Guterres quer que Brasil lidere diálogo em conflitos e sugere reforma na ONU
Escolhido para se tornar o novo secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres elogiou nesta segunda-feira (31) a legislação brasileira para acolhimento de refugiados e defendeu que o país assuma papel de diálogo para solucionar conflitos globais.
Em encontro com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto, o ex-premiê português ressaltou que o país tem uma política externa independente, desvinculada de grandes blocos econômicos e militares, o que pode ajudá-lo a cumprir um papel de mediador global.
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Presidente Michel Temer (à dir.) recebe em Brasília o futuro secretário-geral da ONU, António Guterres |
Ele também observou que a tradição na defesa dos direitos humanos credencia o Brasil a cumprir um papel importante em um mundo "em transição" e que "caminha para a multipolaridade".
Segundo Guterres, a comunidade internacional perdeu a capacidade de prevenir ou solucionar conflitos mundiais e as atuais potências internacionais têm tido dificuldades de se compreenderem mutuamente.
"A comunidade internacional perdeu grande parte de sua capacidade em matéria de prevenção e resolução de conflitos. E uma das razões para isso é o fato das relações de poder serem cada vez menos claras e, portanto, é cada vez mais difícil de se criar uma ordem internacional organizada", disse.
Para ele, o mundo vive atualmente uma "grave crise em relação à paz e à segurança internacional" e tanto as grandes potências como as potências regionais têm tido dificuldades em criarem condições de confiança para solucionarem os conflitos armados.
Ele ressaltou que as apreciações das potências mundiais são por vezes "distintas do que são as prioridades" e avaliou que os conflitos regionais têm aumentado de complexidade e estão cada vez mais interligados em uma "ameaça geral de terrorismo".
"Neste momento, é para mim perfeitamente evidente que as apreciações das grandes potências umas em relações às outras, e as apreciações de grupos importantes de países uns em relação aos outros, são profundamente disfuncionais", afirmou.
Guterres foi chefe do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e tem uma tradição na defesa dos direitos humanos.
CONSELHO DE SEGURANÇA
Também nesta segunda, Guterres, que assumirá o cargo no ano que vem, defendeu uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.
O ex-premiê português evitou responder, contudo, se concorda com a reivindicação do Brasil de assegurar um assento permanente no Conselho de Segurança.
"A ONU precisa em muitos aspectos de reformas para se tornar mais eficaz e uma orientação que seja mais ligada aos tempos de hoje e não aos tempos de sua formação. E, como disse [o ex-secretário-geral] Kofi Annan, não haverá uma reforma da ONU completa enquanto o Conselho de Segurança não se reformar", disse.
Guterres observou, contudo, que a responsabilidade de promover mudanças é dos países membros, mas que ele, como futuro secretário-geral, deve facilitar o diálogo para que seja possível modernizar a entidade mundial.
O próximo secretário-geral da ONU viajou a Brasília para participar da 11ª conferência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O encontro contará com as participações dos presidente de Portugal, Angola, Cabo Verde e Timor Leste.
MICHEL TEMER
Em encontro também no Palácio do Planalto, Temer assinou um acordo bilateral com o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, para desenvolvimento da indústria da aviação civil.
Ele pediu ainda o apoio de Fonseca para a recondução de Antônio Augusto Cançado para a Corte Internacional de Justiça e de Gilberto Sabóia para a Comissão de Direito Internacional.
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