Depoimento de pivô de escândalo agrava crise política na Coreia do Sul
A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, enfrenta tempos de mares agitados.
Vive um inusitado escândalo político, com uma narrativa que inclui a proximidade com um guru religioso, uma conhecida investigada por tráfico de influência (e que perdeu um pé de seu sapato Prada no meio da multidão) e rumores da existência de um grupo informal de assessores (apelidadas de as "oito fadas").
A pivô do escândalo que ameaça o governo é Choi Soon-sil, 60, detida nesta terça (1º) para prestar depoimento às autoridades pelo segundo dia seguido.
31.out.2016/AFP Photo/Yonhap | ||
Choi chora ao chegar a prédio da promotoria em Seul; "cometi um pecado que merece morte", disse |
Choi é investigada por tráfico de influência e corrupção devido a suspeitas de que usou sua conexão de décadas com a presidente para extorquir os principais conglomerados econômicos do país.
O escândalo, que provoca frenesi no país —e nas redes sociais pelo mundo—, levou Park a exonerar assessores de confiança e a enfrentar pressões por seu impeachment, na opinião pública e nas ruas.
Segundo o jornal "The Korea Times" publicou nesta terça (1º), a aprovação de Park despencou desde a semana passada, passando de já baixos 17,5% para 10,4%.
Para piorar, a presidente ouviu a vizinha Coreia do Norte chamar sua administração de "a mais deformada, anormal e estúpida na sociedade contemporânea".
Na semana passada, em meio a especulações, a presidente reconheceu que Choi havia editado alguns de seus primeiros discursos e oferecido ajuda nas relações públicas do governo.
Mas investiga-se se essa relação não ia além, com uma participação maior nos assuntos do governo, embora Choi não fosse funcionária.
O jornal "The Korea Herald" menciona a existência das "oito fadas", um suposto grupo de conselheiros não oficiais que teriam amplo acesso à presidente Park.
Nesta segunda-feira (31), enquanto tentava entrar no prédio da Promotoria em Seul para prestar depoimento, a pivô do escândalo foi hostilizada por uma multidão.
"Por favor, me perdoem", disse Choi aos prantos. "Eu cometi um pecado que merece a morte", disse, usando uma expressão comum de profundo arrependimento.
Em meio ao caos, ela perdeu um pé do sapato Prada que usava. Manifestantes exibiram o calçado perdido e ironizaram Choi, referindo-se a ela como "Soonderela" —em referência ao conto infantil.
AMIGAS
Os meios de comunicação locais descrevem Choi como uma "Rasputina", em alusão a Rasputin, o místico que exerceu grande influência sobre um czar russo no início do século 20. Choi relia e corrigia os discursos da presidente e até mesmo a aconselhava em nomeações.
A pivô é filha de uma misteriosa figura religiosa, Choi-Tae-Min, chefe autoproclamado da Igreja da Vida Eterna, que atuou como uma espécie de mentor de Park depois do assassinato de sua mãe, em 1974. Há relatos que ele teria convencido Park sobre seu poder de se comunicar com a mãe assassinada –o que ele negou em uma entrevista concedida em 1990.
A natureza do relacionamento de Park com a família Choi é, há um tempo, alvo de especulação na Coreia do Sul.
"Há rumores frequentes que o pastor, já morto, tinha controle completo sobre o corpo e a alma de Park em seus anos de formação", descreveu um telegrama diplomático dos EUA de 2007, vazado pelo WikiLeaks.
Nesta terça (1º), a polícia deteve um homem que avançou com uma escavadeira em direção à Promotoria. Segundo policiais, o suspeito, identificado como Jeong, disse que, "já que Choi afirmou ter cometido um pecado que merece a morte, eu vim aqui ajudá-la a morrer".
Frente ao escândalo, a Coreia do Norte disse que o caos político é o resultado de um regime corrupto. O "Rodong Sinmun", jornal oficial do partido, afirmou que a administração Park é "a mais deformada, anormal e estúpida na sociedade contemporânea" e disse que a presidente é um "boneco colonial".
Kim Do-hoon/Yonhap via AP | ||
Policiais investigam prédio atingido por escavadeira em Seoul; suspeito foi preso |
Nesta quarta (2), o governo sul-coreano anunciou a demissão do primeiro-ministro, Hwang Kyo-Ahn, informou o porta-voz da Presidência Jung Youn-Kuk.
Hwang Kyo-Ahn foi demitido "diante da atual situação" e como parte de uma reorganização do gabinete para criar um ambiente "neutro", disse o porta-voz em referência ao escândalo, que tem levado milhares de pessoas a exigirem a renúncia da presidente.
O porta-voz Jung Youn-Kuk explicou que além do premier, Hwang Kyo-Ahn, serão demitidos os ministros das Finanças e da Segurança Pública.
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