Laurie Anderson une pop e política em show
Em 5.000 anos, o homem poderá transferir toda a indústria para Marte e a superfície lunar. Com maior controle sobre a população, a Terra voltaria ao estado de jardim do Éden. Não são previsões de nenhum cientista, mas de Laurie Anderson, que também acha que animais cuspidores de fogo poderiam substituir o uso de combustíveis fósseis para acender fogões nas cozinhas terráqueas.
O novo disco da cantora-artista-performer, "Homeland", cujas faixas ela apresenta em shows hoje e amanhã no Sesc Pinheiros, em São Paulo, vem carregado desse discurso um tanto bizarro, bastante desesperado para salvar o mundo.
Ela é casada com Lou Reed, do Velvet Underground, e trouxe a poesia sci-fi de William Burroughs para o mundo da música, além de ter dirigido o clássico cult "Home of the Brave", juntando artes visuais e o mundo pop.
Foi a primeira artista residente da Nasa e, depois de conhecer laboratórios espaciais e jatos propulsores ultrapotentes, ela quis voltar ao jardim do Éden.
"Mas os chineses dizem que são donos da lua", ela diz. "E isto é um problema." Enquanto essa questão não se resolve, Anderson está trabalhando na campanha presidencial de Barack Obama. Ela liga para possíveis eleitores e ajuda a arrecadar fundos.
"A arte tem ferramentas muito afiadas, a música é capaz de convencer pessoas a fazerem as coisas", diz Anderson à Folha. "Mas não faço um show para Obama porque é muito século 19 achar que arte pode fazer o mundo um lugar melhor."
Mundo privatizado
Mais politizada do que nunca em "Homeland", Anderson afirma que o novo disco é sobre "o que significa viver num mundo em que tudo foi privatizado". "A Guerra do Iraque, as prisões americanas são controladas por empresas privadas", ataca Anderson.
"Estou tentando enxergar o mundo pelos filtros da guerra e do amor." Mas isso ela faz sem mudar muito o estilo. Apesar da nova tecnologia que emprega nos shows, dos samples e sets de DJ, sua música continua presa aos anos 80, com sintetizadores marcados.
É a impressão que se tem, por exemplo, ao ouvir seu clássico "Language Is a Virus from Outer Space" e a atual "The Lost Art of Conversation", que devem muito à influência de Burroughs e do músico experimental John Cage.
No novo repertório, Cage continua uma referência. Quando o conheceu, já octogenário, ela lembra que o perguntou se o mundo estava ficando melhor ou pior. "Ele não hesitou e disse que com certeza estava melhor, me deu uma felicidade absurda."
Laurie Anderson
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo; tel. 0/ xx/11/3095-9400)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 7 anos
Quanto: R$ 40
Livraria da Folha
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