Após chamar morte de Chávez de "milagre", Franco diz nunca "desejar a morte"
O presidente do Paraguai, Federico Franco, reavaliou nesta quinta-feira um comentário em que definiu como um "milagre" a morte do líder da Venezuela, Hugo Chávez, e pelo qual o chanceler venezuelano, Elías Jaua, o chamou de "escória humana".
Durante sua visita a Washington, Franco quis "esclarecer" os comentários que fez durante sua estadia esta semana em Madri, "por ter sido mal interpretado, ou talvez pelo chanceler venezuelano não ter recebido a informação".
"Eu, como ser humano, jamais desejo a morte de ninguém. Quando aconteceu a morte do presidente Chávez, expressamos como governo nosso pêsame à família e ao povo da Venezuela", disse em entrevista coletiva após intervir em um ato no centro de estudos Diálogo Interamericano.
"Evidentemente o fato de que o presidente Chávez não é mais presidente faz com que a relação da América, pelo menos do Paraguai, com a Venezuela seja diferente", continuou.
Franco acrescentou que "respeita" a "interpretação" do chanceler venezuelano, mas minimizou a importância do ataque contra si.
"Cada vez que o chanceler da Venezuela, antes [o atual presidente interino, Nicolás] Maduro e agora o atual, falam mal de mim, eu continuo ganhando medalhas (...) em meu país", disse.
Chávez morreu 5 de março em Caracas em consequência de um câncer que combateu desde meados de 2011 e pelo que afrontou quatro operações assim como tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
Franco, que chegou ao poder em junho do ano passado, depois que o Congresso destituiu em um controverso julgamento político o então presidente Fernando Lugo, acusou Chávez de apoiar o EPP (Exército do Povo Paraguaio), um grupo armado que opera nas regiões florestadas do nordeste do Paraguai.
O líder paraguaio alegou hoje que seu governo "tem todas as fotos, todos os registros de pessoas que foram treinadas e protegidas na época do presidente Chávez", e assegurou que se seu país for readmitido no Mercosul e "se houver as condições", os entregará aos presidentes desse bloco, "incluído Venezuela".
Assim que o Paraguai foi suspenso, Argentina, Brasil e Uruguai admitiram como membro a Venezuela, cuja incorporação estava bloqueada há anos pela recusa do Parlamento paraguaio a ratificar o tratado de adesão.
Franco reiterou que a entrada da Venezuela "é claramente ilegal", e afirmou que "se há um país que se sente orgulhoso de ter refreado o crescimento do eixo bolivariano no Mercosul, é o Paraguai".
Segundo sua opinião, antes de assumir o poder e antes da morte de Chávez, "uma ideologia estranha e estrangeira como a bolivariana estava estendendo seus tentáculos para poder fazer da América Latina e Paraguai um lugar onde se implemente a luta de classes".
"Acho que a Venezuela não será a mesma coisa sem Chávez. Com todo respeito", acrescentou Franco.
"Faço votos para que quando a democracia for restabelecida na Venezuela o presidente se encarregue de governar seu país e permita que os outros países sigam com sua autodeterminação. Que não tenha nenhum tipo de ingerência nem política nem econômica", insistiu.
Franco evitou se pronunciar sobre o futuro do movimento bolivariano sem Chávez e sobre a possibilidade de que o líder equatoriano, Rafael Correa, tome o bastão.
"Uns dizem Correa, outros dizem Evo [Morales]. Vejo que o ambiente dentro do eixo bolivariano esta dividido, vamos deixar que eles decidam", concluiu.
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