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TikTok compartilha dados de carteiras de motorista, endereços e fotos; saiba como app trata informações

Funcionários do aplicativo chinês divulgam informações sobre usuários em ferramenta corporativa de mensagens, mostram documentos internos

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Sapna Maheshwari Ryan Mac
Nova York e Los Angeles

Em agosto de 2021, o TikTok recebeu uma reclamação de uma usuária britânica, que sinalizou que um homem estava "mostrando suas partes íntimas e se masturbando" em um livestream hospedado na conta dela no aplicativo de vídeo. Ela também descreveu abusos anteriores que havia sofrido.

Para atender à reclamação, funcionários do TikTok compartilharam dados sobre o incidente em uma ferramenta interna de mensagens e colaboração chamada Lark, de acordo com documentos da empresa obtidos pelo The New York Times. Os dados pessoais da mulher britânica —incluindo sua foto, país de residência, endereço IP, dispositivo e identidade de usuário— também foram divulgados na plataforma, que é semelhante ao Slack e ao Microsoft Teams.

Suas informações eram apenas uma parte dos dados sobre usuários do TikTok compartilhados na Lark, que é usada todos os dias por milhares de funcionários da ByteDance, a proprietária chinesa do app de vídeo, o que inclui funcionários baseados na China.

Chefe-executivo do TikTok, Shou Chew, testemunhou perante o Congresso dos EUA em março de 2023. Ele é um homem amarelo, de cabelos escuros e espetados, vestido em terno marinho, camisa branca e gravata azul. À sua volta, estão outras pessoas em trajes formais. À esquerda do executivo, equipes de imprensa registram o depoimento.
Chefe-executivo do TikTok, Shou Chew, testemunhou perante o Congresso dos EUA em março de 2023. Funcionários do aplicativo de vídeos curtos têm compartilhado dados pessoais de usuário na plataforma de comunicação no trabalho Lark - Haiyun Jiang/The New York Times

De acordo com os documentos obtidos pelo The New York Times, carteiras de motorista de usuários americanos também estavam acessíveis na plataforma, assim como o conteúdo potencialmente ilegal de alguns usuários, por exemplo materiais de abuso sexual infantil. Em muitos casos, as informações estavam disponíveis em "grupos" da Lark —essencialmente salas de bate-papo de funcionários—, com milhares de membros.

A profusão de dados de usuários disponíveis na Lark alarmou alguns funcionários do TikTok, especialmente porque os funcionários da ByteDance, na China e em outros lugares, tinham acesso fácil ao material, de acordo com relatórios internos e com quatro atuais e antigos funcionários. Desde pelo menos julho de 2021, vários funcionários da área de segurança alertaram os executivos da ByteDance e do TikTok sobre os riscos associados à plataforma, de acordo com os documentos e os funcionários.

"Será que funcionários baseados em Pequim devem ser proprietários de grupos que contêm dados secretos?" sobre usuários, perguntou um funcionário do TikTok em um relatório interno em julho passado.

Os materiais sobre usuários na Lark levantam questões sobre as práticas de privacidade e dados do TikTok e mostram o quanto a empresa está entrelaçado com a ByteDance, em um momento no qual o aplicativo de vídeo enfrenta escrutínio crescente sobre os possíveis riscos de segurança que representa e sobre seus laços com a China. Na semana passada, o governador de Montana assinou um projeto de lei proibindo o TikTok no estado a partir de 1º de janeiro. O aplicativo também foi proibido em universidades e agências governamentais e pelas forças armadas.

O TikTok vem sendo pressionado há anos para isolar suas operações nos Estados Unidos devido a preocupações de que poderia fornecer dados sobre usuários americanos às autoridades chinesas. Para continuar operando nos Estados Unidos, a TikTok apresentou, no ano passado, um plano ao governo Biden, chamado Projeto Texas, definindo como armazenaria as informações dos usuários americanos dentro do país e isolaria esses dados dos funcionários da ByteDance e das unidades do TikTok fora dos Estados Unidos.

O TikTok minimiza o acesso que seus funcionários baseados na China têm aos dados sobre usuários dos Estados Unidos. Em uma audiência no Congresso americano em março, Shou Chew, presidente-executivo do TikTok disse que esses dados eram usados principalmente por engenheiros na China para "fins comerciais" e que a empresa tinha "protocolos rigorosos de acesso a dados" para proteger os usuários. Ele disse que muitas das informações de usuários acessadas pelos engenheiros já eram públicas.

Os relatórios internos e as comunicações da Lark parecem contradizer as declarações de Chew. Os dados do TikTok disponíveis na Lark também estavam armazenados em servidores na China pelo menos até o final do ano passado, disseram os quatro atuais e antigos funcionários.

Os documentos vistos pelo Times incluíam dezenas de capturas de tela mostrando relatórios, mensagens de bate-papo e comentários de funcionários na Lark, bem como vídeo e áudio de comunicações internas, de 2019 a 2022.

Alex Haurek, um porta-voz do TikTok, classificou os documentos vistos pelo Times como "datados". Ele disse que o material não retrata com precisão "como lidamos com dados protegidos de usuários dos Estados Unidos, nem o progresso que fizemos no Projeto Texas".

Deputado democrata Jamaal Bowman, ao centro da imagem, defendeu o TikTok e a liberdade de expressão em coletiva de imprensa em 22 de março. Ele é um homem negro e segura uma placa com os dizeres "keep TikTok", algo como mantenha o TikTok. Ao redor do parlamentar, há pessoas com placas com motes similares
Deputado democrata Jamaal Bowman, ao centro da imagem, defendeu o TikTok e a liberdade de expressão em coletiva de imprensa em 22 de março - Haiyun Jiang/The New York Times

Ele acrescentou que o TikTok estava no processo de excluir os dados de usuários dos Estados Unidos coletados antes de junho de 2022, quando mudou a forma pela qual lidava com informações sobre usuários americanos e começou a enviar esses dados para servidores baseados nos Estados Unidos e de propriedade de terceiros, em vez de para servidores de propriedade do TikTok ou da ByteDance.

A empresa não respondeu a perguntas sobre se os dados da Lark eram armazenados na China. Recusou-se a responder perguntas sobre o envolvimento de funcionários baseados na China na criação de grupos para o compartilhamento de dados sobre usuários do TikTok na Lark, mas disse que muitas das salas de bate-papo foram "fechadas no ano passado depois de analisar preocupações internas".

Alex Stamos, diretor do Observatório de Internet da Universidade de Stanford e ex-diretor de segurança da informação do Facebook, disse que proteger os dados dos usuários em uma organização é "o projeto técnico mais difícil" para a equipe de segurança de uma empresa de mídia social. Os problemas do TikTok, acrescentou, são agravados por ele ser controlado pela ByteDance.

"A Lark mostra que todos os processos de back-end são supervisionados pela ByteDance", ele disse. "O TikTok é apenas um verniz que recobre a ByteDance", ele disse.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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