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Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa.

Pintar Israel como o maior vilão internacional é antissemitismo secundário

É necessário, porém, criticar a ambição lunática de reservar Jerusalém como capital exclusiva do estado judaico

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Israel e o Hamas chegam a um cessar-fogo e eu suspiro de alívio. Mais uns dias de guerra e eu teria que escrever a respeito. Para repetir —ó miserável Coutinho!— que Israel não é obrigado a receber os rockets do Hamas de braços abertos.

Depois, nesse bailado mais ou menos previsível, lá viriam as críticas severas ao meu sionismo militante, com leitores ou colegas lembrando quem roubou a terra a quem, quem é genocida, quem deveria estar no inferno, etc.

O cessar-fogo, obviamente temporário, é uma bênção para todas as partes: israelenses, palestinos e este vosso criado.

Existe um ponto, porém, que não cessa de me espantar: por que motivo o conflito israelense-palestino desperta um interesse avassalador no auditório, absolutamente incomparável com qualquer outro conflito?

E, já agora, porque motivo Israel é visto por uma boa parte da “intelligentsia” progressista como o maior vilão internacional?

Faço essa pergunta com total boa fé. Não sei quantos conflitos territoriais estão atualmente em exibição. Mas era capaz de apostar que o conflito israelense-palestino não é o único.

E, no entanto, até parece que é. Como lembra Brendan O’Neill na Spectator, a Turquia passou as últimas três semanas a bombardear os curdos no norte do Iraque. Houve mortos, feridos, deslocados. E silêncio, muito silêncio na mídia e nas redes. Os curdos não são gente?

Parece que não. Nem os curdos, nem os tchechenos, nem os uigures. O que permite concluir que as brutalidades da Turquia, da Rússia ou da China são invisíveis quando comparadas com as ações de Israel.

Honestamente, nunca encontrei uma resposta satisfatória para essa discriminação. Exceto a mais óbvia: “antissemitismo secundário”. O conceito foi forjado pela Escola de Frankfurt e expressa a necessidade visceral de culpabilizar a vítima por um crime inominável.

Esse crime, claro, é o Holocausto —um golpe tão radical na consciência da Alemanha, e da Europa, e do Ocidente, que ainda não cicatrizou por completo.

A obsessão com o conflito israelo-palestino, uma obsessão desproporcional quando comparada com qualquer outro conflito, é apenas mais uma manifestação desse “antissemitismo secundário”.

Se conseguirmos ver os judeus como carrascos monstruosos (os novos nazistas, certo?), poderemos finalmente suspirar de alívio e mitigar a nossa culpa histórica.

“Vejam só como eles são iguais a nós”, eis o sonho úmido do antissemita secundário.

Sim, leitor, criticar Israel é legítimo e até necessário. A construção de assentamentos na Cisjordânia; a ambição lunática de reservar Jerusalém como capital exclusiva do estado judaico; e o descaso com o “status quo” dos palestinos e do próprio processo de paz são algumas dessas críticas possíveis.

Mas, antes de as proferir, tome cuidado. E pergunte primeiro quem está aos comandos da sua racionalidade.

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