Mostra retrata famílias que tiveram parentes desaparecidos na ditadura
Reabre hoje (22) a mostra Ausências Brasil, em exposição no Arquivo Público do Estado de São Paulo, que reúne fotografias de famílias brasileiras que sofreram com a perda de um parente durante a ditadura militar.
A exposição traz fotos das famílias feitas durante o regime, ao lado de uma recriação atual da cena, feita pelo fotógrafo argentino Gustavo Germano. No novo clique, Germano tenta reconstruir o momento da primeira imagem, mas agora sem o parente morto ou desaparecido.
"Essas famílias sabem que há um sentimento permanente de presença nas ausências de seus familiares", explica Germano. "O objetivo é falar do tempo em que elas viveram com essas ausências e do tempo que as vítimas não puderam viver."
O projeto começou com o retrato das famílias de vítimas da ditadura na Argentina (1976-1984), mas logo se expandiu aos países do cone sul, palco da operação Condor - uma ação conjunta das ditaduras dos países da América Latina para prender seus opositores.
Um dos seus irmãos, Eduardo, foi um dos 30 mil mortos durante o regime. "No fundo, o que qualquer familiar de um desaparecido gostaria é de tê-lo visto envelhecer", diz o fotógrafo.
Entre os casos brasileiros, Germano retrata a família de Fernando Santa Cruz Oliveira, líder estudantil durante a ditadura e membro da APML (Ação Popular Marxista-Leninista). Nascido em Recife, Santa Cruz desapareceu em 1974, depois de ter sido preso pelo DOI-CODI no Rio.
Em maio do ano passado, o ex-delegado Cláudio Guerra disse, em depoimento ao livro "Memórias de uma Guerra Suja", que teria incinerado o corpo de Santa Cruz, e de outros 10 mortos pela ditadura, em um forno de uma usina de açúcar em Campos (RJ). A Polícia Federal abriu uma investigação sobre as declarações de Guerra.
Além de Santa Cruz, também foram retratadas as famílias dos brasileiros Ana Rosa Kucinski Silva, Alex de Paula Xavier Pereira, João Carlos Haas Sobrinho, entre outros.
Promovida pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e organizada pela Ong Alice (Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação), a exposição permanece no Arquivo Público do Estado de São Paulo até abril.
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