Descrição de chapéu França Além dos Jogos

Luberon, a três horas de Paris, une luxo, boa comida e belas paisagens

Região do sul da França é boa pedida para quem quiser esticar após Olimpíadas

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Bonnieux e Lourmarin (França) e São Paulo

Uma selfie nos campos de lavanda da Provença costuma estar no topo da lista de sonhos a realizar antes de morrer, ao lado de atividades como passear de gôndola em Veneza e visitar as pirâmides do Egito. Acontece que a lavanda, como boa planta que é, tem seu ciclo de desenvolvimento, e pode simplesmente não estar florindo nos meses em que o viajante consegue voar até a França.

Calma, que não é preciso trocar de destino. A Provença não tem valor só durante as floradas –afinal, nós sempre teremos as papoulas. Os pontinhos vermelhos espalhados pelos belos campos provençais são uma bela atração para quem, por qualquer motivo, não pode desembarcar na região entre junho e setembro.

Horizonte de Lourmarin, cidade medieval na região do maciço de Luberon, na Provença
Horizonte de Lourmarin, cidade medieval na região do maciço de Luberon, na Provença - Franck Guiziou/Hemis via AFP

Em maio, quando o clima é ameno e faz um calorzinho bom de dia (e uma friaca à noite), a Provença recebe o turista com o desabrochar colorido da papoula, comida boa e vinho excelente, sorvetes artesanais em cada esquina, e feiras de rua que tomam os vilarejos históricos.

Agora, nas Olimpíadas, a região pode ser um escape rápido da overdose de esgrima, badminton e arremesso de martelo. As provençais aldeias de Aix-en-Provence e Bonnieux, por exemplo, ficam a pouco mais de três horas de trem de Paris.

Luberon, que responde por um bom pedaço da Provença, é um maciço calcário que se ergue um pouco ao norte de Aix e que concentra algumas das locações mais pitorescas do sul da França. Pitorescas e exclusivas. Nos vilarejos do Luberon, casas medievais tornaram-sehotéis-boutique, propriedades rurais foram convertidas em hospedagens de alto luxo, ateliês e restaurantes premiados escondem-se nas vielas tortuosas.

Lá, uma placa chama a atenção de quem caminha por suas vielas. Ela diz assim: "Aqui, em 17 de abril de 1891, não se passou estritamente NADA". Ao pé do maciço e com apenas mil residentes fixos, a aldeia tem bar, tabacaria, boulangerie e épicerie fine —mal traduzindo, padaria/confeitaria e empório de comidinhas— para abastecer o piquenique.

Tem uma igreja muito velha e um castelo mais velho ainda. Tem um monumento aos mortos da Primeira Guerra e um monumento aos mortos da Segunda Guerra.

Bonnieux, por sua vez, é casa para um tantinho mais de gente: 1.417 habitantes, segundo o censo de 1999. Suas ruelas estreitas, muitas sem passagem para carros, são um convite para passeios a pé ou em bicicletas elétricas, como as que os hotéis de luxo da região oferecem aos seus hóspedes.

O recém-reformado Capelongue, por exemplo, tem 57 quartos e suítes decorados sem frescura, mas com o luxo sutil dos detalhes impressos na madeira, palha e tons terrosos da decoração, e nos mimos que tornam a hospedagem uma despreocupação só –ali, a única obrigação é apreciar a beleza local e descansar.

Não é difícil cumprir a tarefa. Um banho romano feito de lajotas avermelhadas, aonde se chega embrulhado em roupões brancos macios, faz o hóspede esquecer da vida enquanto viaja assistindo à mudança de iluminação colorida feita segundo os princípios da cromoterapia. No spa ao lado, massagistas habilidosas oferecem um vasto cardápio de terapias que priorizam o relaxamento, o embelezamento, ou os dois ao mesmo tempo.

Com a bike emprestada, dá para botar os músculos em movimento e pegar a estrada até a Ponte Julien, uma belíssima construção em arco feita de pedras, com 85 metros de comprimento e que data do ano 3 a.C. Nela, desde 2005 só passam pedestres e bicicletas, e abaixo de sua estrutura o rio passa manso, formando banquinhos de areia onde dá para apreciar a vista e quiçá encarar um piquenique no verão.

De volta ao hotel, vale experimentar os restaurantes La Bergerie, com sua comida baseada no fogão a lenha e vista panorâmica para boa parte de Bonnieux, e o La Bastide, com uma estrela Michelin e funcionando sob o comando do chef Noël Bérard. O menu com harmonização, à época da visita da reportagem, saía por cerca de 270 euros.

O desfile de pratos tem tartare de vitela com anchovas, enguia da laguna de Thau com caviar francês maturado, cogumelo porcini en crôute com espuma de tomilho, robalo, sela de cordeiro e queijos que chegam à mesa antes da sobremesa –um sorvete de azeitona preta de Nyons com chocolate e azeitonas confeitadas.

(A versão vegetariana do menu, com substituições criativas, segue a mesma estética dos pratos originais e não deixa em nada a desejar, fazendo a alegria também daqueles que abrem mão das abundantes carnes da cozinha francesa.)

Ainda no quesito hospedagem de luxo, a Provença tem também o Le Galinier, da mesma rede Beaumier. O hotel ocupa uma antiga chácara, ou, como se chama entre os iniciados, uma villa. A propriedade pode ser alugada inteira para eventos como casamentos cinematográficos. A cozinha faria bonito na casa de Alice Waters, o alecrim cresce feito mato por todo canto, e o quarto superior tem até banheira no mesmo ambiente da cama.

Campo de lavanda perto de Valensole, no sul da França
Campo de lavanda perto de Valensole, no sul da França - Nicolas Tucat/AFP

O restaurante do hotel Le Moulin, instalado onde já foi um moinho, bem no miolo da villa, serve fantásticos sabores da sorveteria local Ravi. Experimente os de azeitona, lavanda, verbena e o de amêndoas, um produto bem típico da região.

Atrás do hotel, uma das poucas ruas com trânsito de automóveis é fechada toda sexta-feira para o marché, a feira livre provençal. Todo dia é dia de feira no Luberon. Segunda-feira tem em Cavaillon, Forcalquier e Lauris; na terça, é em Apt, Saint-Saturnin e Gordes; e assim por diante. O calendário está na internet e em todos os hotéis e escritórios de turismo.

Essas feiras oferecem alimentos e outros produtos regionais. Se preferir conhecer os produtores in loco, uma tarde de rolê pelas estradinhas montanhosas resolve a questão. No vilarejo de Cucuron, a Domaine Les Conques-Soulière vende azeite à moda antiga: a granel.

O visitante leva a própria garrafa, galão ou qualquer outro vasilhame. Os proprietários, então, os enchem com o conteúdo que pescam dos tanques no fundo da loja, e cobram a venda por litro. Quem esquece o galão no hotel não precisa se preocupar: também é possível comprar o azeite engarrafado.

Os jornalistas Marcella Franco e Marcos Nogueira viajaram a convite da rede Beaumier

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