Siga a folha

Empreender no Brasil para implementar mudanças reais, é um sonho possível?

Instituições que atuam com empreendedorismo de impacto enfrentam dificuldades na obtenção de recursos para crescimento e escalada

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Sabine Zink

CEO e co-fundadora da SAS Brasil. Educadora Física pela Unicamp, com mestrado em Educação Física pela mesma universidade.

Adriana Mallet

Médica, CMO e co-fundadora da startup SAS Brasil. Foi eleita empreendedora social do ano pela Fundação Schwab em 2022

São Paulo (SP)

Quem nunca ouviu a expressão de que empreender no Brasil não é para os fracos? Vivemos em um país burocrático e complexo do ponto de vista de regulamentações, impostos e legislações. Empreender socialmente, é ainda mais desafiador, isso porque as organizações do terceiro setor navegam em um ambiente repleto de particularidades.

São diferentes títulos, associações, qualificações e certificações. Cada uma com seus benefícios e regulações específicas. O contexto é altamente incerto e complexo.

Voluntários trabalham na montagem de carreta de apoio às ações da SAS Brasil, ONG que leva atendimento médico a pessoas em vulnerabilidade - Divulgação

À frente da gestão de uma organização do terceiro setor há 10 anos, me pergunto qual negócio prosperaria dentro das condições que experimentamos diariamente como empreendedores.

Imagine a seguinte situação: uma instituição sem fins lucrativos que há sete anos tem uma conta em um dos maiores bancos do país. Com as atividades auditadas pela KPMG, uma prestação de contas impecável e um histórico sem dívidas e sem "ficar no vermelho". É o cenário ideal para acessar uma linha de crédito, certo?

Essa não é a realidade que a SAS Brasil, startup social sem fins lucrativos com a missão de levar saúde especializada para quem mais precisa, tem vivenciado. Mesmo tendo os requisitos, até hoje não foi possível ter um cartão de crédito da instituição.

Acessar uma linha de crédito é inviável se você é uma organização sem fins lucrativos, conforme a política daquela instituição financeira.

Mesmo com esse desafio nós prosperamos. Mas foi com muito trabalho, sangue, suor e lágrimas. A vibração vem a cada patrocínio e a cada doação conquistada. O empenho é para gerar impacto na ponta e ser transparente com os apoiadores.

Mas o que fazer quando chega a hora de dar um passo além? Sejam startups ou organizações privadas com fins lucrativos, em algum momento, chega a hora de escalar.

Muitos empreendedores ou empresários já se depararam com esse momento: o modelo de atuação está validado, a operação alinhada, o benefício gerado constatado, o custo mapeado e o controle de qualidade estabelecido. O próximo passo é crescer.

Qual caminho as organizações geralmente usam? Buscar crédito ou encontrar investidores, oferecendo equity como contrapartida.

Para uma organização do terceiro setor nenhum desses caminhos é simples. É por isso que marcos como a resolução da ONU em 18 de abril de 2023, validando a importância da economia social para o atingimento das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são tão relevantes.

A determinação busca fortalecer o debate sobre a economia social em políticas públicas nacionais, movimento que já vem acontecendo no Brasil. Não só isso, mas tem também o efeito de convocar bancos de desenvolvimento e instituições financeiras a se estruturarem para fortalecer a economia social e solidária, ao invés de dificultá-la com burocracias e barreiras que tornam o acesso a recursos uma batalha.

Outro movimento importante é o crescimento de iniciativas como a Venture Philanthropy, mais consolidada fora do Brasil e que vem ganhando força nos últimos anos.

A proposta é a de juntar estratégias do mundo de investimento tradicional, como processos cuidadosos de diligência, avaliação de indicadores de resultado e definição estratégica de alocação de recursos. Isso significa, somar o know-how do mundo de investimentos ao conhecimento de organizações sociais. Ao invés de priorizar o retorno financeiro, priorizar o retorno socioambiental.

Este é um momento fértil para fazer com que o Brasil se torne referência nesta mobilização de impacto. A força do movimento ESG no contexto de organizações privadas, a relevância das ODS para os países membros da ONU.

O fato de sermos um país que detém recursos naturais e a possibilidade de se tornar referência em políticas ambientais, trazendo recursos nacionais e internacionais.

O cenário é tão positivo que talvez não teremos outra chance como esta para estruturarmos políticas públicas, incentivos financeiros e regulatórios para que as organizações de impacto se tornem os pivôs da transformação sócio ambiental de que o país e o mundo tanto precisam.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas