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Conheça Huaraz, destino da vez no Peru sem a multidão de Machu Picchu

Turistas podem explorar sítios arqueológicos no país e experimentar pratos feitos com porquinho-da-índia

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Maria Angélica Oliveira
Lima (Peru)

Com lagoas azuis e montanhas nevadas, a Cordilheira Branca, no Peru, é cobiçada por montanhistas profissionais do mundo todo há décadas. Felizmente, já não é necessário ser atleta para explorar a região. O setor turístico local está se voltando cada vez mais ao viajante comum com passeios menos exigentes, mais contemplativos e tours de experiência.

O turismo interno salvou agências, restaurantes e hotéis durante a pandemia. Muitos peruanos começaram a saber que podiam escalar montanhas. Até então, não se promovia muito a atividade internamente. E as redes sociais impulsionaram essa tendência", conta Arnold Rodriguez, proprietário da agência Visit Huaraz.

Lagoa Palcacocha na Cordilheira Branca
Lagoa Palcacocha na Cordilheira Branca - Lalo de Almeida/Folhapress

A base para explorar a região é a cidade de Huaraz, a 400 km de distância de Lima, que ganhará voos regulares a partir de julho, reduzindo o périplo de até oito horas de ônibus a uma hora de voo. A cidade acaba de ser incluída pelo prêmio Traveller's Choice, do Trip Advisor, na lista de tendências para esse ano.

Apelidada de "Suíça peruana", a região é um lugar ainda a salvo do turismo de massa, à diferença de Machu Picchu. Em 2019, um ano antes da pandemia de Covid-19, o santuário inca recebeu 1,58 milhão de turistas, contra 400 mil do Parque Nacional del Huascarán, que concentra os maiores atrativos da região e foi nomeado pela Unesco como Reserva da Biosfera e Patrimônio Mundial da Humanidade.

Com 340 mil hectares, o parque abriga 511 glaciares e 850 lagoas que alimentam rios e sustentam o sistema hídrico local, segundo o último levantamento do Instituto Nacional de Pesquisa em Glaciares e Ecossistemas de Montanha (Inaigem, na sigla em espanhol). Tem 25 circuitos de trekking e 102 rotas de escalada.

É um destino completo. Tem aventura para todos os níveis de preparo físico, sítios arqueológicos impressionantes, gastronomia e cultura. Os atrativos se distribuem ao longo do Callejón de Huaylas, um vale andino de 180 quilômetros de extensão aos pés da Cordilheira Branca que reúne cinco cidades (Huaraz, Huaylas, Carhuaz, Yungay e Recuay) e vários pueblitos.

Montanhas para todos

O cenário idílico por onde passeiam condores, lhamas e pumas oferece deslumbramento e assombro. Ali estão o Huascarán, a montanha mais alta do Peru (6.768 metros) e o Alpamayo (5.947 metros), uma montanha piramidal considerada uma das mais bonitas do mundo.

As escaladas a essas montanhas são reservadas para alpinistas com muita experiência, mas os leigos ganham cada vez mais espaço no catálogo das agências, que prometem "seu primeiro cume em 12 horas" no Nevado Mateo (5.150 metros), pico considerado apto para iniciantes.

No Mateo, o participante recebe equipamentos profissionais como botas de neve e caminha atado ao guia por cordas e mosquetões. É fundamental, no entanto, bom preparo físico e ter feito aclimatação nos dias anteriores com trekkings mais leves.

Llama em Machu Picchu
Lhama em Machu Picchu - Pav-Pro Photography - stock.ado

Também é possível ter a primeira experiência de escalada em gelo –com corda, piolets (ferramenta parecida a um machado) e crampons (grampos de metal colocados na sola das botas de neve) —sem precisar subir uma montanha completa. As escaladas acontecem em pequenas seções de 18 a 25 metros do Nevado Mateo ou do glaciar Llata.

Para contemplar as montanhas de longe, há tours de mirantes, que levam os turistas para ver o amanhecer e o pôr do sol em pontos estratégicos. Em um deles, a maratona começa no mirador Portachuelo, onde é possível ver os primeiros raios de sol tocando o Huascarán, e passa pela lagoa Radian, que espelha a outra face da montanha. O passeio segue com almoço e termina ao entardecer no mirante Rataquenua, com um brinde à base de pisco com ervas andinas.

O cardápio local oferece ainda stand up paddle nas lagoas, escalada em rocha, tirolesa, rapel, cavalgadas e passeios de bicicleta –que começam no ponto mais alto da trilha para poupar o pulmão do turista.


Lagoas

A Laguna 69 é tão cobiçada quanto desafiadora. O lugar, que recebeu esse nome pela contagem do número de lagoas do parque, tem águas azuis turquesa. Para chegar lá, é preciso caminhar 7 km e enfrentar um ganho de altitude considerável, de 3.900 a 4.604 metros. Não é raro encontrar turistas que desistem no meio do caminho.

Para quem quer pegar leve, a dica é conhecer a Quebrada de Llanganuco, que fica no caminho para a Lagoa 69 e onde se chega de carro, sem precisar de caminhada. São duas lagoas de águas azuis, Chinancocha e Orconcocha, que juntas têm mais de 2 km de extensão e estão encravadas entre montanhas.

A lagoa Parón, a maior do parque e muito popular entre os turistas, está interditada desde o ano passado por risco de deslizamento de pedras e avalanches.

Lagoa Paron, que tem no seu entorno o pico Artesonraju. É símbolo da vinheta da Paramount Filmes
Lagoa Paron, que tem no seu entorno o pico Artesonraju. É símbolo da vinheta da Paramount Filmes - Guilherme Cavallari

Neve

Para os turistas que chegam dos países vizinhos, ver de perto e tocar a neve é um passeio em si. Os lugares mais buscados para essa experiência são o Glaciar Pastoruri e a lagoa Rocotuyoc.

Com águas mais escuras, a lagoa Rocotuyoc é muito procurada para quem quer conhecer o lago congelado acima dela. O entorno fica coberto de neve entre os meses de dezembro e março. É um trekking moderado, com caminhada de 30 minutos.

Já o passeio ao Glaciar Pastoruri é mais exigente. São três quilômetros de trilha coberta de pedras e cimento. O passeio foi rebatizado pelo governo peruano como Rota da Mudança Climática por causa do derretimento do gelo. O Peru reúne 68% dos glaciares tropicais do mundo. Nos últimos 60 anos, houve uma perda de 56% da superfície de gelo no país, segundo o Inaigem.


Gastronomia, história e arqueologia

Devastada por um terremoto em 1970, Huaraz foi reconstruída sem levar em consideração a harmonia arquitetônica –não espere encontrar as ruas charmosas de Cusco.

Aproveite para experimentar a gastronomia local, com cuy (porquinho-da-índia) e as sopas de mote (um tipo de milho) e de trigo. O jamón serrano é uma especialidade da região, feito com perna de porco curada com ajíes e cozida. Longe do mar, a cidade se orgulha do ceviche de chocho, um grão andino que entra na receita no lugar do peixe.

A história do terremoto é contada nos tours ao campo santo de Yungay (a 56 km de Huaraz). Aos pés do Huascarán, a cidade foi completamente destruída com a catástrofe. Os escombros fazem parte de um museu a céu aberto.

Outro pueblito bastante visitado é Chacas (a 110 km de Huaraz), que tem uma arquitetura colonial preservada. O trajeto para lá é igualmente interessante, pois atravessa o túnel Punta Olímpica, o mais alto do Peru e um dos mais altos do mundo. Construído pela Odebrecht, está a 4736 metros de altitude e tem 1,38 km de extensão.

O maior atrativo histórico da região, no entanto, está no sítio arqueológico Chavín de Huantar (a 105 km de Huaraz), um centro religioso pré-inca construído entre 1.500 e 500 A.C. e declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Mulher andina cozinha 'cuy', ou porquinhos-da-índia, durante um festival de porquinhos-da-índia em Huacho, norte de Lima
Mulher andina cozinha 'cuy', ou porquinhos-da-índia, durante um festival de porquinhos-da-índia em Huacho, norte de Lima - Mariana Bazo/Reuters

Mal de altitude, o soroche pode ser o vilão da viagem

É importante ter atenção à altitude. Huaraz está a 3052 metros sobre o nível do mar, e a maior parte dos passeios está em lugares mais altos –portanto, com níveis de oxigênio ainda menores.

O soroche, como é conhecido o mal de altitude, pode gerar dor de cabeça, náuseas e aumento dos batimentos cardíacos. Para evitá-lo, descanse e faça passeios leves nos primeiros dias.


Época

A melhor época é a temporada seca, entre abril e setembro. Faz frio, mas há sol e céu azul. Entre setembro e março, as manhãs são ensolaradas e geralmente chove à tarde.


Como chegar

As empresas de ônibus Cruz del Sur e Móvil Bus estão entre as mais procuradas. A viagem dura entre sete e nove horas e custa entre 65 e 105 soles (R$ 88 a R$ 143, aproximadamente).

Por enquanto, não há voos comerciais. O aeroporto de Anta, a 23 km de Huaraz, acaba de ser reformado e poderá receber aeronaves grandes. A obra ainda não foi entregue oficialmente.

A Latam já colocou passagens à venda no site para a partir de 1° e julho. Os voos estão programados para as segundas, quintas, sextas e domingos, terão duração de 1h10 e serão feitos em um Airbus A319, com capacidade para 138 passageiros. O trecho custará a partir de 44 dólares (R$ 220). A operação ainda precisa da aprovação do governo.


Passeios e segurança

Fuja da informalidade e desconfie de preços muito baixos nos tours. Procure profissionais filiados à Associação de Guias de Montanha do Peru. Um bom lugar para encontrar recomendações é a Casa de Guias, um centro de formação em Huaraz. As agências Visit Huaraz, Top Adrenaline, Quenual Adventures e Waras têm boas referências.

A entrada ao Parque Nacional del Huascarán custa 30 soles (R$ 40). Espere pagar entre 70 e 140 soles (R$ 95 a R$ 190) nos passeios para a Laguna 69, Glaciar Pastoruri, Quebrada de Llanganuco e Chavín de Huantar.

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