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Chefe da ONU chama planos de expansão de combustíveis fósseis da indústria de petróleo e gás de 'destruidores do planeta'

António Guterres mira anfitriões da COP28 dos Emirados Árabes Unidos dizendo que captura de carbono prejudica a agenda climática

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Attracta Mooney Camilla Hodgson
Financial Times

O secretário-geral da ONU, António Guterres, atacou as tentativas da indústria de petróleo e gás de justificar a expansão dos combustíveis fósseis com a tecnologia de captura de carbono como "propostas para se tornarem destruidores do planeta mais eficientes", num discurso que pareceu uma crítica velada aos Emirados Árabes Unidos, anfitriões da COP28.

Os planos declarados pela indústria para lidar com as emissões que causam o aquecimento global principalmente por meio da captura, em vez da eliminação gradual da produção, estão solapando a agenda climática, disse Guterres.

O presidente designado para a COP28 dos Emirados Árabes Unidos, Sultan al-Jaber, que também é o chefe da empresa estatal de petróleo, Adnoc, tem refletido consistentemente a visão da indústria de que o foco deve ser para o controle das emissões.

Secretário-geral da ONU, António Guterres
Secretário-geral da ONU, António Guterres - Thomas Mukoya - 03.mai.2023/Reuters

"Vamos encarar os fatos. O problema não são simplesmente as emissões de combustíveis fósseis. São os combustíveis fósseis, ponto", disse Guterres. "Estamos caminhando para o desastre de olhos bem abertos, com um número excessivo de pessoas dispostas a apostar tudo em pensamentos positivos, tecnologias não comprovadas e soluções mágicas."

Guterres observou que, para cada dólar que a indústria gasta em perfuração e exploração de petróleo e gás, apenas 4 centavos vão para energia limpa e captura de carbono combinadas. "Trocar o futuro por 30 moedas de prata é imoral", disse.

Ele acrescentou na quinta-feira (8) que seus comentários "não foram dirigidos a nenhum indivíduo", mas são um apelo "àqueles que têm o poder de mudar", instando as empresas de combustíveis fósseis a mudarem todos os seus negócios para energia renovável.

Os comentários vêm cinco meses antes de os EAU sediarem a COP28 em Dubai, comandada por Jaber. Mais de 130 legisladores dos Estados Unidos e membros do Parlamento Europeu escreveram a funcionários da ONU e outros no mês passado para solicitar que os Emirados retirassem Jaber do cargo, argumentando que sua posição como chefe da estatal petrolífera arrisca "minar as negociações".

A metade do caminho para a COP28 foi marcada na quinta-feira em Bonn, na Alemanha, com a conclusão das discussões sobre uma agenda. Os países ficaram num impasse até o penúltimo dia, quando finalmente chegaram a um acordo sobre quais temas serão postos em discussão na COP28.

Embora a UE tenha proposto um item da agenda sobre o trabalho para reduzir as emissões, ele acabou não sendo incluído após a resistência de um grupo de países produtores de petróleo e gás, incluindo a Arábia Saudita. Em vez disso, as discussões sobre o assunto em Bonn serão registradas em uma "nota", para auxiliar nas conversas na COP28.

O copresidente das negociações em Bonn, o paquistanês Nabeel Munir, a certa altura alertou os negociadores de que todo o seu trabalho seria desperdiçado se não fosse adotada oficialmente uma agenda, acusando-os de agir como uma "turma de escola primária". O embaixador, cujo país foi devastado por inundações, pediu-lhes que "por favor, acordem, o que está acontecendo ao seu redor é inacreditável".

Um resultado notável em Bonn foi a decisão da ONU de exigir que todos os participantes em futuras COPs do clima divulguem suas afiliações. Isso ocorre após anos de pressão de ativistas exigindo maior transparência nas negociações climáticas da ONU sobre o lobby da indústria de combustíveis fósseis.

O progresso em Bonn é considerado um marco importante nas negociações antes da COP28. Especialistas climáticos esperavam que a presidência dos Emirados Árabes Unidos delineasse sua visão para a cúpula de Dubai, e expressaram desapontamento na quinta.

Embora Jaber tenha dado um passo adiante ao dizer numa reunião em Bonn que a redução gradual dos combustíveis fósseis é inevitável, isso não incluiu um cronograma ou um plano para encerrar a nova produção de petróleo e gás.

Se a presidência da COP28 permitirá que os países tenham uma "discussão aberta e transparente" sobre incluir no texto final da decisão da COP um compromisso de reduzir gradualmente os combustíveis fósseis, continua sendo a pergunta principal, disse Alden Meyer, do grupo de estudos 3G.

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