Onda de saques no Estado venezuelano de Sucre termina com 400 presos
Mais de 400 pessoas foram presas sob acusação de participar de uma onda de saques que semeou medo e caos na quarta-feira em Cumaná, capital do Estado de Sucre, no leste da Venezuela.
As detenções foram anunciadas na TV pelo governador Luis Acuña, chavista. Ele negou relatos da oposição de que houve duas mortes durante os distúrbios.
Mas Acuña admitiu que os saques surgem porque, num país onde a distribuição de alimentos está sob forte controle estatal, autoridades não conseguem atender necessidades da população.
"Lidamos com um volume de alimentos que não é a totalidade do que precisamos para o pleno abastecimento. Tivemos dificuldades na rede publica e privada", disse.
Ecoando declarações do presidente Nicolás Maduro, ele atribuiu a ação a "vândalos" supostamente pagos pela oposição. Acuña afirmou que a situação já voltou à normalidade. Moradores relatam presença policial e militar na cidade de 374 mil habitantes.
Mesmo cada vez mais familiarizados com saques, venezuelanos ficaram chocados com a magnitude dos eventos em Cumaná, onde dezenas de lojas foram depredadas.
Imagens nas redes sociais mostraram clima de anarquia generalizada. Um dos vídeos mostra uma policial aproveitando o caos para levar algo que aparenta ser um carregamento de suco de fruta.
Alguns venezuelanos já se referem aos eventos como "Cumanazo", em referência ao "Caracazo", onda de saques e protestos contra a pobreza, em 1989, que começou em Caracas e se espalhou pelo país, deixando centenas de mortos.
Segundo a ONG Observatório Venezuelano da Violência, há uma média de dez tentativas diárias de saque pelo país. Ao menos três pessoas morreram nos últimos dias em meio à violência relacionada aos saques, segundo a agência de notícias Reuters.
Ataques ao comércio se acirram à medida em que o país afunda numa espiral de desabastecimento, inflação e anarquia que inferniza a vida da maior parte dos 30 milhões de habitantes do país.
A oposição culpa políticas chavistas como expropriações e controles de preço e de câmbio, que arruinaram o setor produtivo. Com apoio internacional, inclusive do Brasil, opositores tentam organizar um referendo para abreviar a Presidência de Maduro, eleito em 2013 para um mandato de seis anos.
Maduro diz que a crise é fruto de uma "guerra econômica" orquestrada por empresários que, segundo ele, fomentam caos para sabotar o modelo socialista.
'USURPAÇÃO DE PODER'
O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, suprema corte) acatou nesta quarta-feira pedido chavista para impor medida cautelar contra a mesa diretora da Assembleia Nacional (controlada pela oposição) por "usurpar funções do Executivo" na área diplomática.
A medida é vista como possível manobra para impedir o presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, de viajar à sede da OEA (Organização dos Estados Americanos), no próximo dia 23, para pedir que a Venezuela seja suspensa do órgão por violar a Carta Democrática.
Em outra sentença por abuso de função, o TSJ já havia decretado que a oposição viola a lei ao pedir a governos estrangeiros e órgãos multilaterais o envio de remédios para atenuar efeitos do colapso do sistema de saúde no país.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis