Na China, presidente mexicano se blinda contra polêmicas
Pressionado por um escândalo doméstico e uma "saia justa" com o governo da China, o presidente do México, Enrique Peña Nieto, evitou assuntos polêmicos após se encontrar nesta quinta (13) com o líder chinês, Xi Jinping.
A entrevista coletiva que havia sido convocada na semana passada limitou-se a um pronunciamento, sem perguntas. Alguns jornalistas convidados para a coletiva, entre eles o correspondente da Folha, foram impedidos pela segurança de chegar ao Palácio do Povo, em Pequim, onde Peña Nieto e Xi se reuniram.
Peña Nieto foi criticado no seu país por ter viajado em um momento delicado, quando a população cobra respostas sobre o desaparecimento de 43 estudantes em uma emboscada feita por policiais e traficantes em setembro.
Liu Weibing/Xinhua | ||
Os presidentes da China, Xi Jinping (esq.), e do México, Enrique Peña Nieto, com suas mulheres |
Na sexta-feira, o governo do México causou enorme espanto na China ao revogar uma licitação de US$ 3,7 bilhões vencida por uma firma chinesa. O projeto, de trens de alta velocidade, havia sido aprovado apenas três dias antes.
As autoridades mexicanas alegaram que o cancelamento fora decidido pelo presidente para afastar "dúvidas do público" sobre a lisura da concorrência, na qual só houve uma oferta, da estatal chinesa CRCC (China Railway Construction Corp). A licitação será refeita.
Uma nova polêmica desabou sobre Peña Nieto no domingo. Segundo documentos revelados por uma reportagem, uma mansão de US$ 7 milhões da primeira-dama estaria em nome da construtora Teya.
Trata-se de uma unidade do Grupo Higa, um dos parceiros mexicanos no consórcio liderado pela CRCC, que levou o contrato para a ferrovia, posteriormente revogado.
O cancelamento abrupto chocou os chineses. A intensa promoção da tecnologia nacional de trens de alta velocidade no exterior é prioridade do Estado, uma campanha que já ficou conhecida como "diplomacia ferroviária".
O contrato revogado seria o primeiro obtido pela China para a construção de todo o processo da linha de trens, que teria 210 km e ligaria a cidade do México a Qerétaro (centro do país).
Antes do cancelamento, o tema foi tratado com euforia na imprensa oficial e chegou a ser manchete do "China Daily", maior diário em inglês da China.
"A empresa está extraordinariamente chocada com a decisão do México", afirmou a CRCC em um comunicado. A estatal confirmou que estuda possíveis medidas legais para "proteger seus interesses".
Após encontro com o presidente mexicano na segunda, o premiê chinês, Li Keqiang, lamentou a revogação e disse que espera que as firmas do países tenham um tratamento justo.
Li afirmou, porém, que empresas chinesas continuarão a concorrer a licitações em projetos de infraestrutura no México. Geralmente sorridente, o premiê posou de cara fechada para as fotos ao lado de Peña Nieto.
Nesta quarta, o presidente mexicano fez um pronunciamento após reunir-se com o líder chinês, Xi Jinping, mas não tocou no assunto.
No encontro foram assinados 14 acordos econômicos, num total de US$ 7,4 bilhões. Peña Nieto disse esperar que a relações entre os dois países encontrem "espaço para maior aproximação, fraternidade, respeito e, o mais importante, confiança mútua".
 
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