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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

'Rensga Hits' seria melhor se a Globo tirasse os vícios da TV aberta do streaming

Hesitando entre os dois universos, emissora segue como negócio peculiar e reduz impacto de boas séries

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A grande oferta hoje de séries, filmes e documentários nas plataformas de streaming expressa, de certa maneira, a busca por um alvo desconhecido. Mesmo dispondo de mais informações do que nunca sobre os hábitos de consumo dos espectadores, procura-se atrair a atenção deles sem saber exatamente o que desejam ver.

Grandes acertos, como "Round 6", frequentemente ocorrem por acaso, para surpresa do mercado. A estranha série sul-coreana se tornou uma campeã de audiência global sem que os executivos da Netflix tenham, realmente, entendido por quê.

Cena de 'Rensga Hits!', série da Globoplay sobre feminejo - Globoplay/Divulgação

O investimento em conteúdo de empresas como Netflix, Disney, Discovery e HBO tem ultrapassado anualmente a casa dos bilhões de dólares sem que se enxergue, no curto prazo, retorno equivalente desses investimentos. Os gastos acima das receitas são entendidos, entre outros motivos, como uma forma de ocupar um espaço no mercado.

Nesse ambiente de negócios, o lugar da Globo é muito peculiar. A empresa tem investido pesadamente em sua plataforma, Globoplay, assim como fazem as concorrentes. Mas, ao mesmo tempo, segue líder absoluta na TV aberta, um ramo visto como ultrapassado, embora ainda responsável por receitas muito relevantes.

Outro grande diferencial da Globo em relação aos concorrentes estrangeiros é o seu conhecimento sobre o mercado brasileiro. A empresa desde cedo entendeu o valor do seu acervo, com conteúdos antigos, como novelas, já testados com sucesso na televisão aberta, e que ela não licencia para outras plataformas, valorizando-os como "exclusivos".

No caso dos lançamentos, vejo o Globoplay atuando de forma semelhante aos seus concorrentes, ou seja, atirando em todas as direções, buscando entender o gosto dos assinantes. Três casos recentes indicam que a empresa enxerga a necessidade de oferecer ao assinante do streaming conteúdos que no passado recente seriam dirigidos ao consumidor da TV aberta, que assiste sem pagar nada.

A quinta temporada da atração médica "Sob Pressão" e as séries "Filhas de Eva" e "Rensga Hits", todas lançadas originalmente no Globoplay, são produções com excelente padrão de produção, claramente dirigidas a um público que busca atrações mais simples e fáceis de assimilar, como a maior parte das novelas da própria Globo. A mensagem, equivocada, parece ser: a TV aberta já era; assine o streaming.

Sobre a recente "Rensga Hits", em particular, é preciso destacar algumas qualidades, a começar pela temática, que transparece um raro frescor. A série é ambientada em Goiânia, em torno dos bastidores da indústria musical dedicada ao "feminejo", subgênero do sertanejo dominado pelas mulheres.

Com um roteiro que se equilibra muito bem entre comédia e drama, nos primeiros quatro episódios já postos à disposição, "Rensga Hits" tem explorado boas tramas, como a disputa nem sempre honesta por letras e canções originais, o esforço de construção de imagens públicas que não correspondem às características reais dos artistas, além do machismo e da homofobia que ainda vigoram neste ambiente.

"Rensga Hits" conta com elenco que foge ao óbvio entregando ótimos desempenhos. São os casos, para citar apenas quatro, em um grupo realmente muito bom, de Alice Wegmann, Lorena Comparato Maurício Destri e Mouhamed Harfouch.

O que aproxima "Rensga Hits" de "Filhas de Eva" e "Sob Pressão" são os aspectos novelescos, melodramáticos, da trama, desnecessários numa produção destinada a um mercado baseado em assinaturas, mas essenciais, talvez, na TV aberta. Ao não saber exatamente para quem quer mostrar a série, a Globo acaba retirando parte de sua força.

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