Novo chanceler defende respeito à hierarquia e obediência dos servidores
O novo ministro das Relações Exteriores afirmou nesta quarta-feira (28) que elementos como obediência e "respeito à institucionalidade" são "imperativos do serviço público".
O discurso ocorreu na tarde de hoje em cerimônia de transmissão de cargo no Palácio do Itamaraty. Luiz Alberto Figueiredo assume a partir de hoje a chefia da pasta, em substituição a Antonio Patriota.
A troca de comando foi feita após o então encarregado de negócios na embaixada brasileira na Bolívia, Eduardo Saboia, ter atravessado a fronteira com o senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado no posto havia 15 meses. A ação foi realizada sem aviso prévio à Brasília.
"O Itamaraty que eu entendo não é apenas aquele que responde bem aos desafios, é o que tem ideias, propostas e pensamento estratégico. Mas também é aquele que atua decisivamente no cumprimento das instruções recebidas e no estrito respeito à lei", disse Figueiredo.
Esse tema também foi abordado durante a fala de Patriota, ovacionado de pé em salão de eventos do palácio.
"Não estaremos num bom caminho se permitirmos que se percam aspectos essenciais de nossa cultura institucional, como o princípio da hierarquia, já mencionado pelo embaixador patriota", afirmou Figueiredo.
O novo chanceler ponderou, no entanto, que a hierarquia "não exclui o debate de ideias nem a consideração de pluralidade de perspectivas". "Queremos um Itamaraty arejado, rico em discussões e estudos, aberto a novos conceitos. Mas o debate de ideias tão pouco exclui a obediência e o respeito à institucionalidade. Esses são imperativos do serviço público", concluiu.
Figueiredo elogiou o desempenho de seu colega à frente da pasta e disse que Patriota "reúne de forma superlativa as qualidades de um grande diplomata". Ele lembrou ainda que ambos iniciaram a carreira na mesma divisão do ministério. "[Passávamos] o dia inteiro um olhando para o outro", afirmou, arrancando risadas da plateia.
"Esse contato diário formou uma amizade de vida inteira, que só se fortaleceu nesses últimos anos.eu devo ao Antonio oportunidades importantes da minha carreira", disse.
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Luiz Alberto Figueiredo (dir.) discursa durante sua cerimônia de posse em Brasília; ao lado, o ex-chanceler Antonio Patriota |
ASSÉDIO
Figueiredo destacou ainda que dará atenção a questões administrativas da pasta.
"Quero dizer que vou dedicar-me a casa e a suas necessidades. Todos os membros do serviço exterior e os demais funcionários terão em mim um defensor incansável de melhores condições de trabalho", disse.
O novo chanceler afirmou que no Itamaraty "tão pouco há lugar para discriminação de qualquer espécie. Comportamentos desse tipo não serão tolerados na minha gestão". Recentemente, dois diplomatas foram denunciados por servidores do consulado-geral do Brasil em Sidney por episódios de abuso e humilhação.
CADEIAS DE COMANDO
Em sua fala, Antonio Patriota também ressaltou a importância de obediência à hierarquia. Mais cedo, em cerimônia de posse do novo chanceler no Palácio do Planalto, ele já havia criticado a decisão de Eduardo Saboia.
"Já não há espaço no Itamaraty de hoje para práticas e comportamentos que não reflitam uma ética de respeito recíproca e uma atitude a um só tempo profissional e humana", disse para uma plateia de diplomatas.
Patriota afirmou ser "imprescindível o respeito à hierarquia e às cadeias de comando".
"Sem isso, correríamos o risco de desencadear processos e consequências imprevisíveis e capazes de acarretar prejuízos à nossa coesão, nossa credibilidade, nossa capacidade de ação e habilidade para exercer influência para solucionar questões, até mesmo aquelas com componente humanitário e de proteção aos direitos humanos", afirmou em seu discurso.
À frente do ministério desde o início do governo da presidente Dilma Rousseff, Patriota afirmou que o cargo de ministro "foi a experiência mais gratificante" de sua vida profissional.
Figueiredo elogiou o desempenho de seu colega à frente da pasta e lembrou que ambos iniciaram a carreira na mesma divisão do ministério. "[Passávamos] o dia inteiro um olhando para o outro", afirmou, arrancando risadas da plateia.
"Esse contato diário formou uma amizade de vida inteira, que só se fortaleceu nesses últimos anos. Eu devo ao Antonio oportunidades importantes da minha carreira", disse.
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