Uruguaios promovem marcha contra decisão judicial
Milhares de pessoas foram às ruas do centro de Montevidéu na noite desta segunda-feira para protestar contra uma decisão da Corte Suprema do Uruguai que revoltou grupos de direitos humanos e agravou uma crise na cúpula do governo José Mujica.
Na sexta, os juízes determinaram inconstitucional uma lei que definia crimes cometidos por militares durante a última ditadura (1973-1985) como imprescritíveis.
A notícia teve impacto negativo entre familiares de vítimas e setores da esquerda uruguaia, especialmente da coalizão governista, a Frente Ampla. Durante a manifestação, as pessoas cantaram o hino uruguaio e mostraram cartazes insultando os juízes.
Os protestos também se referiam ao afastamento da juíza Mariana Mota, responsável por várias causas de direitos humanos. Mota foi subitamente transferida para a área civil.
Iván Franco/Efe | ||
Mulher protesta em Montevidéu com cartaz em que se lê: "a morte de vidas humanas não prescreve" |
Uma das principais vozes que se levantaram contra as decisões da Corte foi a da primeira-dama do país, Lucía Topolansky, que, assim como o presidente Mujica, foi integrante do movimento guerrilheiro Tupamaros durante o regime militar.
"A pergunta essencial é: 'houve ou não houve ditadura? Houve. Houve ou não houve mortos? Sim e alguém os matou." Topolansky defendeu que a decisão fosse questionada pelo Estado.
A posição da primeira-dama diverge da do próprio presidente, que de um modo geral defende que os crimes da ditadura devem ser tratados como página virada.
"A Frente Ampla está dividida e a posição de Mujica vai de encontro à da esquerda mais tradicional de onde ele veio. Vai de encontro, também, ao que aconteceu no mundo depois que surgiram o juiz Baltasar Garzón, os julgamentos na Argentina", disse à Folha Adolfo Garce, cientista político da Universidad de la República.
PACTO
No Uruguai, militares e guerrilheiros foram anistiados nos anos 80 por meio de leis surgidas na gestão de Julio Maria Sanguinetti. Em 2005, durante o governo de Tabaré Vázquez (Frente Ampla), porém, alguns julgamentos tiveram lugar, devido a brechas na legislação.
"Há uma questão política e outra técnica em jogo, que não coincidem. O que a sociedade está fazendo é exigir essa coerência. E, principalmente, saber se houve ou não um pacto secreto de não julgar os militares", diz Garce.
Ontem, três ex-presidentes do país, Sanguinetti, Battle e Lacalle, declararam conjuntamente que era um perigo o "retorno de atitudes antidemocráticas", como qualificaram as pressões sobre a Corte Suprema.
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