Candidatos conservadores focam restrições migratórias na França
Diogo Bercito/Folhapress | ||
Manifestantes protestam contra o candidato François Fillon (direita) em Calais, no noroeste da França |
A menos de uma semana do primeiro turno das eleições francesas, na urgente tarefa de angariar os votos dos indecisos, o conservador François Fillon dedicou a terça-feira (18) à crise migratória.
Ele visitou a cidade de Calais, no nordeste do país, onde havia até novembro do ano passado um populoso campo de refugiados.
Marine Le Pen, candidata da extrema direita, tinha abordado o mesmo assunto na noite anterior durante um comício em Paris.
Pascal Rossignol - 17.abr.2017/Reuters | ||
Marine Le Pen, da extrema direita, quer acabar com vistos de longa duração se for presidente da França |
Os gestos coincidem com as pesquisas de opinião: a migração é uma das prioridades dos eleitores, em especial daqueles que pensam em votar nas siglas de centro e extrema direita. O primeiro turno será em 23 de abril, e o segundo, em 7 de maio.
De acordo com uma sondagem publicada pela OpinionWay em 31 de março, essa é a principal preocupação de 37% dos eleitores.
A porcentagem sobe para 50% entre os eleitores do partido Republicanos, representado por Fillon, e para 75% entre quem vota na Frente Nacional, de Le Pen.
Ciente de que o assunto interessa a três quartos de seus eleitores, Le Pen anunciou no comício de segunda-feira (17) a sua intenção de suspender os vistos de longa duração. Ela reiterou esses planos durante uma entrevista no dia seguinte.
Seriam afetados principalmente aqueles que pedem a autorização para mudar-se à França e reunir-se ali com seus familiares, afirmou.
Fillon disse em seguida que a proposta de Le Pen "não faz sentido", mas insistiu na necessidade de que a França regule a migração, estabelecendo cotas ao fluxo. "Devemos aceitar os estudantes. Sem os médicos estrangeiros em nossos hospitais, eles não funcionariam."
Christian Hartmann/Reuters | ||
François Fillon chega, acompanhado de aliados políticos ao antigo centro de imigrantes de Calais |
SELVA
A visita de Fillon a Calais teve especial simbolismo. Esse campo de refugiados foi um dos principais temas políticos dos últimos anos, até ser encerrado pelas autoridades em novembro.
Calais é tão atraente a refugiados porque serve de passagem entre França e Reino Unido, um dos destinos sonhados por quem deixou países como Síria e Afeganistão.
As condições de vida eram tão precárias ali que o conjunto das tendas, que abrigavam cerca de 9.000 pessoas, foi apelidado de "selva".
O conservador visitou as ruínas dos alojamentos acompanhado da prefeita de Calais, Natacha Bouchart. O jornal local "Libération" sugeriu, com ironia, que se tratava de uma expedição arqueológica, entre as dunas desertas do antigo campo.
Ele prometeu, ali, uma "luta implacável contra a imigração clandestina", tomando as medidas necessárias para impedir o retorno dos refugiados à cidade.
A política migratória de Fillon convence seguidores como Philippe Duoz, que esteve em comício do conservador em Lille, nas proximidades.
"A migração precisa ser adequada. Precisamos de segurança", disse à Folha. "Ele é o único dos candidatos que pode lidar com a França."
Um grupo de algumas dezenas de manifestantes em Calais, porém, discordava.
Fillon foi recebido na cidade portuária por moradores vestindo máscaras de papel com o rosto dele. Eles bateram panelas durante a visita.
"A política migratória dele é uma catástrofe", afirmou Axel, 41, que se identificou como anarquista e preferiu não dizer seu sobrenome. "Eles querem colocar arames farpados e cercas."
"É uma pena que as pessoas que fogem de seus países porque são atacadas por bombas feitas na França sejam tratadas assim aqui."
CHANCES
O primeiro turno será disputado em 23 de abril entre 11 candidatos. Quatro deles, incluindo Fillon e Le Pen, estão tão próximos que institutos de pesquisa têm tido cautela em prever o resultado.
Sondagem publicada nesta terça coloca o centrista Emmanuel Macron na liderança com 23,5% dos votos. Le Pen aparece com 22,5%, seguida por Fillon, com 19,5%. O quarto colocado é Jean-Luc Mélenchon, de extrema-esquerda, com 19%. A margem de erro é de 1,4 ponto.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis