Provável saída de Rubio expõe falência da cúpula republicana
Quem, um ano atrás, preveria que a esta altura da disputa entre burricos e elefantinhos pela Casa Branca os republicanos —cujo símbolo é o elefante— estariam discutindo a sério se vão de Donald Trump, o magnata cor de laranja, ou de Ted Cruz, uma espécie de Trump com filtro?
Para a oposição ao governo do presidente Barack Obama, as votações desta terça-feira (15) serão decisivas para definir se a disputa interna do partido —com 12 pré-candidatos no início das prévias — ficará restrita a esses dois líderes.
(Para os democratas, que têm por símbolo o burro, o peso desta terça é menor: apesar do susto com a vitória recente de Bernie Sanders em Michigan, a candidata da cúpula do partido, Hillary Clinton, tem larga vantagem graças ao apoio dos superdelegados, que podem votar na convenção que escolherá o candidato à Presidência, em julho, sem seguir as urnas.)
Dos quatro republicanos ainda na corrida, dois jogam em casa: John Kasich em Ohio, Estado que governa, e Marco Rubio na Flórida, pela qual é senador. Embora tenha hoje zero chance de obter a indicação, o moderado Kasich lidera as pesquisas em sua área.
'NOVA SUPERTERÇA' - Favoritos nas prévias dos Estados e delegados em jogo*
Mas Rubio, terceiro em total de delegados (atrás de Trump e Cruz) e tido como última esperança do establishment do partido, arrisca-se a levar um 7 a 1 no seu "Mineirão". Na segunda (14), na média das pesquisas compiladas pelo site Real Clear Politics, estava quase 20 pontos atrás do bilionário alaranjado.
Pior: a Flórida, assim como Ohio, é um Estado "the winner takes it all" (o vencedor leva todos os delegados em disputa: no caso, 99 dos 1.237 necessários para assegurar a candidatura republicana).
Uma derrota nessas circunstâncias seria, para o senador, mais dramática que a música homônima do ABBA. Pode mesmo significar a implosão da sua candidatura.
FORA DO CENTRO
Se de fato Rubio implodir, será como consequência de anos do GOP ("grand old party", apelido dado aos republicanos nos EUA) insuflando ou, no mínimo, tolerando malucos para os quais "centrismo" é defeito moral grave.
Nos últimos pleitos, o processo das prévias resultava num nome mais ou menos de centro que se via obrigado a fazer acenos à direita, como John McCain escolhendo Sarah Palin para vice em 2008.
Neste ano, os eleitores republicanos parecem ter decidido eliminar intermediários e ir direto ao que o velho slogan da Coca-Cola chamava "the real thing": uma celebridade de TV que diz em média uma barbaridade por semana e defende coisas como erguer um muro na fronteira com o México —pago pelos mexicanos. E os dirigentes do partido ficaram reféns disso.
Que um ultraconservador como Cruz —assim como Trump, o senador defende deportar do país todos os 11 milhões de imigrantes ilegais— soe razoável na comparação só mostra quão fora do centro o processo está.
A história recente dos EUA mostra que os dois grandes partidos do país levaram algumas das maiores surras eleitorais quando optaram por candidaturas mais longe do centro: à direita, o republicano Barry Goldwater em 1964; à esquerda, o democrata George McGovern em 1972.
Isso permitiria prever vitória fácil de Hillary caso os favoritos, ela e Trump, de fato se consagrem candidatos nas convenções.
Mas a experiência —que o poeta inglês Coleridge comparava a uma lanterna instalada na popa do navio— pode não servir para iluminar a atual campanha.
Talvez seja o caso de o Huffington Post, que a princípio se negou a cobrir a campanha de Trump na seção de política, colocar a eleição toda sob a rubrica "entretenimento", subseção "notícias bizarras".
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