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Temer tenta passar imagem neutra nas eleições

Alan Marques/Folhapress
O presidente em exercício, Michel Temer (PMDB)
O presidente em exercício, Michel Temer (PMDB)

Enquanto a cúpula do PT e o ex-presidente Lula se empenham para reduzir os danos de uma derrota que pode ser acachapante para o partido, o núcleo do governo Michel Temer se esforça para passar a imagem de neutralidade nas eleições municipais.

A narrativa do Palácio do Planalto contou com orientação direta do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Antes do início da campanha oficial, em agosto, ministros receberam recomendações do braço direito de Temer sobre o comportamento na disputa.

A lista contava com itens como não subir em palanques onde houvesse enfrentamento de candidatos de diferentes partidos da base aliada, na tentativa de evitar um racha entre as 18 siglas que apoiam o governo.

Nem os mais próximos seguiram à risca a cartilha. Integrantes do primeiro escalão do Planalto não deixaram de atuar em regiões de sua influência, como o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que viajou à Bahia nas últimas semanas para participar de campanha e gravar depoimentos para candidatos.

"Não se podia imaginar que [um ministro] fosse ficar fora da campanha. Não gravei para nenhum Estado fora Bahia. Aqui, sou líder político. Faço política dentro da base a que estamos vinculados. Entro em bola dividida", disse à Folha, minimizando eventual prejuízo de sua participação em cidades onde legendas da base se enfrentam.

Geddel, que em Salvador apoia a reeleição de ACM Neto (DEM), afirmou não ter havido nenhum tipo de monitoramento da atuação dos auxiliares de Temer. "Ministro não precisa de babá."

Na prática, porém, a vista grossa do Planalto aos ministros que atuaram como cabo eleitoral permitiu episódios como o que envolveu o titular da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR). A Folha revelou que ele fez promessas vinculadas ao governo em atos de candidatos no Paraná e participou de eventos de campanha em dias de agenda oficial.

O esforço velado do Planalto é para manter ou ampliar sua base pelo país, mas o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), diz não estar preocupado com mudanças no apoio a Temer.

"Não vejo possibilidade de redução da base. O governo vai sair fortalecido sem participação direta porque a base vai fazer a maioria dos prefeitos. O povo não quer eleger o PT", afirmou Moura.

O líder do governo não seguiu a orientação da Casa Civil e fez campanha para a mulher, Lara Moura (PSC), candidata a prefeita de Japaratuba (SE). Em um dos comícios, disse ser "o único cara de Sergipe" capaz de "distribuir" casas no Estado. Entre os adversários de Lara está o atual prefeito do município, Hélio Sobral, candidato pelo PMDB, partido de Temer.

Com a imagem desgastada pelas investigações da Lava Jato e o impeachment de Dilma, o PT tenta manter alguma influência nas eleições municipais para ter fôlego na disputa de 2018. A sigla, porém, encolheu em 45% o número de candidaturas em relação a 2012- hoje são 971 candidatos petistas a prefeito ante cerca de 1.700 há quatro anos.

"O 'golpe', a criminalização do PT e o ataque ao presidente Lula, tudo isso tem muito impacto", disse Florisvaldo Souza, secretário de Organização do PT.

Para ele, o encolhimento petista se deu porque o mês da janela eleitoral, período em que é permitido o troca-troca partidário, foi no período de votação do impeachment na Câmara e da condução coercitiva de Lula em um inquérito da Lava Jato.

"Teve muita gente que poderia ser candidato mas acabou se assustando e saindo do PT", afirmou Souza.

Em 2012, o PT elegeu quatro prefeitos de capitais mas, este ano, caso não haja um fator surpresa com Fernando Haddad, que disputa a ida ao segundo turno em São Paulo, esse número cairá para apenas um, em Rio Branco.

O partido conta ainda estar no segundo turno de outras duas capitais, Recife e Porto Alegre, mas dirigentes avaliam que a performance não será "nem próxima" daquela de quatro anos atrás.

A cúpula petista reconhece a derrocada eleitoral iminente, mas avalia que este deve ser o ponto de partida para a renovação do discurso e da direção do partido.

A ideia é antecipar para março as eleições internas, que deveriam acontecer somente no fim do ano, e se reaproximar da juventude, dos movimentos sociais e sindicais, berço do PT.

A avaliação é que o encolhimento servirá de "lição" para reorganizar a sigla e investir em novas lideranças, principalmente se Lula for condenado -ele é réu na Lava Jato-e ficar inelegível para disputar a eleição em 2018.

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