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Repercussão
da coluna: O
ministro da Educação passa no vestibular?
Prezado
Dimenstein,
Claro que eu apostaria que você não seria
atingido pela lambança que grassa onipotente
nas discussões opinativas sobre tema vestibular.
Afinal, você é o jornalista brasileiro
mais importante na área da educação.
Acompanho sua trajetória desde o começo.
Pouco importa o contra ou o a favor, seu trabalho é
de primeira linha. Mas... perderia a aposta fácil.
O seu artigo me revela que o buraco é muito maior
do que eu pensava - além de ser tridimensional:
vai bem de baixo até bem em cima.
Admirável
seu PS. Só há um problema: não
vale só para a literatura, vale para os conteúdos
(disciplinas) do ensino pré-universitário,
inclusive para as que não constam da estapafúrdia
legislação educacional e, principalmente,
dos programas dos exames vestibulares às nossas
excelsas universidades. Todas as disciplinas são
portas equivalentes de entrada para o mundo cultural
do simbólico e do prático.
O
encanto e o fascínio do conhecimento e do fazecimento
estão espalhados por tudo quanto é lado
- sem nenhuma distinção entre qualquer
tipo de classificação (artificial) temática.
Nos meus bons tempos de científico, eu curtia
adoidado a resolução de equações
de terceiro grau por métodos trigonométricos
- sob a batuta do mestre Scipione di Pierro Netto. Prazer
tão delicioso como ler Macunaíma (já
ultrapassei a marca de 50 leituras completas, fora o
picadinho).
O
vestibular não vai acabar. E a turma que propõe
o sorteio deveria ser um pouco coerente (?) e completar
a proposta: vamos sortear emprego, partida de futebol,
cargo político (inclusive os do executivo), vencedor
de invasão militar, mulher, salário, doença,
sexo (este não vale: é democraticamente
sorteado pela genética natural - logo, logo vira
coisa engenheirada no Homo sapiens), comida e morte.
Qualquer
que seja a solução (?) para o vestibular
- a do ministro, por exemplo, tipo português +
matemática - o efeito é um só.
O sistema adapta-se instantaneamente: escolas e cursinhos
jogarão todos os recursos disponíveis
somente nestas duas disciplinas. É fácil
imaginar os resultados práticos e imediatos desta
solução maravilhosa, proposta por quem
também não tem a menor idéia do
que é, realmente, o fenômeno do vestibular
e, por conseqüência, não sabe, também,
o que é o sistema de ensino pré-universitário.
Enquanto
isso, o vestibular continua a ser o saco de pancada
dos "críticos" da educação
brasileira. Pura perda tempo. Já faz um bom tempo
que a tecnologia de produção das provas
é muito boa (em termos até internacionais)
e a probabilidade de fraude está praticamente
reduzida a zero - fui da banca de física da Fundação
Carlos Chagas durante cerca de 8 anos; preparei vestibulares
para o Brasil inteiro e pude comparar resultados vindos
de todos os quadrantes nacionais e internacionais; nos
bons tempos do começo da encrenca a fraude era
o principal problema (chegamos a trabalhar sob proteção
policial).
O
diabo é que, 30 anos depois, continuo a ouvir
as mesmas bobagens que sempre foram ditas o mais irresponsavelmente
possível, inclusive por ilustres educadores.
É compreensível: o vestibular é
a face mais visível do sistema de ensino pré-universitário
- é 100% pública. Acontece que a face
escura é que rica em desafios. Mas isto é
assunto para outra ocasião.
Sobre
o tema "decoreba", cuidado: a armadilha é
fatal. Toda a aprendizagem é baseada na decoreba
e, segundo, não existe decoreba, memorização,
sem significado. Aprender é reter informação.
Caso contrário, não há o que gerenciar.
Pare
para e pense no seu caso: você é um imenso
arquivo de informação, todas significativas
e estruturalmente montadas, ficando o conjunto sempre
em atividade contínua. Talvez você não
saiba qual é cor de suas meias - lógico,
não é significativo para o seu trabalho,
nem para a sua rotina. E, felizmente, não dependemos
da escola para aprender a aprender (esta afirmativa
é uma das besteiradas da UNESCO & CIA). A
capacidade de aprender é totalmente inata.
Deus
seria muito burro para esperar a escola começar
a funcionar 7 anos depois do nosso nascimento. Nascemos
como a mais sofisticada máquina de existir (e
de aprender). Você, por exemplo, antes dos 7 anos
de idade, já dominava perfeitamente nossa língua
materna. E também, antes dos 7 anos, você
dominava perfeitamente todas as operações
lógicas necessárias para chegar facilmente
à idade produtiva e reprodutiva - só recentemente
chamaram um pedaço deste troço de matemática.
Nassif,
L.A.L.
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