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 Dia 10.04.03

     

 

Repercussão da coluna: O ministro da Educação passa no vestibular?

Prezado Dimenstein,

Claro que eu apostaria que você não seria atingido pela lambança que grassa onipotente nas discussões opinativas sobre tema vestibular. Afinal, você é o jornalista brasileiro mais importante na área da educação. Acompanho sua trajetória desde o começo. Pouco importa o contra ou o a favor, seu trabalho é de primeira linha. Mas... perderia a aposta fácil. O seu artigo me revela que o buraco é muito maior do que eu pensava - além de ser tridimensional: vai bem de baixo até bem em cima.

Admirável seu PS. Só há um problema: não vale só para a literatura, vale para os conteúdos (disciplinas) do ensino pré-universitário, inclusive para as que não constam da estapafúrdia legislação educacional e, principalmente, dos programas dos exames vestibulares às nossas excelsas universidades. Todas as disciplinas são portas equivalentes de entrada para o mundo cultural do simbólico e do prático.

O encanto e o fascínio do conhecimento e do fazecimento estão espalhados por tudo quanto é lado - sem nenhuma distinção entre qualquer tipo de classificação (artificial) temática. Nos meus bons tempos de científico, eu curtia adoidado a resolução de equações de terceiro grau por métodos trigonométricos - sob a batuta do mestre Scipione di Pierro Netto. Prazer tão delicioso como ler Macunaíma (já ultrapassei a marca de 50 leituras completas, fora o picadinho).

O vestibular não vai acabar. E a turma que propõe o sorteio deveria ser um pouco coerente (?) e completar a proposta: vamos sortear emprego, partida de futebol, cargo político (inclusive os do executivo), vencedor de invasão militar, mulher, salário, doença, sexo (este não vale: é democraticamente sorteado pela genética natural - logo, logo vira coisa engenheirada no Homo sapiens), comida e morte.

Qualquer que seja a solução (?) para o vestibular - a do ministro, por exemplo, tipo português + matemática - o efeito é um só. O sistema adapta-se instantaneamente: escolas e cursinhos jogarão todos os recursos disponíveis somente nestas duas disciplinas. É fácil imaginar os resultados práticos e imediatos desta solução maravilhosa, proposta por quem também não tem a menor idéia do que é, realmente, o fenômeno do vestibular e, por conseqüência, não sabe, também, o que é o sistema de ensino pré-universitário.

Enquanto isso, o vestibular continua a ser o saco de pancada dos "críticos" da educação brasileira. Pura perda tempo. Já faz um bom tempo que a tecnologia de produção das provas é muito boa (em termos até internacionais) e a probabilidade de fraude está praticamente reduzida a zero - fui da banca de física da Fundação Carlos Chagas durante cerca de 8 anos; preparei vestibulares para o Brasil inteiro e pude comparar resultados vindos de todos os quadrantes nacionais e internacionais; nos bons tempos do começo da encrenca a fraude era o principal problema (chegamos a trabalhar sob proteção policial).

O diabo é que, 30 anos depois, continuo a ouvir as mesmas bobagens que sempre foram ditas o mais irresponsavelmente possível, inclusive por ilustres educadores. É compreensível: o vestibular é a face mais visível do sistema de ensino pré-universitário - é 100% pública. Acontece que a face escura é que rica em desafios. Mas isto é assunto para outra ocasião.

Sobre o tema "decoreba", cuidado: a armadilha é fatal. Toda a aprendizagem é baseada na decoreba e, segundo, não existe decoreba, memorização, sem significado. Aprender é reter informação. Caso contrário, não há o que gerenciar.

Pare para e pense no seu caso: você é um imenso arquivo de informação, todas significativas e estruturalmente montadas, ficando o conjunto sempre em atividade contínua. Talvez você não saiba qual é cor de suas meias - lógico, não é significativo para o seu trabalho, nem para a sua rotina. E, felizmente, não dependemos da escola para aprender a aprender (esta afirmativa é uma das besteiradas da UNESCO & CIA). A capacidade de aprender é totalmente inata.

Deus seria muito burro para esperar a escola começar a funcionar 7 anos depois do nosso nascimento. Nascemos como a mais sofisticada máquina de existir (e de aprender). Você, por exemplo, antes dos 7 anos de idade, já dominava perfeitamente nossa língua materna. E também, antes dos 7 anos, você dominava perfeitamente todas as operações lógicas necessárias para chegar facilmente à idade produtiva e reprodutiva - só recentemente chamaram um pedaço deste troço de matemática.

Nassif, L.A.L.

 

 
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