Nem recessão impede redução de crimes pela metade no Reino Unido
Em meio a uma onda de más notícias na economia, o Reino Unido acaba de registrar os mais baixos índices oficiais de criminalidade em mais de três décadas.
Os dados, divulgados pelo órgão nacional de estatísticas ONS, mostram que o total de ocorrências do ano passado foi o menor desde o início da medição, em 1981.
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O ano com mais registros foi 1995. Desde então, os números têm caído a cada ano, com uma redução acumulada de 53% até 2012.
A conta inclui Inglaterra e País de Gales. Escócia e Irlanda do Norte, que também fazem parte do Reino Unido, fazem medições separadas.
Para pesquisadores ouvidos pela Folha, o fato de a economia britânica ter tido altos e baixos no período demonstra que a redução da criminalidade não está associada às finanças do país.
"Há indícios crescentes de que não existe uma ligação direta entre as condições econômicas e os níveis de criminalidade", afirmou à Folha Spencer Chainey, especialista em segurança da UCL (University College London).
"Não é só no Reino Unido. A Europa Ocidental e os Estados Unidos estão em crise há cinco anos, e a criminalidade continua caindo", acrescentou o pesquisador.
Um estudo recém-lançado pela universidade britânica sustenta que a queda da criminalidade não pode ser atribuída a uma única razão.
A receita incluiria vários fatores, como redução no uso de drogas, melhores tecnologias de segurança e técnicas modernas de policiamento.
O professor Nick Tilley, também da UCL, disse à reportagem que a crise econômica pode até ajudar a reduzir a incidência de determinados tipos de ocorrências.
"É um erro comum associar a recessão com o aumento da criminalidade. Na verdade, as taxas costumam subir mais quando a economia está crescendo", afirmou.
"Quando há mais dinheiro para beber, por exemplo, há mais ocorrências nas ruas. Pessoas alcoolizadas tendem a se envolver mais em brigas."
Com oito viagens ao Brasil no currículo, Chainey disse que o país não deve esperar melhoras na distribuição de renda para investir em estratégias de redução do crime.
"Se nós erradicarmos a pobreza no mundo a partir de hoje, o crime vai continuar existindo? Provavelmente, sim", afirmou o pesquisador.
"Os brasileiros não são mais violentos que outros povos. Mas o acesso às armas no país, por exemplo, é muito mais fácil do que na Grã-Bretanha. Isso estimula a prática de homicídios", explicou.
HOMICÍDIOS
De acordo com as estatísticas de homicídio compiladas até 2012 pelo UNODC, o escritório das Nações Unidas para drogas e armas, a taxa oficial de homicídios intencionais no Brasil chegava a 21,7 por 100 mil habitantes, segundo balanço oficial de 2009.
No Reino Unido, o mesmo índice era de 1,2.
Mesmo historicamente baixo, o número de homicídios em território britânico vem caindo nos últimos dez anos, segundo dados oficiais.
Entre abril de 2011 e março de 2012, foram registrados apenas 551 casos. Entre as razões mais citadas, estão a eficiência da Justiça e o controle rígido à posse de armas.
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