Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.
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Não precisa segurar o jornal invertido, nem girar o celular. Começo pelo fim. Pelo que costuma estar no rodapé das páginas: leitores e seus comentários. Trata-se de uma coluna de cabeça pra baixo. Ou seria "de ponta-cabeça", Folha?
Hoje pode. Todo mundo curtindo a ressaca moral e alimentar do Natal. Ninguém vai ler isto aqui, então bora esconder o manual e quebrar algumas regras. Entre elas, a de que a crônica jamais fala sobre si mesma. Tipo uma metachatice.
Aproveito e já peço perdão ao imortal colega Ruy Castro, bem como a todos os ídolos da pena e do tec-tec ao teclado. Quero falar francamente com quem saiu vivo dos amigos ocultos. Das meias de presente. Das piadas sobre peru e pavê. E parou aqui sem querer.
Fique à vontade, mas não tanto. Leitor de jornal é espécie cada vez mais rara. Tem gente que nunca viu, apenas sabe que existe. Um pessoalzinho excêntrico que gasta horas correndo a vista por letrinhas, enquanto entorna um líquido preto. Ao final da leitura, dedos da mesmíssima cor.
Outro tipo nem pega em papel, porque prefere notícia em pixel. Zeros e uns. Não tem senha? Não fez login? Ai, que saco. O jeito é ficar no título.
Dos que vão adiante, alguns me visitam perto do sudoku e das palavras-cruzadas. Baita honra, tá? Porque quando o noticiário aperta —alô, primeiro caderno, bom plantão aí...—, existe o alívio de não ser escapista sozinho.
Faço sala para assinantes peculiares, cujos nomes adoro reencontrar. Eles adiam a próxima leitura só para deixar um recado, um elogio, um vrau. Dialogam dentro da mesma caixa de comentários, abrindo hiperlinks de assunto. Alguns trocam dicas e fogem do tema, criando uma happy hour embaixo do meu ponto final. Dá vontade de pedir uma pizza.
Este ano, os comentadores me ensinaram sobre caligrafia spenceriana e esclareceram que Chevette ronca menos que Fusca. Comoveram-me relembrando primeiros crushes e livros proibidões entocaiados em guarda-roupa de madrasta, bem como desejaram-me saúde num texto com piadas que tapeavam real preocupação.
Fui xingada também, ao escrever sobre um bebê vampiro fugitivo da polícia. E por ter sugerido a múmia da Evita como roommate da Dercy Gonçalves em sua pirâmide de cristal. O importante, contudo, é ser lida. De qualquer jeito. Cada um no seu quadrado e o meu, com sorte, pertinho da Laerte.
Então, já que está tudo invertido mesmo, encerro com o título que usaria para abrir e agradecer de coração: "Feliz Natal ao leitores de jornal".
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