Diferença apertada acirra clima após eleição presidencial no Peru
A perspectiva de um novo presidente que vença por uma margem muito pequena de votos alimentou um clima de discussão aguerrida entre membros dos principais partidos políticos peruanos.
Se confirmada a tendência dos números da contagem feita pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol), o economista Pedro Pablo Kuczynski venceria Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000).
Com 95% das atas eleitorais contabilizadas, PPK (como é conhecido Kuczynski) tem 50,15% dos votos, contra 49,84% da rival —uma diferença de 50,8 mil votos entre os dois conservadores, com pouco mais de um milhão de votos a serem apurados.
Guadalupe Pardo/Reuters | ||
O candidato presidencial peruano Pedro Pablo Kuczynski (PPK) acena para aliados em casa em Lima |
Se PPK for eleito, uma de suas principais dificuldades serão a de lidar com um Congresso em que terá apenas 18 deputados de sua aliança.
Das 130 cadeiras, o fujimorismo ocupará 71 a partir de 27 de julho, mesma data da posse presidencial. Os socialistas terão 20, e forças importantes como o APRA (Alianza Popular Revolucionária Americana) e partidos menores dividirão as demais vagas.
"Esperamos que PPK demonstre que realmente quer não apenas o diálogo, mas também negociar com os partidos por um governo de consenso, porque precisa de nosso apoio", afirma o congressista Javier Velazquez Quesquén, do APRA.
SOCIALISTAS
Uma das responsáveis pelo aumento repentino da votação de Kuczynski no segundo turno foi a socialista Verónika Mendoza, que ficou em terceiro lugar na primeira etapa da eleição e anunciou seu apoio ao economista poucos dias antes da votação. Ela diz, porém, que os socialistas não participarão do governo.
"A Frente Ampla será oposição desde o primeiro dia. Oposição vigilante e democrática. Quisemos que PPK vencesse para derrotar o fujimorismo, mas só isso, não concordamos com seu programa", disse à Folha.
Entre os fujimoristas, ainda havia confiança na tarde desta segunda (6) na possibilidade de recuperação. O porta-voz da campanha, Pedro Spadaro, afirmou que Keiko está confiante com chegada de votos na região rural. "A distância é muito curta. Estamos esperando com bom humor e confiança."
Se for o caso de o partido ficar na oposição, porém, o congressista Hector Becerril afirma que "o sonho foi apenas adiado". "Recomeçaremos o trabalho para a próxima eleição."
Um dos fatores que parecem ter abalado o partido nas últimas semanas foi o afastamento de Kenji Fujimori, irmão caçula de Keiko.
Deputado mais votado pelos peruanos, Kenji fez campanha e permaneceu ao lado da irmã durante todo o primeiro turno. Após 10 de abril, porém, fez uma declaração por Twitter que irritou Keiko, e os dois se afastaram.
Kenji disse que, se a irmã não conseguisse vencer desta vez —é sua segunda tentativa—, ele queria ser o candidato à Presidência em 2021 (o mandato no Peru é de cinco anos sem possibilidade de reeleição consecutiva).
Logo depois, pediu desculpas e afirmou que seu apoio a Keiko era incondicional.
Os veículos de imprensa locais davam a cisão entre os irmãos como terminada até que, no domingo (5), Kenji não apareceu para votar, alegando questões de saúde.
Políticos fujimoristas se irritaram. "Ele deveria ter ido mesmo em cadeira de rodas, nada justifica [a ausência]. Kenji deveria ter votado e estado presente", disse a deputada Luisa Maria Cuculiza.
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