Descrição de chapéu litoral norte

São Sebastião investe em ecoturismo e baleias para trazer visitante após tragédia

Cidade no litoral de São Paulo reforça passeios e quer lembrar que, em mais de 100 km de orla, nem tudo foi ao chão

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Vista da Ilhas das Couves, em São Sebastião

Vista da Ilhas das Couves, em São Sebastião Mariana Agunzi/Folhapress

São Sebastião (SP)

Quem anda pela orla de Barra do Sahy, uma das praias mais visitadas de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, quase não consegue imaginar que, há pouco mais de um ano, o mesmo mar esverdeado estava envolto em lama.

A área foi uma das mais atingidas pela chuva descomunal que arrastou casas, lojas, derrubou morros e deixou 64 mortos na cidade em 19 de fevereiro de 2023. "Era um cenário de guerra", lembra o guia de ecoturismo Guilherme Almeida da Silva, 25.

Junto com outros tantos moradores que encorparam a brigada de resgate, ele conta que retirou corpos e sobreviventes soterrados na terra –entre eles, uma criança de 4 anos. "Minha mãe é enfermeira, sempre me contou histórias impressionantes. Mas nunca tinha visto nada parecido com isso."

A tragédia está na memória de moradores, trabalhadores e também pode ser avistada pelo turista que, com o mínimo de atenção, vai encontrar cicatrizes nos morros e ruas pela cidade. Mas, com o investimento bilionário vindo dos governos federal, estadual e de royalties pagos pela Petrobras –que tem em São Sebastião um terminal–, o caos gerado com a chuva começa a cicatrizar.

Vista da praia de Calhetas, em São Sebastião
Vista da praia de Calhetas, em São Sebastião - Mariana Agunzi/Folhapress

Agora, a cidade investe para reforçar o turismo e lembrar que, dentre suas 53 praias e mais de 100 km de orla, nem tudo foi ao chão. "Os veranistas estão vendo as obras, a praia limpa, e retomando a confiança. A temporada [de verão] ainda não foi forte, mas foi boa", conta o marinheiro Rodrigo Nicolau, 45, que leva turistas para o tour de barco que passa por Ilha dos Gatos, Ilha das Couves e As Ilhas.

O passeio, que tem duração média de três horas, faz paradas para mergulho e conta com um tempo livre na praia d’As Ilhas, que apresenta águas calmas, sem ondas e cristalinas, ótimas para banho. Quem quiser acessar As llhas diretamente da Barra do Sahy também pode fazer o trajeto com ajuda dos barqueiros, que levam e depois buscam os turistas.

No tour completo, é possível ainda avistar a casa de Caio Rodrigues, morador único da Ilha dos Gatos, hoje sob posse da União, e que vive no local há mais de 30 anos. "Mas para falar precisa combinar antes. Ele não gosta de receber gente todo dia, não. Vive na dele, sozinho na ilha", conta Nicolau.

Observação de baleias e ecoturismo

A assinatura, em 2023, do termo de cooperação entre o município de São Sebastião e o projeto Baleia Jubarte posicionou a cidade em definitivo na rota para avistamento de baleias –que, cada vez mais, têm dado as caras (e caudas) pelo litoral paulista.

"Ano passado foram cerca de 700 avistamentos. E esse número deve aumentar, porque as baleias vão se sentindo seguras e voltando cada vez mais", conta Jucilei Pereira da Silva, chefe da Secretaria de Turismo da cidade.

A parceria com o instituto baiano permitiu capacitar operadores de turismo e orientar moradores e visitantes de São Sebastião sobre conservação e boas práticas para o avistamento, que ocorre entre os meses de maio e julho. Entre as regras, é preciso ter o máximo de duas embarcações por grupo de baleias, manter ao menos 100 metros de distância dos animais e deixar o motor em neutro.

A presença privilegiada dos ecossistemas da mata atlântica, Serra do Mar e da Zona Costeira também permite à cidade abraçar o turista aventureiro e oferecer passeios com trilhas, cachoeiras e praias praticamente desertas. Entre elas, a de Calhetas, que tem areia branca e água translúcida –com um pouquinho de sorte, é possível avistar tartarugas. O acesso se dá por meio de uma caminhada de cerca de 15 minutos.

Seguindo por um caminho um pouco íngreme, mas possível de executar, o visitante chega à cachoeira de Calhetas e pode findar o passeio com um banho doce. Por ali, a chuva do ano passado deixou seu rastro e destruiu parte do trajeto –que já foi adaptado por outro acesso. Quem gosta de esportes radicais consegue praticar rapel nos seus quase 100 metros de queda d'água.

Iniciantes ou pessoas com medo de altura podem optar pelo rapel de Paúba, mais curtinho –apenas 10 metros–, mas que também rende boas fotos e frio na barriga. E assim, a cidade que vivenciou sua maior tragédia há um ano segue perseverante e tenta se recuperar. Adapta passeios ao gosto da freguesia e joga luz ao que sempre teve de melhor: suas belezas naturais.

A jornalista viajou a convite da secretaria de Turismo de São Sebastião

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