Em 50 mil ligações, entidade suspeita nunca discutiu trabalho real, diz PF
De 50 mil conversas grampeadas de funcionários do IMDC (Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania), a entidade sem fins lucrativos que está no centro das investigações da operação Esopo, em nenhuma há menção a serviços reais sendo prestados.
A informação está no relatório em que a Polícia Federal pede à Justiça a autorização de buscas e decretação de prisões na operação, deflagrada na última segunda-feira (9) e que apura fraudes em contratações do IMDC por prefeituras, governos estaduais e ministérios do governo federal, com alvo principal no Ministério do Trabalho.
A pasta do Trabalho, diz a PF, tinha "altos funcionários devidamente remunerados pelos serviços prestados" --referência a supostos pagamentos de propina em troca de favorecimento da entidade.
"Todos os diálogos travados entre os investigados [funcionários do IMDC] relativos a 'trabalho' diziam respeito a licitações fraudulentas, emissão de notas fiscais frias, repasses e saques de valores junto a empresas parceiras e contatos com colaboradores a fim de operacionalizar essas fraudes", diz a peça policial.
Funcionários do IMDC vinham sendo monitorados desde novembro de 2011, daí o volume de ligações. Ao menos 16 funcionários formais ou que prestavam serviços ao IMDC tiveram a prisão pedida pela PF.
O delegado que assina o relatório classifica como "impressionante" o fato de os funcionários não discutirem "prestação real de serviços" em nenhum dos diálogos captados. "Vale repetir: não foi identificada sequer uma conversa, seja entre eles ou com terceiros, que pudesse ser associada à rotina de uma empresa", diz Ricardo Barbosa, do Núcleo de Inteligência da PF em Minas.
A apuração aponta que o IMDC já recebeu cerca de R$ 400 milhões nos últimos cinco anos em recursos federais, estaduais e municipais, e que há suspeitas de desvios em todos esses procedimentos. O presidente da entidade, Deivson Vidal, 32, está preso --a PF levanta suspeitas sobre a origem do patrimônio de Vidal, que inclui mansão, carros de luxo e helicóptero.
Segundo a polícia, a suposta quadrilha envolve o IMDC, empresas, pessoas físicas e "servidores públicos de alto escalão" --ao menos 22 pessoas já foram presas, entre elas três servidores ou ex-servidores do Trabalho.
Citado em diálogos de alguns dos investigados, o secretário-executivo (número dois) da pasta, Paulo Roberto Pinto, pediu exoneração do cargo nesta terça-feira (10) sob a justificativa de "preservar a imagem" da pasta enquanto ajuda na investigação e prova sua inocência.
A reportagem tenta contato desde segunda-feira (9), sem sucesso, na sede do IMDC em Belo Horizonte e com possíveis defensores de Vidal.
Em entrevista nesta terça-feira (10), o ministro do Trabalho, Manoel Dias (PDT), disse que "em qualquer lugar tem irregularidade" e sugeriu a suspensão dos convênios da pasta com o IMDC.
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