Siga a folha

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

A fraude do voto impresso

A sociedade precisa rechaçar o movimento golpista no nascedouro

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Noventa vezes. É o número de ocasiões em que Bolsonaro falou sobre fraude eleitoral desde maio, mais de uma por dia. A verborragia presidencial é mais do que um simples desvio de foco dos 550 mil mortos e de gente em filas para pegar osso. É parte decisiva de sua estratégia.

Precisamos limpar campo. A questão principal não é o mérito: é legítimo que se discuta o sistema de votação no Brasil, e o voto impresso é uma das alternativas, adotada em outros países. Particularmente, acredito que ela facilite fraudes, em vez de dificultá-las. Mais do que isso, facilita a fotografia do voto pelo próprio eleitor para comprovação que só interessa a quem promove voto de cabresto. Mas não é esse o debate. Ou alguém acha que Bolsonaro está de fato preocupado com a transparência da democracia brasileira?

Charge de Laerte publicada na Folha em 25.mai.2021 - Laerte/Folhapress

A narrativa bolsonarista visa deslegitimar o processo eleitoral. Não por acaso ele intensifica o discurso justamente no momento em que seu governo tem pior aprovação e todas as projeções apontam sua derrota em 2022. Na verdade, ele não quer voto impresso, quer um pretexto. Que poderia ser qualquer outro, tanto é que nos EUA —onde o sistema de votação é impresso— ele foi o primeiro a denunciar "fraude" contra seu amigo Donald Trump.

Bolsonaro segue os passos de Trump, com mais antecipação e maior risco. Denuncia a "fraude" com um ano e meio de antecedência e prepara seu próprio Capitólio. A narrativa arma seus apoiadores para manter vivo o bolsonarismo mesmo com derrota de Bolsonaro. É preciso reconhecer que ele foi capaz de organizar um movimento ideológico de extrema direita, com capilaridade social, que só tem paralelo na história brasileira com os integralistas de Plinio Salgado. É isso o que ele quer preservar.

Mas a aposta é mais alta. Se conseguir trazer para o jogo setores das Forças Armadas e das polícias militares —onde tem inegável influência—, pode provocar um cenário de caos, que colocará o Brasil no caminho do golpe. Suponhamos que Bolsonaro chegue até a eleição de 2022 e seja derrotado. E que altos oficiais do Exército e das polícias ponham em xeque o resultado. Como os quartéis reagirão?

Por isso a pressão do general Braga Netto sobre o Congresso e sua nota em defesa do voto impresso são tão graves. A sociedade precisa rechaçar o movimento golpista no nascedouro. As manifestações de rua cumprem importante papel de contraponto. O Parlamento tem que convocar o ministro da Defesa para esclarecimentos. Todas as instituições e forças democráticas têm o dever de se posicionarem, sob a pena de cair na vala da covardia histórica. Ou desmoralizamos o golpismo ou seremos devorados por ele.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas