Na Bienal, Tony Bellotto fala sobre processo criativo, rock e literatura
Ainda que Tony Bellotto seja escritor há algum tempo --com "Machu Picchu", sua mais nova obra, chega ao oitavo romance de sua carreira--, ainda é como guitarrista dos Titãs que ele é mais reconhecido pelo público. Mas, nesta quarta-feira (4), na Bienal do Livro do Rio, ele respondeu a perguntas dos leitores e ouvintes de rock sobre um aspecto que une as duas carreiras: inspiração.
Dentro da programação do Acampamento Literário, ele falou sobre o novo título, que trata basicamente de relações familiares conturbadas. Em "Machu Picchu", pai, mãe e filho refletem sobre suas vidas enquanto estão retidos em um mesmo engarrafamento no Rio, mas em pontos diferentes da cidade.
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"Família tem o mesmo sentido desde o tempo das cavernas. A gente não conhece outra maneira de existir que não seja em família", explicou.
Mesmo que "Bellini e a Esfinge", o primeiro livro de Bellotto, tenha sido publicado há 18 anos, ainda gera curiosidade a conversão do guitarrista renomado em escritor. Na plateia, autores em seus primeiros passos na área pediram abertamente dicas ao titã romancista.
"Muito importante é ter disciplina, o que só descobri com o tempo. Desde garoto, sempre quis ser escritor, mas nunca tive disciplina. Outra coisa é não ser muito exigente consigo mesmo e controlar a ansiedade. Achar ruim o que escreveu é normal, mas quem se exige muito não consegue escrever nada", disse.
Bellotto descreveu seu processo criativo. Disse que costuma anotar ideias e repassar para um arquivo no computador.
"O grande teste é saber se eu me lembro daquela ideia com o passar de alguns dias. Se sim, a ideia pode virar letra de música ou até um texto. Se não, é porque não era muito interessante", disse.
Apesar dos 18 anos de estrada na literatura, Bellotto disse que o músico ainda vem antes do escritor no conjunto de sua criação.
"Sempre me considerei mais músico. No começo achava pedante me apresentar como escritor mas, depois de oito livros, já admito ser guitarrista de rock e escritor", afirmou, para em seguida complementar: "tocar é mais prazeroso do que escrever, no sentido da responsabilidade é bem mais tranquilo. O escritor é muito sozinho".
Mais tarde, Bellotto participou de uma mesa de debate do programa Café Literário dentro da Bienal. Ao lado dos escritores João Paulo Cuenca e Antônio Torres, ele discutiu a dúvida maior que envolve os autores de todos os tempos e de todos os lugares: por que, por quem e para quem escrevo?
"Escrevo para organizar melhor as inquietações. Já com a música, era uma necessidade de ser visto, já que eu era ruim de bola e ficava de fora do futebol", brincou, provocando risos na plateia.
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