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humberto luiz peron

 

09/10/2012 - 17h00

Vida de jogador: o pacífico

Todo time tem um ou dois jogadores em seu elenco que são do tipo "pacífico". Uma característica forte nessa classe de profissional é que eles ficam mais tempo que o normal em um clube, mas quase sempre passam despercebidos durante esse período.

Esse jogador também é o que se dedica mais aos treinos, dificilmente foge de alguma atividade, nunca chega atrasado sempre responde sempre a qualquer pedido do treinador e nunca questiona suas ordens. Porém, apesar disso tudo, poucos percebem seu empenho, inclusive quando ele não entra em campo para treinar por estar machucado.

Com esse temperamento retraído, fica muito fácil transformar o "pacífico" no responsável por qualquer coisa de errado que aconteça com o time.

Caso a equipe esteja perdendo, é muito cômodo para o treinador tirar o "pacífico" de campo, pois sabe que o jogador não vai reclamar da substituição, e a torcida - e também os analistas - nunca vai criticar a troca, pois poucos se importam com a atuação dele em campo.

Mas o "pacífico" também não se ajuda. Quando, eventualmente, ele tem uma atuação digna de elogios, ao ser perguntado sobre seu dia de glória, o "pacífico" nunca fala de si. Ele prefere falar da equipe, do treinador, do companheiro que passou a bola, mas nunca ressalta como ele fez o time conquistar a vitória.

Aliás, em algumas oportunidades, esse tipo de jogador pode fazer bem ao elenco. Além de sua dedicação e espírito de equipe, quase sempre cabe ao "pacífico" receber e ambientar os atletas que chegam ao time - mesmo que, em curto espaço de tempo, esses novatos tirem seu lugar na equipe titular. Invariavelmente, ele também faz o papel de confidente, oferecendo um ombro amigo a algum companheiro que passa por algum problema.

O "pacífico" se mostra amigo de todos no clube - jogadores, comissão técnica, roupeiros, seguranças, porteiros - por tratar a todos igualmente. Mas, ao contrário do que pensa, isso o faz ficar muito isolado no elenco, já que ele não faz parte de nenhum grupo de jogadores, as chamadas panelinhas. Mesmo não sendo verdade, em muitos casos, por tentar se relacionar com o maior número de pessoas, o "pacífico" acaba sendo classificado como o famoso "leva e traz".

Esse tipo de jogador se sente frustrado, porque sabe que é melhor que muitos companheiros que conseguem ter destaque e ganhar muito mais. E, mesmo com muito tempo de clube, ele mantém acesa uma esperança de seu dia finalmente chegar e um clube rival enxergar todo o seu potencial. Mas é conformado com a demora, pois, para ele as coisas boas sempre tardam a chegar, em comparação com os outros atletas.

Ao mesmo tempo, conformado, ele sabe que não vai ter nenhum ganho substancial em sua carreira no time atual ele aceita ficar em segundo plano na equipe, porque acha que tem uma dívida de gratidão com o clube, já que este lhe deu uma oportunidade e seria difícil que outro clube pagasse seu salário.

No futebol, como na vida, os "pacíficos" nunca deixarão de ser simples coadjuvantes e têm tudo para cair no esquecimento.

Até a próxima!
Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE

Apesar de muitos desconfiarem, a contratação de Ronaldinho pelo Atlético-MG foi um grande acerto. Ele faz um campeonato excelente, tem se dedicado aos treinos e participado ativamente de todas as partidas do time no Brasileiro, sempre com boas atuações e regularidade. No jogo contra o Figueirense, mostrou que ainda pode ser considerado um grande jogador e que pode fazer a diferença.

ERA PARA SER DESTAQUE

Não vou citar o trabalho dos técnicos Gallo (Náutico) e Geninho (Portuguesa), pois seria uma tremenda injustiça. Eles estão em seus clubes desde o início do Campeonato Brasileiro - vale a pena dizer que os dois times fizerem campanhas pífias nos Estudais - e conseguiram com elencos modestos e sem muito investimento afastar seus clubes, com alguma tranquilidade, da zona do rebaixamento - que nesses casos pode ser comemorado como um título.

"VIDA DE JOGADOR"
Para mim, o futebol sempre foi muito mais do que uma simples partida de 90 minutos. É interessante saber um pouco mais o que pensam, como vivem, se divertem e sofrem os jogadores. Diferentemente do perfil do jogador que descrevi hoje, há outros textos baseados em histórias e depoimentos emocionados de boleiros. Para ter acesso a eles, você encontra os links logo abaixo - numa série de histórias publicadas aqui em "Futebol na Rede" que começam com o mesmo título: "Vida de jogador".

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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