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Crônica da campanha: Incentivado por Lula e alta nas pesquisas, Haddad recupera ânimo no final

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 27-09-2016: Especial Eleicoes. Candidatos a Prefeitura de Sao Paulo. Prefeito Fernando Haddad (PT) posa para foto (em lugar a sua escolha) no terraco do predio da prefeitura de SP no centro da cidade (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Prefeito Fernando Haddad (PT) posa para foto no terraço do prédio da prefeitura de SP no centro da cidade.

"Haddad, você tem que parar de chorar. Nade contra a maré", recomendou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT).

A orientação foi uma resposta ao lamento de Haddad. Numa reunião ocorrida no dia 23, um dia após a prisão do ex-ministro Guido Mantega, o atual governante da capital paulista se queixava do peso da crise nacional sobre sua candidatura.

"Faça como eu. Nade contra a maré", repetiu Lula, quase uma semana depois de ser denunciado na Operação Lava Jato –a acusação foi aceita pelo juiz Sergio Moro no último dia 20.

Quatro dias depois da conversa no Instituto Lula –marcada a pedido do prefeito–, Haddad cumpria a diretriz. Cercado por um grupo de crianças saltitantes e de cabos eleitorais, entrou a pé no Jardim Keralux, extremo leste paulista, com ar triunfante, ainda que fora do segundo turno de acordo com as pesquisas daquela semana.

Era um Haddad sorridente, que, animado por um sutil crescimento na corrida eleitoral, engoliu um milho cozido minutos antes de prometer títulos de propriedade para moradores na área ocupada nos anos 1990 e que ainda tem ruas de terra.

Seguia mais uma orientação do partido: de investida na periferia, tradicional reduto do PT, até então ocupado pela adversária Marta Suplicy (PMDB). Naquela segunda-feira, o prefeito exibia humor melhor do que na véspera. No domingo (25), subiu, contrafeito, no carro de som durante evento no Jardim da Conquista, também na zona leste. Irritado, Lula já o esperava. O ex-presidente cobrou ânimo.

O impulso não se deveu apenas ao incentivo de Lula, mas ao tímido sucesso de uma nova estratégia, a de nacionalização do discurso. Após uma série de reuniões, Haddad foi convencido a usar a crise do país –da qual se diz vítima– contra Marta.

O prefeito se rendeu aos coordenadores da campanha, que viram no anúncio de medidas do governo Michel Temer a oportunidade para desidratação de Marta, correligionária do presidente.

Também engrossou o discurso sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que passou a chamar de golpe. No começo da campanha, ele costumava dizer que a palavra era exagerada.

O argumento da campanha foi que o eleitor não situava Haddad no espectro político. Haddad era rarefeito.

Mais relutante que o próprio candidato, a coordenadora de comunicação da campanha, Ângela Chaves, acabou concordando com a ideia. Marta caiu.

Os colaboradores petistas insistiram para que o prefeito também se dedicasse à desconstrução de João Doria (PSDB). Lembrando o tempo destinado ao adversário tucano na rádio e na TV, o maior entre os candidatos, Haddad argumentou.

"Não tenho fôlego para desconstruir dois candidatos", afirmou.

Em vez de apostar no horário eleitoral, o petista de 53 anos buscou apoio na juventude. Estimulado pelo filho, Frederico, e por jovens de sua equipe, obteve suporte de movimentos como Levante e Liga do Funk. Seus apoiadores engrossaram um mutirão para a ocupação da periferia no fim de semana.

Do último domingo para cá, Haddad passou a ter mais presença "nas quebradas" da cidade. Foi também a Cidade Tiradentes (leste), Perus e Parque Novo Mundo (norte) para reconquistar o eleitor mais pobre e reverter os índices de votação nessas áreas.

Até o início da semana passada ele tinha cerca de 8% dos votos entre os que ganham até dois salários mínimos, segundo o Datafolha. Líder nas pesquisas, Doria, por exemplo, marcava 22% dos nessa faixa salarial.

Mais incisivo contra Marta, Haddad também associou Doria e Celso Russomanno (PRB) ao presidente Temer e à proposta de 20 anos de congelamento de gastos sociais.

"Se isso acontecer, nem adianta fazer promessa que não vai ter dinheiro para cumprir", repisa Haddad em seus compromissos públicos.

Apesar da conexão dos adversários ao governo Temer, Haddad não levou o depoimento de Lula nem da ex-presidente Dilma Rousseff à propaganda eleitoral. Haddad não economiza críticas a Dilma. E, diante de risco de panelaços, a participação de Lula não foi levada ao ar, apesar de ter sido gravada. Foi o próprio ex-presidente que sugeriu que a exibição fosse revista após o crescimento de Haddad nas pesquisas.

Em suas últimas aparições no horário eleitoral, o candidato mostrou seu lado "humilde", nas palavras do próprio locutor: do professor universitário que vive até hoje no mesmo apartamento que comprou graças às aulas na USP. Além de confrontar Doria –que declara um patrimônio de R$ 180 milhões– Haddad se apropriava da tática tucana de fugir da pecha de político profissional.

PRESTAÇÃO DE CONTAS

Embora a campanha tenha começado oficialmente em 16 de agosto, Haddad ocupou as semanas anteriores ao início do pleito com reuniões organizadas por vereadores nos bairros da cidade.

Nelas, apresentou o candidato a vice, o secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita (PDT), e fez prestações de contas do mandato.

Listou as realizações de seu governo, elencando a criação de 100 mil vagas em creches, a instalação de luz de LED (que iluminam mais e são mais baratas) em bairros pobres e obras de construção de hospitais.

Ao longo da campanha, disse ter debelado casos de corrupção na administração e dado fim à carnificina no trânsito às custas da redução de velocidade na cidade.

O inventário tem alvo claro: se não garantir a reeleição, serve para reduzir a rejeição ao prefeito, hoje em 45% na pesquisa Datafolha do último dia 1º.

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