Equilíbrio em debate não estanca a sangria da candidatura de Trump
Donald Trump pode ter evitado um naufrágio com o desempenho acima do esperado no segundo debate presidencial do último domingo (9), mas sua candidatura continua a afundar.
Depois de perder o apoio de dezenas de políticos republicanos, dizendo-se chocados com a divulgação de um vídeo de 2005 em que o bilionário faz comentários obscenos sobre mulheres, nesta segunda (10) Trump sofreu mais um duro golpe, com a decisão do principal líder do partido, Paul Ryan, de também abandonar o barco.
Presidente da Câmara dos Deputados, Ryan disse a parlamentares republicanos que não aparecerá mais ao lado de Trump na campanha e que sua prioridade é salvar a maioria do partido no Congresso nas eleições legislativas, disputadas com a votação para presidente, em 8 de novembro.
Jim Young/Reuters | ||
O candidato republicano Donald Trump fala durante debate com a democrata Hillary Clinton |
A decisão foi interpretada como um reconhecimento implícito da derrota republicana na corrida presidencial. Ryan afirmou aos legisladores que seu foco é evitar que a candidata democrata, Hillary Clinton, assuma a Presidência em janeiro com maioria no Congresso.
A impressão de que a candidatura de Trump entrou em queda livre após o mais recente escândalo foi reforçada por uma nova pesquisa da NBC e do "Wall Street Journal", em que Hillary aparece 14 pontos percentuais na frente, a maior vantagem até agora.
A sondagem, com 500 pessoas, foi feita após a divulgação do vídeo, mas antes do debate. Na média de pesquisas nacionais do site "RealClearPolitics", Hillary está 5,8 pontos à frente de Trump, depois de registrar empate técnico há apenas duas semanas.
Pressionado a sair da disputa em meio à revolta crescente em seu partido, o bilionário disse que há "chance zero" de desistir e partiu para o ataque contra o líder republicano. "Paul Ryan deveria passar mais tempo no equilíbrio do orçamento, em empregos e na imigração ilegal e não perder tempo brigando com o candidato republicano", rebateu numa rede social.
Mas a perspectiva de entregar a Casa Branca de bandeja a Hillary também gerou indignação na linha-dura do partido opositor, deixando mais claro o racha com que os republicanos entram na reta final da campanha.
O deputado Dana Rohrabacher chamou de "covardes" os correligionários que se afastaram de Trump. Diante do rebuliço causado por seu anúncio, Ryan afirmou mais tarde que não havia retirado seu endosso a Trump, apenas estava defendendo os interesses do partido.
Ao longo da campanha, Ryan não escondeu sua relutância em apoiar o bilionário, mas acabou cedendo depois que Trump ganhou com sobras a disputa no partido. Em sua conversa com os legisladores, ele disse que eles deveriam "fazer tudo o que puderem pelo bem de seus distritos", dando-lhes sinal verde para se afastar de Trump, se necessário para serem eleitos.
Hoje os republicanos controlam ambas as casas do Congresso —o Senado com uma maioria de 54 a 44, e a Câmara por 247 a 188. Analistas estimam que a hegemonia está sob risco sobretudo no Senado, responsável por votações importantes como a aprovação dos juízes do Supremo.
Irritado com a sangria de apoio republicano à sua candidatura, Trump ameaçou retaliar dissidentes, a quem chamou de "hipócritas". Animada com seu desempenho no segundo debate, após uma semana de inferno astral, a campanha do empresário passou o dia seguinte enviando mensagens a seus seguidores encorajando-os a mobilizar-se contra os ataques "da mídia, establishment e políticos profissionais".
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