Manifestantes chamam presidente do México de 'fujão' por viajar ao exterior
Manifestantes no Centro Histórico da capital mexicana chamavam o presidente Enrique Peña Nieto, 48, de "fujão" e "ladrão" na segunda-feira (10) à noite, em um dos protestos diários que têm se repetido na cidade pelo desaparecimento de 43 normalistas no Estado de Guerrero. Familiares das vítimas encabeçaram a marcha.
O presidente mexicano está em Pequim para a cúpula dos países da Apec e depois vai para a Austrália para a cúpula do G20. Ele só volta ao seu país no sábado (15). Sua viagem foi autorizada pelo Senado.
Pablo Martinez Monsivais/AFP | ||
Presidente do México, Enrique Peña Nieto, participa de cúpula da Apec, em Pequim |
Os protestos se espalharam pelo país. O aeroporto de Acapulco, um dos maiores centros turísticos mexicanos, ficou bloqueado por quatro horas por manifestantes. Um bloqueio similar foi convocado para sexta-feira (14) no aeroporto Benito Juárez, da Cidade do México, o segundo mais movimentado da América Latina, depois de Cumbica.
Na maior crise do governo do presidente do Partido Revolucionário Institucional (PRI), no cargo desde dezembro de 2012, os familiares dos desaparecidos dizem que a viagem é uma "irresponsabilidade" e mostra de que é insensível.
Segundo pesquisa do jornal Milenio, 65% dos mexicanos acham que os 43 estudantes estão mortos. A Procuradoria-Geral da República acredita que foram assassinados e queimados.
Outros escândalos se somam à tragédia. O blog da jornalista Carmen Aristegui revelou que a mulher de Peña Nieto, a ex-atriz de novelas da Televisa Angelica Rivera, possui uma casa avaliada em US$ 7 milhões em nome de uma empreiteira com vários negócios com o governo mexicano. A mansão já foi apelidada de "Casa Branca 2" pelos mexicanos.
Ao viajar para as duas cúpulas internacionais, Peña Nieto estará ausente da abertura dos Jogos Centroamericanos e do Caribe, uma Olimpíada regional, em Veracruz, no litoral mexicano.
Comentaristas políticos dizem que Peña Nieto escapou do que seria uma vaia monumental no estádio local e fazem paralelos com as vaias contra o presidente Gustavo Díaz Ordaz no Estádio Azteca na Olimpíada de 1968, logo apos um massacre de estudantes diante do Tlatelolco, o antigo Ministério das Relações Exteriores mexicano.
O protesto de segunda foi bastante pacífico, ao contrário de outro no sábado (8) à noite, no Zócalo, a maior praça da capital, quando grupos atiraram fogo e destruíram parte das centenárias portas do Palácio Nacional, a imponente sede da época dos vice-reis espanhóis que é decorado com os maiores murais do pintor Diego Rivera.
O palácio não abriga mais a Presidência da República e só é utilizado para recepções oficiais.
Porta-vozes do governo têm defendido a viagem do presidente pela "importância que dá ao comércio internacional". Extraoficialmente, ele também teria ido explicar pessoalmente o cancelamento de uma licitação vencida por um consórcio encabeçado por empresas chinesas para a construção de um trem rápido entre a Cidade do México e Querétaro.
O negócio cancelado era de US$ 3,75 bilhões e havia sido aprovado no dia 3. Quatro dias depois, com acusações de favorecimento a uma empresa ligada ao cunhado do ex-presidente Carlos Salinas de Gotari, Hipolito Gerard, o negócio foi cancelado.
O governo disse que fará nova licitação para tirar qualquer dúvida da lisura da concorrência.
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