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BC chinês quer que empresas de tecnologia revelem informações de usuários ao Estado

Tentativa do banco de canalizar informações pessoais por meio de agências oficiais encontra oposição

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Sun Yu
Nova York | Financial Times

O banco central da China está batalhando para conseguir que mais de uma dezena das principais empresas de internet do país respeitem a data-limite, em dezembro, para que passem a revelar informações pessoais de seus usuários às agências de classificação de crédito aprovadas pelo Estado.

O impasse sobre quem deve controlar o acesso aos vastos bancos de dados das empresas de Internet sobre seus usuários surgiu em um momento no qual Pequim está trabalhando para apertar seu controle sobre o setor de tecnologia chinês e sobre os empréstimos ao consumidor.

O presidente Xi Jinping, que recentemente garantiu um terceiro mandato de cinco anos como chefe do partido comunista chinês e comandante das forças armadas, está decidido a controlar as empresas privadas do setor de tecnologia da China, como parte de um esforço mais amplo para construir uma economia mais controlada pelo Estado.

Homem passando pela sede do Banco do Povo da China, o banco central, em Pequim - Jason Lee/Reuters

O banco central chinês ordenou que a Tencent, Meituan e outras grandes plataformas revelem dados sobre seus usuários, de registros de compras a históricos de viagens, a duas agências aprovadas pelo Estado, Baihang e Pudao, até o início do próximo mês, de acordo com pessoas informadas sobre as negociações.

A Baihang e a Pudao, por sua vez, receberiam pagamentos para fornecer dados aos bancos, a fim de ajudá-los a avaliar a solvência dos potenciais devedores, mas as empresas de Internet estão resistindo a esse arranjo, disseram as fontes.

No ano passado, o banco central chinês agiu para impedir que plataformas online vendessem dados sobre seus usuários diretamente aos bancos, citando temores sobre o possível uso indevido de informações pessoais. Mas um assessor do banco central disse que a prática tinha continuado porque as instituições de crédito não queriam pagar as taxas mais altas cobradas pela Baihang e Pudao.

"Nem as plataformas e nem os bancos têm incentivos para seguir uma ordem que prejudique seus negócios", disse o assessor, que pediu que seu nome não fosse mencionado por conta da delicadeza do assunto.

A ordem do banco central se aplica a empresas de Internet que procuram trabalhar em parceria com companhias de financiamento para fazer empréstimos a indivíduos ou pequenas empresas.

"Mesmo com um governo tão poderoso quanto o da China, nunca acontece que você simplesmente crie uma regra e ela em seguida seja aplicada magicamente, e todos a obedeçam", disse Karman Lucero, especialista em segurança de dados da Escola de Direito da Universidade Yale. "Leva tempo para que as diferentes autoridades regulatórias, instituições e empresas descubram o que cumprir a regra requer e, além dessa complexidade, há pessoas que se esforçam para desacelerar as coisas".

Algumas plataformas também objetaram à participação acionária de 25% que uma concorrente, a JD.com, de Richard Liu, tem na Pudao. "Há desconfiança quanto à neutralidade da Pudao", disse o executivo de uma das rivais da JD.com, sediada em Xangai.

Muitos bancos chineses, especialmente as pequenas instituições regionais de empréstimo, dependem dos dados das empresas de internet sobre usuários e de suas ferramentas analíticas para identificar clientes dignos de crédito. De acordo com registros públicos, o volume de empréstimos concedidos em parceria com plataformas online cresceu em 22% no ano passado com relação a 2020, ante um crescimento geral de 12% no crédito.

"Não vamos cumprir até que todos os outros o façam", disse o executivo de uma instituição de crédito sediada em Xangai, que trabalha de perto com as plataformas para conceder empréstimos ao consumidor.

O boom dos empréstimos despertou preocupações de que a monetização dos dados dos clientes por parte das plataformas de internet poderia solapar a proteção da privacidade pessoal, ou até representar ameaça à segurança nacional.

"Como posso saber a quem estão vendendo dados quando há tão pouca supervisão?", disse o assessor do banco central, acrescentando que as autoridades regulatórias agora estavam mais concentradas nos riscos de segurança associados à mineração de dados de consumidores do que em seus potenciais benefícios econômicos.

Mas um executivo de uma plataforma de Internet sediada em Pequim argumentou que sua empresa tem medidas de proteção confiáveis para informações pessoais, e algoritmos "altamente avançados" de classificação de crédito. "O governo quer que [terceirizemos] um serviço que podemos executar muito bem por nossa conta", ele disse.

A Baihang e a Pudao são comandadas por ex-dirigentes do banco central chinês. "O banco central quer ter papel maior na regulamentação da forma como os dados são vendidos e utilizados", disse Lucero. Entretanto, um estudo da Universidade Renmin, de Pequim, constatou que as empresas de internet incorreriam em um aumento de custos de até 8% depois de transferirem os dados e análises às agências de classificação de crédito.

Michael Li, proprietário de uma empresa sediada em Xangai que analisa pontuações de crédito, disse que "embora o governo veja os dados como um ativo valioso que não pode cair nas mãos dos magnatas da internet, os funcionários públicos não têm a capacidade de gerenciar esse recurso de forma eficiente. Isso significa que há um risco de matar o setor".

Tradução de Paulo Migliacci

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