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Sábado, 23 de setembro de 2000

Speed

José Henrique Mariante
     


Na terceira tentativa de alcançar a América, a F-1 corre neste fim-de-semana em Indianápolis, o templo do automobilismo mundial.

Como nas vezes anteriores, nada de romântico existe na atual aproximação. Apenas conquistar o polpudo mercado norte-americano, atrair patrocinadores locais, enfim, buscar faturar alto no único ponto do planeta em que a F-1 é algo, para dizer o mínimo, exótico.

Sim, exótico, a ponto de a mídia do país passar a semana tentando explicar por que diabos a corrida começa com os carros parados, por que a prova será disputada no sentido horário (um "absurdo" em se tratando de Indianápolis), por que um time gasta US$ 200 milhões e, mais importante, por que a categoria tem poucas ultrapassagens.

Ultrapassagem é o aspecto fundamental do automobilismo norte-americano. Usando de diversos expedientes, eles desenvolveram um esporte a motor de espetáculo. Com um carro decente, qualquer um pode largar do fim do grid e ir ultrapassando, numa frenética movimentação, digna de um episódio do Speed Racer.

Como a aventura do desenho não pode ser transferida para a realidade, a saída foi criar alguns artifícios, o principal deles, nivelar a coisa por baixo. E é só por isso que um time da Nascar gasta míseros US$ 15 milhões por temporada, correndo o dobro de corridas.

Faz parte do ideário americano. Qualquer um pode comprar um carro e fazer dele o que quiser na garagem de sua casa.

O inverso acontece na Europa. A idéia do automobilismo está necessariamente ligada ao refinamento _devido a desigualdade social, o mesmo acontece no bananal.

Não por acaso as grandes marcas de luxo são todas européias.

E essa lógica se transfere para a F-1 de forma tão violenta, que o requinte tecnológico beira o extremo, fazendo com que o esporte se torne algo cada vez mais complexo, elitista até, mas de enorme aceitação pelo público.

Fazer um norte-americano médio digerir isso, porém, é algo quase impossível.

E a saída para Bernie Ecclestone e sua turma foi tentar transferir a missão para aquilo que o público local mais preza em termos de automobilismo, o irresistível dinossauro chamado Indianápolis.

A reação inicial foi muito boa, já que 200 mil ingressos foram comercializados com facilidade _a conta pode chegar a 240 mil, se a coisa emplacar de fato neste fim-de-semana.

A prova de fogo, porém, será a corrida. A disputa entre Ferrari e McLaren terá que ser para valer, como foi em algumas corridas na Europa.

Caso contrário, não vai ter cerveja que chegue para ajudar a F-1 descer goela americana abaixo.

*

Bem, o muro pode ajudar também. Afinal, a presença do Mercedes na pista, além de estar se tornando um verdadeiro hábito na F-1, será algo até aguardado pelas arquibancadas.



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