Cresce procura por formação para atuar nos bastidores da política

Jovens buscam graduação para trabalhar com políticas públicas em entidades do terceiro setor e grandes empresas

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São Paulo

Jovens que querem trabalhar com políticas públicas usam o conhecimento da graduação para seguir carreira fora do governo, dentro de organizações do terceiro setor ou em setores de responsabilidade social de empresas.

"Quero atuar nos bastidores", diz Bianca Lobato, 22, recém-formada em gestão de políticas públicas na USP (Universidade de São Paulo).

O interesse por debater política, questões de gênero, raça e classe foi decisivo na hora de escolher a faculdade, diz ela, que quer atuar "em cargos que possibilitem levar impacto social e propostas de melhorias para população".

Retrato de Bianca Lobato, 22,  mulher negra, de cabelos cacheados e castanhos. Bianca é formada em Gestão de Políticas Públicas pela USP e coordenadora de mobilização da campanha da candidata Isabela Rahal, do PSB
Bianca Lobato, 22, formada em gestão de políticas públicas pela USP e coordenadora de mobilização da campanha da candidata Isabela Rahal, do PSB - Jardiel Carvalho/Folhapress

O curso de gestão de políticas públicas existe desde 2005 e é multidisciplinar, com conhecimentos de ciência política, jurídica e econômica, explica Fernando Coelho, professor e coordenador do Laboratório de Gestão Governamental, grupo de pesquisa da USP.

Segundo um mapeamento feito pelos pesquisadores do grupo, o país tem hoje 200 graduações na área de gestão pública. Os egressos desses programas têm a possibilidade de desenvolver carreira em 20 áreas, entre elas relações governamentais, cargos da diplomacia ou de responsabilidade social em empresas, mostra o levantamento.

Coelho afirma que o objetivo da graduação é ajudar o estudante a entender como o governo atua na resolução de problemas complexos, como no caso da administração de insumos de saúde durante a pandemia. Para isso, são ministradas disciplinas de ciência política, administração pública, direito e economia.

Aluno do curso, Thomás Marques, 22, quer atuar na área da educação. "Meu objetivo é trabalhar com políticas de valorização do docente." Ele, que ingressou na graduação em 2019, estagia na Ensina Brasil, organização sem fins lucrativos que desenvolve lideranças para a educação.

O jovem conta que desde a adolescência já se envolvia em trabalhos voluntários voltados à área do ensino.

A vontade de causar impacto na sociedade também é comum aos ingressantes da graduação em administração pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz Cibele Franzese, coordenadora do curso, fundado em 1969.

Para ela, a instabilidade do cenário político nos últimos anos fez com que os alunos ficassem mais envolvidos em questões sociais e "menos interessados em carreiras no Executivo ou Legislativo".

Retrato de Maria Eduarda Raymundo nogueira, 21, estudante de ADM Pública na FGV
Maria Eduarda Nogueira, 21, estudante de administração pública na FGV - Jardiel Carvalho/Folhapress

A coordenadora afirma que, hoje, há uma preocupação em aplicar os conceitos na prática. Por exemplo, durante laboratórios em que os alunos podem acompanhar o cotidiano de órgãos públicos.

Para a aluna Maria Eduarda Nogueira, 21, o gosto pelo debate político desde a adolescência a levou ao curso da FGV.

Hoje, ela diz querer trabalhar com relações governamentais e infraestrutura. A decisão veio após conhecer as diferentes áreas de atuação e de fazer um estágio na Flixbus, startup de transportes.

"É uma área que me permite pensar estrategicamente, ver como a decisão de uma agência reguladora afeta o dia a dia de um serviço", afirma.

O diálogo entre governo, mercado e diplomacia abriu um leque de possibilidades para quem cursa relações internacionais, afirma Ana Regina Simão, coordenadora do curso de relações internacionais da ESPM Porto Alegre.

Muitos alunos, diz ela, chegam até a graduação com intuito de seguir carreira diplomática, mas mudam a jornada ao conhecerem outras áreas.

De acordo Simão, o foco do curso é desenvolver capacidade de negociação, além de repertório histórico, político e cultural de diferentes países.

Já no bacharelado em ciências do Estado, oferecido desde 2009 pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o foco é o debate. José Luiz Borges Horta, cofundador do curso, diz que a graduação visa desenvolver a capacidade analítica. O programa, que já formou 14 turmas, é oferecido pela Faculdade de Direito da UFMG.

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