ANÁLISE
Sob pressão, ministério de Temer apanha do microfone
Os balões de ensaio foram usados à exaustão por Michel Temer durante a montagem emergencial de seu ministério interino, mas a continuidade da prática pelos novos titulares de pastas começa a cobrar seu preço.
Sob pressão daqueles que o acusam de ilegítimo e da necessidade de apresentar um programa econômico que restaure expectativas, Temer vê sua equipe apanhar do microfone, recuando após cada entrevista.
Para ficar em dois exemplos publicados por esta Folha, Alexandre de Moraes (Justiça) foi desautorizado pelo presidente interino após insinuar mudança no modo de escolha do procurador-geral da República e, agora, Ricardo Barros (Saúde) recuou sobre a necessidade de repensar o tamanho da cobertura do Sistema Único de Saúde.
Já houve outros casos, como o vaivém sobre a necessidade da CPMF e o inevitável tema da reforma da Previdência, assuntos que mexem na base política que apoiou o impeachment.
Os fios desencapados, naturais dada a balbúrdia política de um governo que assumiu há cinco dias e encontrou uma terra arrasada cheia de armadilhas, podem dificultar ainda mais a tarefa de Temer.
Erros primários de saída, como o nariz tapado sobre os ministros investigados pela Lava Jato e a falta de diversidade de gênero e racial no gabinete, podem acabar contornados caso o objetivo central do novo governo seja alcançado: viabilizar-se com um programa econômico factível e criar condições de governabilidade no Congresso para, daí, buscar algum tipo de popularidade que hoje tende a ser quase inexistente.
A incontinência verbal de ministros, em especial quando muitos deles são parlamentares acostumados a falar liberalmente quando veem um microfone, adiciona uma carga de instabilidade que hoje está fora do controle do Planalto –e pode criar crises ainda maiores.
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