Fim da pirataria nas águas da Somália passa pelo solo, diz analista
O vácuo de poder na Somália fomentou a criação de bandos de piratas, e apenas a restauração da ordem acabará com as milícias marítimas, afirma o International Crisis Group (ICG). Formado no início do ano no vizinho Djibuti, sob patrocínio da ONU, e ainda sem controle sobre o território somali, sem Orçamento ou Forças Armadas, o governo provisório lidera promissor processo de reconciliação nacional.
Entenda os ataques de piratas na Somália
A inclusão de islamistas moderados no governo provisório foi um passo crucial para estabilizar o país, disse à Folha Fouad Hikmat, diretor do ICG no Chifre da África. "Houve uma guinada pragmática sobre a Somália, uma mudança de posição da comunidade internacional", afirmou. Otimista sobre o futuro da Somália, ele ressalva, porém, que ainda não há condições efetivas para governar o país.
Hoje endossado pelo Ocidente e favorável a intervenção da ONU, Ahmed presidiu o Conselho da União dos Tribunais Islâmicos (UTI), que governou a Somália em 2006, até ser derrubado por tropas etíopes apoiadas pelos EUA. A intervenção externa fortaleceu os grupos mais radicais da UTI, já desgastada pela dificuldade de costurar consensos.
A pirataria é um sintoma de uma longa crise que só se resolverá em solo, diz Hikmat. Estado falido, a Somália não tem governo central efetivo desde 1991, quando a ditadura pró-soviética de Siad Barré desintegrou-se em conflitos clânicos.
A costa somali, estratégica para a navegação internacional, tornou-se alvo de pesca ilegal, crimes ecológicos e contrabando. Foi quando antigos pescadores, arruinados, uniram-se a grupos armados, formando milícias marítimas que passaram a assediar navios.
O negócio prosperou, criando uma audaciosa rede criminal. Inicialmente restritos à zona costeira, os piratas passaram a atuar em alto-mar, usando navios-mãe, com orientação por GPS. Eles sequestram embarcações e exigem resgate para devolver navios e cargas.
Os tripulantes capturados, "seguro de vida" dos piratas, raramente são feridos --não há registro de assassinatos de reféns pelos bandos--, mas podem ser regateados. O preço dos seguros de navios que passam por águas somalis aumentou dez vezes, segundo o instituto de pesquisas Chatham House. A conta da extorsão é rateada por consumidores obrigados a pagar mais pelos importados.
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