Especialistas descartam "nova Guerra Fria" entre EUA e Rússia
Acadêmicos ouvidos pela Folha descartam que o atrito entre EUA e Rússia se converta numa "nova Guerra Fria" e acham pouco provável que Vladimir Putin vá além da anexação da Crimeia.
Para a professora Gulnaz Sharafutdinova, do Instituto sobre Rússia do King's College de Londres, Putin pode ser considerado politicamente vencedor a curto prazo, mas, numa perspectiva mais longa, a Ucrânia leva vantagem.
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"Vejo a Ucrânia como vencedora a longo prazo porque ficará mais clara e forte sua relação política e financeira com o Ocidente", diz ela, que vive em Londres, mas nasceu na República do Tartaristão, membro da Federação Russa.
"O Ocidente aceitou que a Crimeia é parte da Rússia: vemos isso pelas sanções leves impostas como resposta ao referendo. É algo como 'OK, essa é nossa resposta, mas será mais forte se vocês forem adiante'. E Putin respondeu que não quer desmembrar a Ucrânia. Não temos opção a não ser acreditar", ressalta.
"Tudo vai depender também da estabilização da situação no leste da Ucrânia, de como Kiev reagirá à população russa", acrescenta.
Para Sharafutdinova, vai demorar para as relações entre Moscou e o Ocidente –principalmente entre Putin e o presidente americano, Barack Obama– serem restabelecidas. "Não vejo para breve um retorno das relações comerciais entre Rússia e o Ocidente ao que eram antes, assim como não creio que Putin vá se mostrar mais agressivo em relação à Ucrânia".
Para ela, não é o caso ainda de falar em Guerra Fria: "Essa crise é resultado de assuntos que não foram resolvidos após o fim da União Soviética. A União Europeia cresceu, mas não mudou as fronteiras. Na verdade, essa unificação europeia nunca ocorreu. O que vejo é uma reação do lado russo a isso".
A mesma análise faz a professora britânica Natasha Kuhrt, especialista acadêmica em política internacional e guerra. "Nem o Ocidente nem Putin querem a volta da Guerra Fria. E Obama não tinha opções: precisava dar uma resposta, e era o máximo que ele podia fazer", diz.
Para ela, Putin também se aproveitou de um contexto interno favorável na Rússia. "Com um discurso nacionalista e a popularidade em alta, ele se sentiu legitimado a agir. Mas não creio que vá avançar. A Crimeia é mais fácil; seguir adiante, não", diz.
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