Capacidade de reinvenção britânica é forte, diz embaixador no Brasil
Poucas horas após os britânicos decidirem pela saída da União Europeia, o embaixador britânico no Brasil, Alexander Ellis, ainda preferia manter a cautela sobre o cenário de incertezas gerado pelo plebiscito: uma possível nova consulta sobre a separação da Escócia, o futuro dos imigrantes no país, a sucessão do premiê David Cameron.
No entanto, esboçava otimismo com um futuro britânico fora do bloco europeu.
"As bases do Reino Unido não mudam. Somos uma das maiores economias do mundo, um dos países mais internacionais. A capacidade de reinvenção do país é forte", disse Ellis, filho de um inglês e uma escocesa, à Folha.
Para o diplomata, que é embaixador no Brasil há três anos, é "natural" que o plebiscito tenha sido tão acirrado, e a divisão da população —com grande parcela de insatisfeitos com a saída do bloco— faz "parte da democracia".
"Esse é um momento de reconciliação. Temos que olhar para frente e entender um pouco mais [o que motivou a resposta dada pelos britânicos nas urnas]", afirmou Ellis.
O embaixador evitou falar sobre os argumentos que teriam garantido a vitória do "Brexit", mas admitiu que "a relação do Reino Unido com a União Europeia foi sempre difícil, diferente dos outros Estados-membros".
"Não entramos na primeira onda", disse, referindo-se aos quase 16 anos em que os britânicos ficaram de fora da então Comunidade Econômica Europeia, até entrarem no bloco, em 1973.
Ao ser questionado sobre a possível realização de um segundo plebiscito na Escócia sobre a independência do Reino Unido, Ellis afirmou que é cedo para calcular esse tipo de reflexo político. "O que temos certeza é que vamos sair da União Europeia, o resto é especulação", disse.
Na manhã desta sexta (24), a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, declarou que a discussão sobre uma nova consulta "está sobre a mesa".
BRASIL
O embaixador, que se encontrou na sexta com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a relação comercial e as parcerias com o Brasil serão mantidas, só que "em um contexto diferente".
"Temos muitas pautas com o Brasil em várias áreas, como infraestrutura, investimentos, mercados financeiros. Ainda continuamos com muita coisa para fazer", afirmou.
Com a decisão de sair da União Europeia, o Reino Unido também ficará de fora das negociações do acordo comercial entre o bloco e o Mercosul. Ellis, contudo, diz que seu país sempre vai "buscar acordos que podem abrir mercados". "Se mantém a nossa ambição para ter uma relação comercial mais próxima ainda com o Brasil."
Sobre o futuro dos imigrantes europeus no Reino Unido —e também de brasileiros com cidadania europeia—, ele repetiu a declaração de Cameron de que nada muda por enquanto. "No futuro, vamos ver", ponderou.
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