China nega que ajudou delator de espionagem a deixar Hong Kong
A China negou nesta terça-feira as acusações dos Estados Unidos de ter ajudado o técnico em informática Edward Snowden, que denunciou o esquema de espionagem de telefone e internet feito pelos americanos, a sair de Hong Kong.
Snowden deixou a cidade no último domingo (23), um dia após Washington pedir sua extradição por vazar informações sobre os programas da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) de monitoramento de telefones nos Estados Unidos e de dados de usuários de internet de todo o mundo.
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Segundo o WikiLeaks, o delator chegou anteontem a Moscou e está a caminho do Equador, país ao qual pediu asilo diplomático. As informações da entrada do técnico em território russo não são confirmadas pelo Kremlin, embora integrantes do governo e a imprensa russa tenham dito que ele passou por lá.
Na segunda (24), o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou que a saída de Snowden não foi permitida por uma falha no pedido de extradição, mas por "uma escolha deliberada" das autoridades de Hong Kong e da China.
Para a Chancelaria chinesa, as acusações americanas são infundadas e inaceitáveis. "Não é razoável por parte dos Estados Unidos questionar a gestão de Hong Kong de seus assuntos de acordo com a lei", disse a porta-voz do ministério, Hua Chunying.
Perguntada sobre se este fato terá um "impacto negativo" nas relações com os Estados Unidos, como afirmou a Casa Branca, Hua se limitou a afirmar que mantê-las em bom estado "serve aos interesses fundamentais de ambos os países".
Em seu pronunciamento, Carney afirmou que a saída do delator foi "um regresso na relação de confiança mútua com a China" e disse que as autoridades locais foram avisadas sobre a ilegalidade da viagem.
"Não aceitamos a versão de que foi uma decisão técnica do Departamento de Imigração de Hong Kong. Essa decisão inquestionavelmente afeta a relação entre China e Estados Unidos".
RÚSSIA
Mais cedo, o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que Snowden não cruzou a fronteira russa e que o país não tem "nada a ver" com o delator e seus problemas com a Justiça americana. Ele, no entanto, não confirmou se ele está em trânsito no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou.
"(Snowden) escolheu ele mesmo sua rota, da qual nós nos inteiramos pelos meios de comunicação. Ele não cruzou a fronteira russa", afirmou em entrevista coletiva, citado por agências russas.
Um funcionário do aeroporto de Moscou disse à agência de notícias Reuters que Snowden esteve no local junto com a assessora do WikiLeaks Sarah Harrison. Os dois chegaram no domingo à tarde e deveriam ter ido à Havana na manhã de segunda, mas não o fizeram.
Para Lavrov, as acusações americanas de que a Rússia viola as leis internacionais no caso são inaceitáveis e infundadas. Ele considera que não há fundamentação jurídica para a pressão do governo americano pela extradição. Moscou e Washington não têm tratado bilateral de extradição.
Ex-assistente técnico da CIA e funcionário da Booz Allen Hamilton, prestadora de serviços no setor de defesa, Snowden trabalhava para a NSA há quatro anos, como representante da Booz Allen e de outras empresas, como a Dell.
A NSA, cujo material foi divulgado por Snowden, é uma das organizações mais sigilosas do mundo. De acordo com as informações apresentadas pelo delator, a agência monitorou os registros de ligações de milhões de telefones da Verizon, segunda maior companhia telefônica dos EUA.
Também foram verificados dados de usuários de internet de todo o mundo em empresas de internet como Google, Facebook, Microsoft e Apple. O escândalo causou críticas ao presidente Barack Obama, que combateu a espionagem feita pelas agências quando fazia oposição ao republicano George W. Bush.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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