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No topo do Everest, o fundo do poço

Fila e mortes refletem um turismo desembestado por ganância e corrupção

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O Himalaia é como uma régua do mundo, apontou o poeta Kalidasa. Por tal métrica, estamos mal.

Ponto culminante do megaconjunto de montanhas e também do planeta, o Everest acumula 11 mortes nesta temporada de subida, uma das mais trágicas desde que Edmund Hillary e Tenzing Norgay atingiram o topo pela primeira vez, em 1953.

Diferentemente de 2015, quando 19 pessoas morreram numa avalanche pós-terremoto, o problema desta vez reside mais nos humanos do que na natureza incontrolável. 

A janela de escalada agora transformada em abatedouro reflete um turismo desembestado por ganância e corrupção.

O acesso principal ao Everest fica no Nepal, um dos países mais pobres do mundo. Só neste ano, cerca de 800 montanhistas tentaram a subida por este caminho. 

Delas não tem sido exigida nenhuma grande prova de experiência, e são pessoas que terão de vencer um corredor batizado de “zona da morte” —há relato sobre gente que não sabe nem colocar o calçado utilizado para a escalada. São exigidos, isso sim, muitos dólares: US$ 11 mil de licença para o governo mais gastos feitos no local que podem escalar além dos US$ 50 mil, numa aventura que chega a durar dois meses.

À falta de controle somam-se esquemas de fraude, que incluem o uso desnecessário de resgates, inclusive após o envenenamento de turistas por donos de casas de chá.

Tem ainda a poluição. Os humanos levaram sua bagunça lá para o alto, e toneladas de lixo foram retiradas da montanha nos últimos anos.

O descaso não poupa nada. Largado pelo caminho, o corpo de um alpinista morto décadas atrás acabou batizado de “botas verdes” e transformado em marco de medição.

Toda essa roda é movida pelo “bichinho da montanha”, na feliz definição de Juarez Soares, brasileiro que subiu o Everest neste mês. Mas é outro bichinho, o humano, que empurra a história do Everest ladeira abaixo.

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