'Puzzle' monta retrato crítico e poético do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt
Na saída do último ensaio de "Puzzle" na Pompeia, zona oeste de São Paulo, uma semana atrás, a atriz Georgette Fadel disse que ninguém deve esperar teatro turístico, da peça que estreia nesta terça-feira (8) na Feira do Livro de Frankfurt. "Não, não é festinha de Carnaval. Não vamos para vender o Brasil."
A peça, como diz o nome, "Puzzle" (que significa quebra-cabeça ou enigma), título de um conto de Amílcar Bettega Barbosa, é uma reunião de textos e fragmentos de autores brasileiros contemporâneos.
"Mas com enfoque particular do Felipe Hirsch num retrato violento, crítico, e ao mesmo tempo poético, muito terno", diz ela.
Hirsch é o diretor do espetáculo, produzido pela Funarte e pelo Sesc São Paulo. "O orçamento era superlimitado, mas aí o Sesc entrou e possibilitou esse grupo de pessoas", diz ele. Além de Fadel, participam atores como Isabel Teixeira, Magali Biff e Marat Descartes. Também há a cenografia de Daniela Thomas e a música de Arthur de Faria.
Em entrevista na sala de ensaios, horas antes de embarcar, o diretor confirmou: "Claro, é uma apresentação da nossa literatura, mas, dentro do convite que foi feito, eu queria acertar contas com o país. Então, é uma leitura violenta. Este é um país terrível, que maltrata".
O espetáculo tem três partes. As duas primeiras concentram "este Brasil assustador". De início, "questões como os protestos [de junho], as redes sociais". Depois, descreve Hirsch, "o Itaim Bibi do [escritor] André Sant'Anna, com o ingresso da classe média e dos novos ricos no consumo desenfreado".
E tem a terceira parte. "A gente vai de oito a 80", diz Fadel. "Passa de textos difíceis de ouvir de tão cruéis, ultranaturalistas, até os mais líricos. E tem uma linha: das tendências para destruir, tornar tudo um caos, tanto que tem o 'Kaos' do Jorge Mautner, até o Juliano Pessanha, que saiu disso tudo."
CONFESSIONAL
Hirsch conta que Mautner não estava previsto e entrou depois, porque "se encaixava perfeitamente na conclusão". Por outro lado, a jovem autora Carol Bensimon, "um talento, uma pegada muito original", ficou de fora. "A gente não encontrou espaço na partitura do espetáculo."
A partitura termina menos social e mais "sobre literatura, imagens, uma outra coisa, bastante íntima". O diretor diz que não queria "acabar puramente no Brasil". A terceira parte resulta "bastante confessional, sobre aquilo que a literatura faz com quem escreve e com quem lê.
Ao longo da apresentação, as marcas da cenografia são papel e tinta, descreve ele: "A gente está falando o tempo todo, 'papel é papel'. Na Alemanha, onde Gutenberg prensou a 'Bíblia', o papel ganha muita força. E os editores hoje, em Frankfurt, já se veem mais como revendedores de direitos e menos como editores, porque a gente está se despedindo do papel."
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