Vila do Céu, na Ilha de Marajó, entra na rota do turismo após virar destino de fotógrafos

Formada por pescadores, comunidade tem 50 anos, um restaurante e uma pousada

Dez meninas de mão dada de costas para a foto em praia com espelho d'água que reflete o céu com nuvens. Oito estão com saias rodadas amarelas e duas com saias rodadas rosas com estampa

Meninas dançam carimbó para ensaio fotográfico na praia do Céu Karime Xavier/Folhapress

Carolina Muniz
São Pauilo

​O​ turismo chega aos poucos ao Céu, pequena vila de pescadores em Soure, na Ilha de Marajó (PA). Com 198 habitantes, o povoado passou a receber visitantes depois que o caminho de uma moradora cruzou com o de uma excursão de fotógrafos.

Na travessia da balsa, saindo de Belém, o grupo viajava a Marajó para registrar a ilha. Ao vê-los com as câmeras na mão, a auxiliar escolar Patricia Lima, 40, os convidou para conhecer a sua comunidade.

“A princípio, não dei muita bola, mas, já que estávamos por ali mesmo, acabamos indo. Todo mundo ficou maravilhado”, diz o fotógrafo Raimundo Paccó, 51, que desde aquela vez, em 2014, organizou outras seis viagens ao Céu.

Na mais recente, no começo de junho, a fotógrafa Karime Xavier documentou a comemoração do aniversário de 50 anos da vila —que se formou em um terreno cedido pela prefeitura do município de Soure, depois que várias casas de pescadores espalhadas pela região foram destruídas pela força da maré.

A maior atração da festa é o boi Areia Branca, versão local de boi-bumbá —celebração forte do folclore brasileiro, em especial no Norte e no Nordeste. Na vila do Céu, a encenação envolve a maioria dos membros da comunidade, que se fantasiam, dançam e interpretam.

A tradição quase despareceu, foi resgatada em 2009. “Estava apagada, a gente conseguiu trazer de volta, para para animar”, diz Teófilo Neves, 66, vice-presidente da associação de moradores.

O nome do boi, Areia Branca, é homenagem à praia banhada pela baía de Marajó, onde fica o povoado.

Por causa da influência do Atlântico, tem ondas, mas a água, na maior parte do ano, é doce.

Perto, há o mangue, que vale ser visitado. “Parece uma paisagem que não é da Terra”, diz Karime. “A vila do Céu e o caminho até ela são uma das coisas mais lindas que vi.”

Para quem está em Belém, ir à comunidade do Céu envolve percorrer um longo trajeto com travessias de barco e estradas asfaltadas e de terra. Primeiro​, é preciso pegar uma balsa que sai do porto de Icoaraci, distrito de Belém, e demora cerca de quatro horas para cruzar a baía de Marajó.

Para quem for de carro, o recomendado é reservar a passagem com pelo menos duas semanas de antecedência pelo site henvil.com.br.  O preço para um automóvel pequeno é R$ 120,80, mais R$ 20,50 por passageiro.

Esse é também o valor para quem viaja a pé, que pode comprar o bilhete pouco antes da partida, às 6h.

Do porto de Camará, no município de Salvaterra, é preciso seguir de carro por 32 quilômetros, pegando a rodovia PA-154 até o rio Paracauari, onde há outra travessia para chegar ao município de Soure. A viagem dura em torno de 20 minutos e custa R$ 16,50 por veículo —pedestres não pagam.

Dali até a vila do Céu são mais 16 quilômetros, percorridos em cerca de 40 minutos por estrada de terra que passa por dentro de fazendas de búfalos. Na época de chuvas, de dezembro a maio, o caminho fica alagado na maior parte do tempo, e, aí, só dá para chegar à comunidade de barco.

No meio da estrada, o portão de uma fazenda bloqueia o caminho. Para passar, cada turista tem que pagar R$ 15 aos donos da propriedade. A cobrança começou a ser feita depois que o volume de visitantes do Céu aumentou.

“A gente está lutando contra isso, porque é uma rodovia estadual. Não queremos derrubar o portão, mas que pelo menos eles deixem o povo passar para cá sem pagar”, afirma Patricia, que trabalha na escola do povoado.

Os turistas começaram a chegar ao Céu depois que uma reportagem, gravada na segunda expedição fotográfica à comunidade, foi veiculada nacionalmente pela TV Brasil, ainda em 2014.

Há dois anos, os moradores inauguraram um restaurante, com a maioria dos pratos à base de peixe, e uma pousada de apenas um quarto. A acomodação, para quatro pessoas, tem uma cama de casal e duas de solteiro, ventilador, frigobar e banheiro (pode parecer óbvio, mas algumas casas da vila ainda não têm banheiro). A estadia, com café da manhã incluso, custa R$ 100.

Alguns forasteiros vão só passar o dia e outros também se hospedam na casa de moradores, como fez a fotógrafa Karime Xavier. “É bom conviver com as pessoas e ver como vivem. São receptivas”, diz.

A arquitetura local também inspira os viajantes. As casas, típicas da Ilha de Marajó, são feitas de madeiras e não economizam cores na pintura. Ficam suspensas sobre estacas, para proteger os moradores das inundações e de animais.

O Céu vive do caranguejo catado no mangue e, sobretudo, da pesca, feita com barcos e redes lançadas na praia. “A maré enche e deixa o peixe para a gente e, quando seca, vamos lá buscar”, diz Patricia.

“Para o Céu virar o paraíso, só falta chegar água e transporte”, afirma Teófilo Neves, vice-presidente da associação de moradores. Como as águas dali não são potáveis, a comunidade depende de duas entregas semanais de um caminhão-pipa.

A oitava expedição fotográfica à vila será realizada entre 19 e 25 de novembro. Mais informações pelo email rpacco41@gmail.com

Pacotes

R$ 446 
5 noites em Belém,na Submarino Viagens (submarinoviagens.com.br
Hospedagem em quarto duplo, sem regime de alimentação e sem passeios. Inclui passagem aérea a partir do aeroporto de Guarulhos (SP)

R$ 699 
3 noites em Belém, na Top Brasil (topbrasiltur.com.br)
Pacote para saída em 16 de setembro. Hospedagem em quarto duplo, sem regime de alimentação e sem passeios. Inclui passagem aérea

R$ 1.550 
4 noites em Belém, na Azul Viagens (azulviagens.com.br
Pacote para saída em 26 de setembro. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui traslados e passeio à Ilha de Marajó. Com aéreo a partir de Campinas

R$ 1.657 
4 noites em Belém e na Ilha do Marajó, na Flot Viagens (newsite.flot.com.br)
Pacote para saída em 17 de setembro —duas noites em Belém e duas na Ilha de Marajó. Hospedagem em quarto duplo, com café da manha. Inclui passeio por Soure. Sem passagem aérea

R$ 1.971 
2 noites na Ilha do Marajó, na Flytour (flytourmmt.com.br)
Valor para saída em 19 de outubro. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã, passeios e traslados. Inclui passagem aérea a partir do aeroporto de Guarulhos (SP)

R$ 2.176 
7 noites em Belém, na CVC (cvc.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Sem passeios. inclui passagem aérea a partir do aeroporto de Guarulhos (SP)

R$ 2.425 
5 noites em Belém, na Maringá Lazer (maringalazer.com.br
Pacote para saída em 10 de outubro, período do Círio de Nazaré. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui passeio pela cidade e romaria fluvial. Sem passagem aérea

R$ 2.437 
5 noites em Belém e na Ilha de Marajó, na Maringá Lazer (maringalazer.com.br)
Pacote para saída em 19 de setembro —2 noites em Belém e 3 na Ilha de Marajó. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Sem passagem aérea

R$ 2.515 
5 noites em Belém, na Venice Turismo (veniceturismo.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui traslados e aéreo

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