimos anos, colocadas sob evidência pela pandemia. Em 2023, começamos a experimentar soluções", afirma especialista. - (Foto: Alliance/adobe stock)


1. Cabo de guerra pelo trabalho remoto

Em casa ou no escritório? O pós-pandemia teve como efeito a discussão sobre qual o melhor modelo de trabalho, se presencial ou remoto.

"O conflito está na indefinição e na indecisão. Muitas empresas não têm clareza sobre qual é o modelo adequado para elas", afirma Marcelo Treff, professor de Gestão de Pessoas da PUC-SP, FIA Business School e FECAP.

  • E não só: às vezes, trata-se de uma gestão que preza por controle e desconfia de funcionários sem supervisão constante.

Isso frustra as expectativas dos empregados, que, desde a pandemia, perceberam que trabalhar de casa pode aliviar uma rotina pesada.

"Muitos passam horas se deslocando no transporte público, têm jornada dupla, às vezes tripla, e os tomadores de decisão não têm essa vivência", diz Bruna Garcia, orientadora profissional e cocriadora do podcast Foca no Trabalho.

Segundo ela, falta empatia da liderança para que a escolha do regime de trabalho concilie demandas da organização com as dos funcionários.

  • "Em empresas de alguns setores, como indústria e serviços, o remoto pode não ser possível. Mas, em outros, os gestores poderiam se debruçar melhor sobre o tema antes de bater o martelo."

O que aprendemos com isso? Profissionais buscam mais flexibilidade. Decisões de cima para baixo, sem buscar conciliação de interesses, afetam o clima organizacional.

2. A busca por equilíbrio

Fenômenos como "lazy girl job" e "segunda-feira mínima" ganharam adesão entre os jovens em 2023.

  • São movimentos com roupagens diferentes para uma mesma demanda: trabalhar para viver, não viver para trabalhar.
  • "Eles surgem com a necessidade de repensar a relação com o trabalho, puxada especialmente pela geração Z", diz Garcia.

Lembra da edição sobre as diferentes gerações no mercado de trabalho? Vale reforçar o cuidado para não reproduzir estereótipos: a geração Z não é "preguiçosa".

"Os jovens entram no mercado já com demandas de maior flexibilidade, de buscar propósito no que faz e ver seus valores correspondidos. Para eles, o trabalho é uma das partes mais importantes da vida, e não a mais importante", explica a especialista.

O que aprendemos com isso? Repensar a relação com o trabalho é a principal demanda dos profissionais recém-chegados no mercado. Isso pode promover mudanças profundas daqui para frente.


3. Saúde mental em foco

Em destaque desde a pandemia, o cuidado com a saúde mental virou uma das pautas mais urgentes no mundo do trabalho. E o número de casos de Síndrome de Burnout é a faceta mais visível desse problema.

  • Mais de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com essa doença ocupacional, de acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho.

O reflexo é que o tema virou pauta nas empresas, já que cada vez mais profissionais são afastados por problemas de saúde mental.

No entanto, o professor Marcelo Tref afirma que há uma distância grande entre discurso e prática. "Não adianta criar políticas de saúde mental se a empresa só promove quem se mata de trabalhar, por exemplo."

Jacqueline Resch, psicóloga especialista em gestão de pessoas e conselheira na ABRH-RJ (Associação Brasileira de Recursos Humanos), ainda traz outro detalhe: a responsabilização.

"Boa parte das iniciativas são ofertas de plataformas de terapia, o que é ótimo, mas não basta. Isso coloca a responsabilidade de cuidado com a saúde mental no colo dos colaboradores. Se o contexto não mudar, se os ambientes permanecerem tóxicos, essa questão não avança", diz.

  • Segundo ela, as empresas precisam revisar a cultura organizacional e mapear as causas para os problemas de saúde mental.

O que aprendemos com isso? É uma pauta da ordem do dia e continuará sendo. Mas é preciso atacar as raízes do problema para vermos avanços.

4. O primeiro ano da Inteligência Artificial

Ela assustou alguns, deixou outros entusiasmados e virou o assunto de 2023. As tecnologias de IA vão ser uma constante daqui para frente.

Para o mundo do trabalho, a IA levantou a pergunta: ela pode acabar com nossos empregos?

Sim… "Ela pode eliminar postos mais operacionais e repetitivos, como mão de obra fabril e caixas de supermercado", diz Marcelo Treff.

Segundo o relatório Future of Jobs de 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, 23% dos trabalhadores vão perder o emprego ou mudar para um novo posto nos próximos cinco anos por causa da nova tecnologia.

… E não. "Existem áreas em que os conhecimentos e as habilidades humanas jamais serão superados por uma máquina, sobretudo as criativas", diz Bruna Garcia.

"Agora é pensar: como fazer a IA ser minha aliada, e não minha oponente? Quais são as tarefas que posso delegar a ela para que eu me concentre em aspectos mais ‘nobres’ do meu trabalho?", afirma Jacqueline Resch.

O que aprendemos com isso? As tecnologias de IA vieram para ficar, e precisamos aprender a usá-las ao nosso favor.

↳ Uma dica: a Folha lançou uma newsletter em cinco edições sobre inteligência artificial (IA). Ela é um guia produzido pelo New York Times que traz os principais conceitos da tecnologia e ensina como é possível utilizar IA, especialmente os novos tipos de chatbots como o ChatGPT.

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5. Mais diversidade
De gênero, raça e orientação sexual. É o que vem à mente quando pensamos em diversidade no trabalho, certo?

Errado.

Em 2023, o leque abriu. "As empresas começaram a se preocupar em incluir pessoas neurodivergentes, profissionais de diferentes gerações e classes sociais, pessoas com deficiência, trabalhadores de diferentes regiões do Brasil…", diz Bruna Garcia.

  • Isso mostra uma mudança de paradigma, à medida que as organizações passam a responder às demandas da sociedade com mais celeridade.
  • "Ouvimos falar tanto de práticas ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). A diversidade é uma delas", afirma.

Além disso, para Jacqueline Resch, estamos colhendo os frutos de um processo que iniciou anos atrás.

"São ideias que vão se consolidando. Vemos grupos minoritários nas lideranças, vagas afirmativas, políticas de conscientização. As tendências estão deixando de ser tendência para virar a realidade."


O que aprendemos com isso? Ainda temos um longo caminho pela frente, mas cada vez mais empresas estão cientes da importância da diversidade. Diferentes pessoas trazem diferentes bagagens, o que leva à pluralidade de ideias e à inovação.


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Jacqueline é uma mulher branca, de cabelos curtos e grisalhos. Usa uma blusa solta, estampada em vermelho e branco, óculos de armação preta e brincos de argola.
Jacqueline Resch, psicóloga especialista em gestão de pessoas e conselheira na ABRH-RJ (Associação Brasileira de Recursos Humanos) - Divulgação

Olhando para todos esses destaques, o que analisa sobre o mundo do trabalho em 2023?
São tendências que já nos rodeavam nos últimos anos, colocadas sob evidência pela pandemia. Em 2023, começamos a experimentar soluções. Algumas deram certo, outras não. E tudo bem, porque não existe uma única resposta. Talvez agora, com uma distância maior da pandemia, conseguimos avaliar com mais clareza que impactos ela deixou. Mas são movimentos de alerta para que as empresas se tornem mais céleres nas mudanças demandadas pela sociedade.

Acredita que serão destaques no ano que vem?
Sim, sobretudo as questões relacionadas ao guarda-chuva "novos modelos, formatos e relações de trabalho". Isso engloba equilíbrio de vida pessoal e profissional, saúde mental, o debate sobre o modelo híbrido, diversidade… E a Inteligência Artificial também. Não sabemos o que virá exatamente, mas vai revolucionar muita coisa, e o mundo vai exigir flexibilidade da nossa parte.

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